segunda-feira, dezembro 28, 2009

Ela carrega entre os seios um segredo que não pode contar pra ninguém. No meio do decote perfumado, fica um pedaço de papel amassado escrito o motivo pelo qual ela hoje está aqui. Quando o tempo esquenta, Ela transpira e transforma esse intervalo entre os seios em um pequeno oásis no qual Ele, ávido, pretende chegar, ultrapassando suas pernas, sua barriga e buscando a primeira gota de água que lhe cabe daquele suor.

Quando Ela cansa de guardar o seu segredo, abre o soutien e o joga bem longe. O pequeno pedaço de papel desprende-se da pele quente e rola: primeiro pelas costelas, depois pela barriga, fazendo uma pequena curva enquanto passa pelo umbigo. O papel segue seu caminho pela sua bacia, pela virilha, pelas coxas, roçando a sua mancha da coxa esquerda, passando pela cicatriz do joelho, pela tatuagem da perna esquerda, pelo peito do pé, pelos dedos; no dedo e no chão.

Quem vê a patética cena fica se perguntando o porquê d’Ela de guardar um segredo assim, sem sete chaves, em um lugar quase exposto ao sol. Ela nunca responde e sorri, redobrando mais uma vez o velho papelzinho, que às vezes fica em forma de pergaminho e outras em forma de envelope, dando-lhe leves cócegas quando, por acaso, encosta-lhe o mamilo.

O pedaço de papel escrito só é lido por Ele, nas noites quase escuras em que ele aparece no quarto dela. O papel é sempre aberto delicadamente, por medo que rasgue, afinal, em teoria, é um segredo. Quando Ele chega, Ela logo tira a blusa abaixando o tronco e oferecendo seios a ele, como a pedir que por favor tirasse do peito dela aquela responsabilidade. E assim o faz. Ele tira o papel, abre e lê despreocupadamente. Amassa e lança longe enquanto segue beijando o pequeno risco que o papel, depois de horas, deixa entre os seios dela. Depois de beijá-La meticulosamente, sobe a sua boca até a altura da boca dela e, em forma de um gemido surdo, pede desculpa por não ter vindo antes e por ter jogado fora seu segredo. Não obstante, lembra-a de mais uma coisa: aquilo, Ele sempre soubera.

sábado, dezembro 26, 2009

Então você cobriu com sonhos, enquanto eu passo frio, daquele frio triste de quem fica acordado sem conseguir dormir por muito tempo . Você me fez trocar o dia pela noite e viver tua realidade no meu momento. Você desculpou o meu cabelo despenteado e sorriu para minha falta de tato. Você me abraçou no escuro e no meio da multidão. Você andou desse lado. Assim, a minha esquerda, tirando qualquer dúvida que aparecesse sobre o meu sorriso, sobre o meu batom, sobre nós dois e medo do mundo. Você me deu calma, flores, fotos. Você apareceu com os seus suspensórios encontrados no meio da rua e me levou para tomar uma cerveja, um banho, um rumo. Você, hoje, me dá saudade, me dá sopa, me dá juízo. Você cansa o meu cansaço e chora a minha tristeza, aprendendo devagar a amar o que eu amo. Há em você (e só em você) alguma razão para eu não voltar para caminhos tortos e escolhas ao acaso, para não cortas mais os cabelos e para nunca mais preferir estar sozinha. Você suspira a minha angústia, perdoa as minhas desculpas. Você é o meu vício secreto, meu mote, meu motivo, por quem eu sento e escrevo. Você me descreve, me despe, me veste de desejo. Você viu que eu sinto medo, às vezes. Você viu que eu não paro, nunca. Você segura a minha mão na tua, e, assim, com você e meus óculos escuros eu encaro o mundo. Você me segura com força na cintura, e assim, com um batom vermelho eu zombo do mundo...
Você é quem a Marcella ama. Você é quem a Rosa respira...

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Hoje eu não quero comemorar o Natal. Eu não sou a mulher que eu queria ser, não realizei nenhum sonho, não fiz ninguém mais feliz. Não montei a árvore pela primeira vez em duas décadas e não separei uma roupa bonita para essa noite. Hoje, especialmente hoje, eu não quero comemorar o Natal, porque não tem mais vovó e eu não acredito em Papai Noel, nem em Paz e harmonia entre qualquer tipo de pessoa. Pessoas pressupõem desarmonia, desamor, desespero. Ninguém fez questão de entender os meus problemas e eu não perguntei a ninguém se tá tudo bem. Hoje eu não quero comemorar o Natal porque eu não tenho certeza o que é o Natal e nem porque as pessoas mentem amor por uma noite e esquecem todas as outras noites em que amor faz mais falta. Hoje é muito fácil parecer gentil, respeitar as pessoas porque convém atuar como no comercial em que o sorriso é mais clichê que nozes e peru em ceia de Natal. Eu sempre gostei da data capitalista, gostei das tradições idiotas e das pessoas falsamente felizes. Era a minha noite de utopia. Hoje eu não quero comemorar o Natal e justamente por isso eu vou colocar o meu vestido vermelho e verde, vou limpar os olhos inchados e desejar Feliz Natal o mais sincero que eu puder. Hoje eu preciso comemorar o Natal.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Cortei a manga do jeito que você me ensinou. Sem descascar, cortando os pedaços em quadradinhos que eu arranco com os lábios, que é pros fiapos não prenderem nos meus dentes. Eu sorri porque eu sabia que tinha fiapos nos meus dentes e que você teria tentado passar a unha neles para arrancar.

Eu lembro bem das cores das suas unhas compridas. Sua mão toda pintada e aquele anel dourado que eu achava lindo. Que eu ainda acho lindo. Você me ensinou a pintar as unhas, e a comer a manga desse jeito. Cheiro de manga rosa me faz pensar em você. Eu tenho tanta saudade.

Agora eu deito no sofá, como se fosse no seu colo pra fingir que você vai procurar piolho na minha cabeleira. Eu fingia que não gostava, mas adorava que você fizesse cafuné, porque sabia que não tinha piolho ali. Fazia barulho com a boca, tic: “matei um”.

Eu to com a boca suja de manga rosa e ninguém veio me limpar e dizer que são lindos os meus olhos de jaboticaba. Jaboticaba colhida depois do orvalho. Molhada…

Vou rezar pra Santo Antônio, que você tá do lado agora e dormir como se a gente ainda morasse junto lá em Ribeirão Preto e você fosse me contar a história do menino jesus e do dia que ele transformou água em vinho, igual você que me transformou em gente. Boa noite, vó.

terça-feira, setembro 08, 2009

Maria nasceu quando a barriga da mãe nem tinha formato de ovo gigante. A Páscoa, mesmo, tinha passado e Maria, apressada, nasceu no mês de maio, já que ser taurina era bem melhor que nascer no mês do tal santo casamenteiro. Maria não podia ser dessas mulheres com jeito de virar Santo Antônio, que casar num era bem com ela, não. Maria, ainda que antes da hora, nasceu grande: menor do que o pai esperava e maior do que a mãe queria. Ai! Gritou a mãe, e Maria saiu pro mundo chorando e rindo, como seria o resto da vida. Maria era mais feliz quando o pai esticava os braços e subia com ela no colo. Ela ficava lá no alto, no colo do homem mais bonito do mundo. Depois ela ia descobrir que José não era assim tão alto, mas ainda assim era lindo, o homem mais bonito do mundo. Ele alimentou Maria e Maria José mastigou, ruminou e vomitou o mundo. Nunca mais parou de comer vida.

Maria cresceu achando que essa coisa do mundo girar não era muito a toa e um dia ficou girando as horas todinhas pra entender os motivos do mundo. Lia, que era a melhor mãe do mundo, e portanto, devia entender, disse que o mundo, esse que gira, não tem motivo pra girar. Lia sabia das coisas, até quando Maria ficava triste. Então, Marilia aprendeu que o mundo era mesmo desmotivado e não tinha porquê. Parou de girar, que ela, Marilia, andava precisando de motivo.

Chegou um dia que Ele chegou. A verdade é que um dia Ele chegou mesmo e ela achou que nem ele e nem esse dia ia chegar. O mundo agora podia parar, desmotivadamente, de girar. Mas não parou. Maria que nasceu no mês de maio resolveu que não era tão má idéia esse negócio de ficar junto. Ele olhava pra ela de um jeito que era como se o corpo dela subisse prum lugar tão alto que nem o gigante da história da Lia alcançava. Maria tinha medo de altura, mas subiu com o dedinho dado com Ele praquele lugar que nada precisa girar, nem com nem sem motivo.Praquele lugar onde o cheiro dele toma conta de tudo e tinha lugar até pro corpo grande e apressado dela. Naquele lugar que só ele conhecia chovia o dia inteiro que era pra abençoar aquele abraço. É um lugar onde ela diz e ele escuta, onde ela ama e Ele aceita. Onde ela deita e ele dorme. Onde Ele diz até sem falar palavra nenhuma. Lá ele diz e ela entende. Porque é um lugar que só cabe Maria e Ele, e só com Ele Maria ainda era só Maria, e o mundo tinha porquê girar.

sexta-feira, agosto 28, 2009

que me abrace, que me desculpe toda vez que parecer maluca, que não se esqueça, que não desapareça, que se entenda, quem me aguenta?...que me agarre, que me beije, que não se queixe da mancha de batom...que não cante no tom, que não faça as coisas certas e não pense nas coisas erradas. que me queira, que pareça que me queira em sete vidas, em todas as horas. que não perdoe grosserias, que me mande engolir sapos. que não saiba desenhar, que não saiba cantar, que só saiba ler, cada linha da minha mão, cada letra do meu corpo, cada frase da minha boca. que venha sem ter que ir o tempo todo, que fique mais um minuto, que minta, que sinta, que diga que sente. que me envolva, que me distraia, que me mate de rir e de chorar, que me ressucite. que me deixe viva, que me sinta viva, que me segure com força, na cama e no mundo, quando o teto ou céu desabar, que conte pintas e conte estrelas, que me enlace, que me disfarce, que não se envergonhe de mim, que se queixe, que se queixem, que se danem!

que não me deixe pra depois.

sábado, agosto 22, 2009

e eu que achava que conhecia todos os seus rostos, hoje faço um esforço pra me lembrar do tempo que eu conhecia todos os seus rostos. eu conhecia o rosto de cada humor, o rosto da manhã e do rosto depois do café da tarde. eu conhecia o rosto com sono e aquele que tinha acabado de acordar. eu conhecia o seu rosto quando você se rendia a alguma besteira dessas muitas que eu, ainda hoje, digo. eu achei que conhecia cada linha do seu rosto, cada jeito diferente de olhar. mas eu me enganei. hoje fico tentando lembrar dos muitos rostos que você tinha pra mim e nenhum me volta a memória. você, meu menino multifacetado escondido na cara de mau tem um rosto só, que eu não conhecia. tem um rosto que ri mais do que eu achei risse, quase sempre da minha cara. e agora quando eu paro naquele silêncio que tem mais você que tudo o único rosto que vejo é esse seu, diferente dos que eu conhecia, porque tem qualquer coisa que me acalma e me encosta. o rosto, que é diferente dos outros rostos que eu conhecia. o único que eu quero ver.

terça-feira, agosto 11, 2009

Eu quero o mundo. Não, já passou da hora de você saber que não pode ter tudo que quer. Mas eu só tô pedindo o mundo, que é pra eu pintar ele bem de colorido, e aí a gente vai andar por aí como se fosse sempre dia de felicidade. E quem te disse que felicidade tem cor? Foi você. Eu, você ta maluca? eu sequer gosto das cores. Mas foi você, com a cor dos olhos, com a cor da boca, com a cor do silêncio. Silêncio tem cor, sabia? e eu vou te dizer um segredo, tá? Tá. Cada silêncio tem uma cor. O silêncio depois do beijo é um. O silêncio de quando você me abraça é outro. O silêncio que aparece de repente dizendo pra lágrima num cair é outro ainda. o silêncio é quase um arco-íris, e tá pintando os meus dias. Você queria que eu falasse mais, não é? Queria que eu dissesse todas aquelas coisas bonitas de se ouvir. Não. Não? Não, porque é quando você fica quieto que eu sei de tudo, que eu ganho o meu mundo. Como? é no teu silêncio que você me pinta de vermelho cor-de-sangue, e eu te sujo todo, e assim eu pinto o mundo, que é porque meu mundo inteirinho é você.

segunda-feira, agosto 10, 2009

me ensina algo hoje? mas tem que ser hoje.

eu passei a minha vida tentando aprender. anos e anos tentando aprender: o que era a água em cima da planta de manhã? o que era saudade? o que é "comunhão dos santos"? por que dizem que nunca é tempo demais?
e você querendo que eu te ensine algo...

eu, no caso, posso te ensinar que cheiro é a única coisa que pode ficar na lembrança, quando a memória é o ruim. eu posso te ensinar que flor nenhuma gosta de ficar sozinha, e que ela precisa de água todo dia pra ter vontade de olhar pra cima. eu posso te contar que tempo mesmo não tem a ver com número de dias. o meu tempo passa de acordo com os momentos que eu queria estar contigo e não estive. eu posso até te mostrar uma música, mas eu ainda não posso cantar pra você...

ando por aí tentando aprender, que é pra não dizerem que eu gasto tempo demais. Mas quer saber? ainda não sei o que é "comunhão dos santos", eu que prefiro acreditar que a água em cima das plantas e choro de flor, eu que nunca usei a palavra nunca. eu, eu que morro dessa tal de saudade...

sábado, agosto 08, 2009

Quantos céus uma pessoa pode conhecer? De quantas cores as nuvens podem se pintar? Quantos sóis diferentes nasceram e a gente achando que era o mesmo brilho todos os dias?

Quando eu te conheci o céu era lindo, tava todo colorido de nuvens, de estrelas, de sol e de saudade. Quando eu te conheci, sem nunca ter te conhecido, achei que tinha visto o céu mais bonito. Contei, um a um, os sóis que eu vi nascer longe de você. Sem você tudo era ruim, mas o céu nunca deixou de ser bonito.

Eu me perguntei todos os dias quem é que permitia o céu ser tão bonito quando a gente ta triste. Você me disse que nem tudo é tão bonito assim, que o mundo não é cor de rosa, ainda que toda vez que eu olhasse pro sol que nascia era essa a cor que eu via.

Você me disse e eu acreditei. Agora vem você com o seu sorriso e desmente tudo. Vem você e me faz acreditar que você mentiu o tempo todo. O mundo é lindo. E o céu podia se vestir de nuvem e clarear todo o meu caminho. Com a lua cheia e de mão dada é mais fácil seguir andando. E triste não é contar os sóis que nasceram sem você, porque quando a gente ta junto é a lua,e não o sol, que eu quero ver por mais tempo…

quarta-feira, julho 29, 2009

Dentro de mim moram o gato e o rato. Dentro de mim eles se perseguem incansavelmente.

O gato que mora dentro de mim continua seguindo os seus passos, continua errando o caminho, continua não cabendo em lugares pequenos, que nem é seu coração. O gato que mora dentro de mim tá com vontade de devorar você inteiro, de sentir o gosto de cada pedaço seu. O gato que mora dentro de mim não cansa, não pensa, não desiste de você e não mede esforços para conseguir o que quer. O gato que mora dentro de mim ficou preso no último desencontro e não pode mais continuar.

O rato que mora dentro de mim tem medo do escuro, tem medo de ficar sozinho, é pequeno e não pode se defender. O rato que mora dentro de mim vive fugindo, não sabe pra onde ir mas vai, como se ir fosse sua última solução. O rato que mora dentro de mim cabe em qualquer lugar e ninguém nota. Entrou e saiu do seu coração inúmeras vezes e você nem desconfiou. O rato que mora de mim é inseguro e vai se esconder tão bem que você talvez um dia não ache mais.

Dentro de mim moram o gato e rato. Dentro de mim eles te perseguem incansavelmente.

segunda-feira, julho 27, 2009

Há uma sutil diferença entre sentir falta e sentir saudade. Sentir falta é quando dói porque aquela presença não tá do seu lado. Não tem o cheiro, não tem o nome, não tem a voz, nem o jeito mal-educado de dar bom dia. Não tem remela quando acorda, não tem “dorme bem” antes de dormir, não tem abraço. Cadê os seus braços?

Sentir saudade não é só sentimento, é um estado de espírito. É não se reconhecer. Não dói só porque aquela presença não tá ali, mas porque um pedaço de você não ta ali. eu sinto falta do que eu sou quando estou com você, sinto falta do meu nome quando estou sem você. Eu já não sei o meu cheiro, não ouço a minha voz, nem dou bom dia. A remela ficou me olhando do travesseiro e eu não dormi bem. Eu nem queria dormir. Eu sonhei com você e com o abraço que eu sinto saudade porque os braços, esses malditos braços insistem que cabem só no seu abraço.

Quando a gente sente saudade é egoísmo e nostalgia, porque a gente só quer de volta o que a gente foi quando ser dois ou um não fazia diferença mais. Sentir falta é a sua ausência. Sentir saudade é o meu vazio.

Sentir saudade é ser obrigado a olhar sozinho para o espelho e levar um susto quando notar que você esteve ali o tempo todo. Dentro de mim…

Começa com o nervosismo. No começo é tudo psicológico, só de saber que você tá sem começa a se condicionar a sentir falta. Mas tinha que ser assim. Primeiro a ansiedade, e não consegue entender o que fazer com o tempo que agora sobrava. Nada de cigarros. Ok, nada de cigarros. Vício é uma desgraça. Aquela ansiedade de ficar sem te fazia comer mais, falar mais, chorar mais, menos ser mais feliz. Aí os sintomas começam a passar pro corpo. Você fica mexendo freneticamente no cabelo, come o canto dos dedos, morde o lábio daquele jeito que você faz quando fica nervosa. Escreve e apaga. Escreve e apaga. Chora por qualquer motivo. Tudo tá muito ruim. Vício é uma merda. Depois que passa a fase da ansiedade você fica nostálgica, pensando o quanto você era melhor com o vicio, que talvez parar não tenha sido uma boa idéia. Não, não foi uma boa idéia.

Sua fraca, não consegue ver graça nas coisas sozinha. Precisa de tudo que o vício te traz, até a dependência.

“alô, querido. Volta logo que não dá mais sem você”

terça-feira, julho 21, 2009

Uma vez o gurizinho tava abaixado mexendo no cocô do cachorro da vizinha com uma vareta, tava brincando com aquilo, tal qual fosse um pedaço de terra que cheirasse a grama recém-cortada. Eu tentei dizer “gurizinho, isso aí é sujeira”, eu disse “gurizinho, isso fede”, mas o gurizinho não me ouvia, mexia naquela merda toda com muita cautela, como se qualquer movimento mais bruto custasse a queda de um bibelô de porcelana. Quando cheguei perto o cheiro me enjoou de uma maneira que acabei me afastando rapidamente. Gurizinho notou, me olhou com uma cara de pena, como se eu fosse mais uma idiota achando que aquilo era pra dar asco. Gurizinho voltou de novo praquela nojeira, mexeu pra cá, pra lá e não parava de sorrir. Eu, idiota, pela última vez tentei alertar: “Gurizinho, você sabe o que é isso?”. Ele me olhou com um cara engraçada, riu do meu cabelo e disse “é amor”. “Não, gurizinho”, eu ainda repliquei “to falando disso que você tá mexendo, isso que você mexe como se fosse bonito, mas que é sujeira e fede”. Ele soltou a vareta, me deu a mão, suja, me levou pra longe daquele lugar. Embaixo duma árvore, me fez deitar no colo dele, que ainda cheirava mal mas eu já não ligava e disse: “então, flor. É amor…”

domingo, julho 19, 2009

meu pecado, seu padre, é a gula. eu quero comer tudo, com toda a minha extensão. eu sei, seu padre, que eu já parei há muito de comer pra saciar minha fome, fico aqui, me entupindo de comida pra ver se passar essa vontade de viver. o pior, seu padre, é que ultimamente eu deixei o chocolate de lado. hoje eu me alimento dele...
eu me alimento da imagem dele, dos sonhos dele. eu como ele pelos meus cinco sentidos. eu me alimento da lembrança dele e me farto de expectativas.
De repente vem algum mau estar no estômago. as vezes dói. mas é como um vício, sem ele não dá. eu começo a não achar motivo pra levantar da cama.
tem dias que ele não deixa. tem dias que ele não se faz de alimento pra minha fome. tem dias que eu quero comer esse prato de paixão com molho de ansiedade e ele não deixa. me deixa com fome, me faz dormir com o estômago vazio.
mal sabe ele que dormindo assim, eu acordo quase maluca. meu corpo todo pedindo pra eu voltar a comer aquele menino. que tem gosto de medo quando a gente morde, mas deixa qualquer coisa de saudade na boca quando vai embora...

domingo, julho 12, 2009

Quando Fabiano nasceu não chorou, não reclamou, não deu trabalho nenhum. O pai, que era fotógrafo de céu viu nos olhos pequenininhos de Fabiano um brilho bem maior do que da Lua, quando ela fazia pose no céu pra ser fotografada. Fabiano era quieto feito estrela.
Margarida nasceu gritando, destruindo os movéis da casa, falando sem parar e imitando artista de cinema. Queria ser escritora e quebrou a máquina de escrever do avô. Não tinha cuidado com nada, mas também não precisava que cuidassem dela. Margarida tinha a boca cor de morango, sua fruta predileta, e nos olhos não tinha nada, porque o pai não era fotógrafo de céu, era só desenhista de flor.
Quando Fabiano cresceu continuou carregando nos olhos o brilho da Lua que o pai fotografava e o jeito de estrela. Margarida continuou falando sem parar e quebrando as coisas que passavam por ai. De tanto quebrá-las, Margarida foi se machucando. As mãos, as pernas, os pés, o coração ia todo cortado ao longo da vida. Margarida é fraca, porque flor não aguenta ventania, enquanto estrela ri da cara da brisa.
Margarida quando viu Fabiano reconheceu na hora aquele jeito de estrela, quieta. Dava o que tinha pra brincar de ser céu, e segurar Fabiano num abraço. Mas Margarida não era céu, tinha nascido de um desenhista de flor, e só flor podia ser. Margarida não tinha tato para cuidar de estrela, desde criança quebrava tudo, estragava o que mais gostava. Mas flor, no fim, é flor: tem espinho e murcha rápido. Enquanto estrela brilha, brilha, e quando a gente já dormiu e acordou uma vida, ela brilha.
Margarida não merece Fabiano. Não pode ficar do lado dele muito tempo, porque a primavera passa, a flor enfeia enquanto o céu continua ali. quietinho. Margarida queria dizer pra ele que sabe que ele é estrela igual a que o pai dele fotografa, queria dizer que precisa dele mas que entende que flor e estrela não terminam juntos e não se dão bem. Flor tem medo, estrela assusta. Ela queria explicar. Queria, mas ficou quieta, porque flor quebra com o vento, e anda ventando demais por aí...
Mantém a luz apagada, eu não tenho medo do escuro, eu gosto do breu, quanto mais escuro tiver melhor eu me sinto, sozinha com os meus pensamentos, sozinha com os meus planos e os meus desejos, que, no escuro, nao me envergonham. Mas você vem e me tira tudo, tira meus pensamentos, tira meus planos, assim o escuro me assusta. Eu não tenho medo dos monstros, eles é que fogem de mim.
Acende uma meia-luz, vai, deixa eu ver seu rosto sem enxergar seus olhos. Essa meia-luz traz a forma do teu corpo, traz algum resto do teu pensamento que eu queria que fosse meu. Você não entende, fica me assustando com histórias de monstro do escuro, você quer me assustar com o desconhecido. Mas eu já não tenho medo.
Não, não acende a luz desse jeito senão você vai ver tudo. Vai ver que eu não sou bonita, vai ouvir a minha voz é feia, não é como a minha letra que você tá acostumado. Mantém a meia-luz que você pode me ver, sem descobrir quem eu realmente sou. Quem eu sou você não gosta, eu sei. Se você quer ir embora, eu deixo. Mas mantém a luz apagada e devolve meus planos pra eu brincar e os meus desejos pra me envergonharem. Assim, no escuro total, dá pra fingir que você tá do meu lado, sem uma fresta de luz refletindo na parede e me lembrando, de um jeito nada gentil, que eu to sozinha com os meus monstros, como eu sempre tive.

quinta-feira, julho 09, 2009

ele vem e me diz que eu não sei, que eu não entendo as coisas. Tá dizendo que eu não penso no que faço, que acabo fazendo papel de patética, que eu não uso a cabeça.
O que ele não sabe é que eu sei. Eu sei por todos os meus sentidos e não pelo meu raciocínio. Eu sei pelo meu sorriso e pelo jeito que ele escapa da minha boca sem que eu pense. Eu sei pelo estômago que se revira quando ele aparece e não pelo cérebro. Eu sei pelos dedos das minhas mãos que parecem vazados sem outros dedos fazendo de duas mãos uma trança só. Eu não penso. Eu não penso nas consequências, mas eu sinto aquela tristeza sem resposta, consequência inevitável de quando a gente se despede. E fica aquela sensação que eu nunca disse tudo, ainda que eu tenha falado demais. Ele diz que eu não sei, mas eu sei pelo gosto de choro feliz que chega na minha boca toda vez que ele se permite não saber. Eu sei por aquela vaidade que apareceu de novo quando ser bonita ou não já não fazia mais diferença. Ele diz que eu não tenho cabeça, mas foi ele que me fez perder ela por aí, em algum canto além-mar.

domingo, julho 05, 2009

Ele não gosta de chocolate, é por isso. Ela sempre achou um absurdo alguém não gostar de chocolate, ‘Quem não gosta de chocolate não gosta de nada!’. Era assim o Fabiano. Fabiano era tranquilo. Ainda novo percebeu que essa coisa de se exaltar demais, no fim, não valia a pena. Bebia cerveja pra socializar, mas preferia vinho. Não tinha medo de muita coisa, não, mas preferia não falar de morte. Fabiano achava que certas cores não combinavam, mas não achava isso importante. Lia muito, escrevia pouco. Escutava o que queria e falava quase nada, que é porque ele achava que os humanos não valiam a pena. Fabiano tinha ideais, mas parecia evitar ideologias. Não era do tipo que se apaixonava e nem lia poemas de amor. Fabiano não gostava de comemorações e nem de festas, mas acabava indo em quase todas. Fabiano não gostava de verduras e não gostava de cozinhar. Fabiano não gostava de gostar e, por isso, não gostava de chocolate.
Quem não gosta de chocolate nunca vai entender quando ela falar dos fogos de artifício, e a lua. Não vai entender como pode se entregar desse jeito. Não vai entender a graça do vermelho e do verde juntos, em qualquer época do ano, fazendo parecer natal o chato mês de Abril. Ela tinha certeza que quem não gostava de chocolate nunca ia entendê-la. E Fabiano não a entende. Porque Ela era maluca. Ainda nova percebeu que essa coisa de se calar, no fim, não valia a pena. Bebia vinho para se embriagar, mas preferia cerveja. Morria de medo de tudo, mas preferia falar de amor. Ela achava que todas as cores combinavam, e usá-las todas era muito importante. Lia muito, escrevia mais ainda. Não conseguia escutar de tanto que falava, porque achava que os humanos tinham que falar um pro outro. Ela tinha ideais, e não fazia ideia do que era ideologia. Era do tipo que se apaixonava por tudo e decorava poemas de amor. Adorava comemorações e festas, mas acabava não indo em todas. Ela levou três dias para se apaixonar por Fabiano, que levou três meses pra notar. Ela achava que todo mundo tinha sua própria versão de “Eduardo e Mônica” e ele preferia não ouvir legião. Ela sonhou que ele não ia querer ficar com ela. Fabiano acordou achando ela ridícula. Então ela foi comer um chocolate, porque hoje só duas coisas fazem sentido: Fabiano e chocolate.

Nunca juntos.

quarta-feira, julho 01, 2009

Eu devia ter te escrito aquela carta. Sempre segui minha intuição e ela dizia "envia" e eu negava, porque com você minha intuição foi embora e meu sexto sentido se perdeu. Os outros cinco também se confundiram, e eu fico achando que sinto o cheiro pelos olhos, que encosto na sua pele com o ouvido e que ouço a tua voz quando leio. Mas então, eu te escrevo agora essa carta pra dizer que eu devia ter escrito aquela outra. Eu tinha pensado em tudo... uma folha verde, a minha letra vermelha, a velha piada sobre o meu mau gosto com cores. e eu não escrevi! Ai, se arrependimento matasse, essa cama agora seria minha cova. Na carta que eu não te escrevi teriam todas as palavras que eu já te disse, as que eu não te disse mas você sabe quais são e aquelas que eu não te disse e que você nem desconfia. Eu quero te preservar tanto que acabo me prendendo numa jaula e fazendo do meu sentimento qualquer tipo de fera perigosa que tem que ficar isolada. Mas essa jaula que eu criei vive exposta, e as vezes você vem com essa sua cara de turista despreocupada e alimenta meu sentimentos e depois ri deles, como se eles fossem um macaco a quem você deu uma banana de mentira.
E eu vou pegando essa banana que parece de mentira e olho com calma até começar a acreditar que ela é de verdade. Um dia você volta, sem a cara de turista e abre a jaula do meu sentimento. Meu Deus, por que foi que eu não escrevi aquela carta? Agora não posso remediar, agora eu não posso te obrigar a ter um pedaço de mim com você. A primeira vez que eu te disse o que eu nunca devia ter te dito foi por uma carta. Carta é fácil porque a resposta, se vier, demora, e eu posso me armar contra aquela sua mania de não dizer nada. Agora já passou, eu não escrevi aquela carta, a minha jaula ainda tá fechada, te espero lá com uma carta que eu não escrevi, e com uma banana de verdade para te dar...

sexta-feira, junho 26, 2009

E se apaixonar por ele, de repente, parecia uma viagem de avião. Morria de medo de avião porque a ideia de tirar seus pés da terra, assustava. Gostava de saber por onde pisava, era mais fácil assim. Mas ele subia com a cabeça dela até a estratosfera. O medo só aumenta com a subida, os pés tremem, dá um frio na barriga, os ouvidos doem e você se desespera: vai acabar tudo aqui. Mas não. Afinal, você olha pro lado e vê as nuvens, passa por elas e sorri pro sol. e continua subindo até ter a impressão que pode pisar naquelas nuvens...Era assim com ele, era como se pisasse em nuvens e os problemas do mundo ficassem em outro plano, bem abaixo.
Mas avião tem turbulência e você fica se perguntando porque se enfio nele, e o medo volta: vai acabar tudo aqui.
Se acabar, pensa, pelo menos acaba de uma voz e eu não sinto tanta dor. Mas esse pensamento otimista não te engana, só assusta.
E você sabe que tem a hora da chegada. As nuvens vão embora e fica um medo, um medo maior que a pressão que incomoda os ouvidos e ansiedade da volta. Voce fecha os olhos, se agarra a quem der e reza pra aguentar. E se apaixonar por ele, de repente, esperava uma viagem de avião...


Em Madrid.

segunda-feira, junho 22, 2009

era uma vitrine. Ele não podia encostar, só ver. Ela mexia de um lado pro outro, chegava tão perto que ele quase acreditava que podia encostar, ele ia com a mão, ia segurar entro os dedos aquele cabelo que não parava de voar. Vidro. tinha sempre aquele vidro.
Dentro da vitrine ela até parecia bonita, tinha alguma coisa de ansiedade que molhava os olhos dela. Quando ela chora ele quer dar um abraço. e sorria, ela não para de sorrir Queria tanto ela aqui. Vidro.
era uma vitrine. Ela não conseguia entender, achava que ele tinha a chave daquela caixa de vidro e não queria abrir. Abre pra ela. Ela ficava com vontade de chorar, queria tanto encostar nele. Vidro. tinha sempre aquele vidro. Ele era tão bonito, mas quase não sorria. Tinha um sorriso de lado que só aparecia as vezes. Ela chora quando ele sorri, mas é de alegria e ele não entende. Queria tanto que aquelas mãos encostassem no cabelo, na nuca, nas costas dela. Isso deixava-a ansiosa a ponto de querer quebrar aquela vitrine. Vidro.

Ela ta se mexendo, tá chorando, tá procurando uma coisa. Ele ta inquieto, que será que ela procura? Ela olha como se pedisse desculpa. Será que ela vai o deixar? Pra onde ela vai? Ele achava que ela era a manequim dele, aquela vitrine era dele. Ela pede desculpa e cobre um vidro com um pano vermelho.
Ele não entende, ele não quer deixar de olhar, por que ela se escondeu?
Será que ela foi embora? Tanto tempo ele olhou pra ela e agora não podia mais, maldita cortina vermelha. Antes o vidro....

e o tempo passando, e a mesma vista vermelha pra ele.
Ele tanto olha pro vidro que esqueceu de ver o tempo passar.

Mas o tempo, ainda bem, sempre passa. Ela entrava, toda cheia de sangue, com vidros quebrados pelo corpo, na caixa de vidro dele. Ela pediu, já se encostando no ombro dele, "Posso ficar aqui pra sempre?" Ele não conseguia nem se mexer, tinha medo de encostar nela, primeiro pra não machucar mais aquele corpo cheio de vidro, segundo porque ele ainda não acreditava.

"você se machucou muito"

"logo passa". o vidro era grosso demais, mas também quebrava. no fim, era só uma vitrine.

sábado, junho 20, 2009

Querido, onde fica a cebola na sua casa? Olha só, aqui tá dizendo que colocar a pm pra bater é democrático, diz aí, é pra rir né? É sim, um absurdo. Mas olha, onde fica a cebola, não posso cozinhar sem cebola! Agora no oriente médio, tudo fere a liberdade e a porra dos direitos humanos. Pois é, nem me fale em oriente médio. Cadê a cebola? Não que eu ache que não seja ferir os direitos humanos, mas que quando a situação é aqui do lado, ninguém dá bola. Eu sei, lindo, ainda mais com estudantes…Você tem certeza que comprou cebola? Comprei sim, esse jornal tá cheirando cebola, inclusive. Tá, mas onde você colocou? CARALHO…Essa imprensa tá toda comprada mesmo. Não salva nada! Olha só, essa foto, parece até que a manifestação não era pacífica. Amor, eu concordo com tudo, eu também acho que a gente tem que ficar puto, mas podemos ficar putos alimentados? E pra fazer a comida eu preciso de cebola!!!!!!!!
Meu, é sério. Tem que mudar, a gente tem que movimentar a galera, não dá mais, não pode continuar assim. Vou procurar lá dentro as coisas da manifestação, vou levar pra reunião, vou mostrar o que ta acontecendo. Amor, me escuta só um minuto. EU PRECISO DA CEBOLA. Que cebola, cê ta louca? O mundo tá de perna para o ar e você falando em cebola? Olha só, a gente não pode ficar parado pensando na comida de daqui a pouco, a gente precisa tomar alguma atitude. Você não pode ser tão egoísta. Ok, desculpa. Ai, linda, por que cê tá chorando, vem cá, me dá um beijo…eu exagerei, desculpa. Não, amor, eu achei é cebola, foi isso.

quinta-feira, junho 18, 2009

se soubesses como eu gosto, do seu jeito, seu cheiro de flor...

A menina com nome de flor tinha passado a vida toda tentando ser flor. Se cobria de vermelho, se perfumava e não conseguia ser flor. De flor tinha o nome e três espinhos, cada um nascido de uma história diferente. A menina com nome de flor se cobria com sonhos para fingir que eles eram pétalas, e se fechava em dia de frio. Se fechava também para amores muito fortes, porque ela assim, só com três espinhos, não sabia por onde se proteger. Tinha medo do vento e do moço que não gostava de flores. Ficava esperando a chuva que ia molhar seu rosto. Mas era de lágrimas que ela regava aquela saudade. A menina com nome de flor nunca ganhou uma flor de presente. Então ela pintou flores no corpo, nas costas, na perna, para ver se assim, toda cheia de flores e com nome de flor, alguém levaria uma flor para ela. Mas ninguém levou.
O menino que nao gostava de flores aparece todo dia e a menina com nome de flor abre um sorriso, feito fosse primavera. Para ele, o nome dela não tem nada de flor. Para ele, a menina com nome de flor não é uma flor e o inverno é a melhor época do ano. Mas no inverno, as flores se escondem. E então, a menina com nome de flor foi deixando de ser flor, para aguentar o inverno que aquele menino que não gostava de flores trazia para os dias dela. A menina com nome de flor agora é só mais uma menina; sem sonhos em forma de pétala, sem cheiro de jardim. Dos tempos de primavera, a menina só guardou os espinhos a eterna vontade de ganhar de presente uma rosa.

sábado, junho 13, 2009

Eis o melhor e o pior de mim…seu nome, seu endereço, seu rosto. O melhor e o pior que eu tenho para apresentar para o mundo é você. Suas mãos, grandes, e o jeito que elas dançam no ar me convencendo que esse é o caminho certo para seguir. Mas tem os seus olhos, pequenos, que não me deixam entrar na sua realidade. Abre só um pouco mais o olho, vem, cara, me repara, eu passei todos os dias da minha vida contando o dia que você fosse chegar, tão diferente de como você chegou, e agora eu passo todos o resto dos meus dias contando o dia que eu vou chegar, tão diferente eu sou do que você sempre imaginou. Agora eu fico presa, dentro de mim mesma, querendo me encontrar. Prometo que se eu me encontrar, te acho. Te acho afogado nos meus sonhos, tanta coisa eu crio para você, tanta história você é personagem, quando é que você vai cansar de seguir as minhas linhas? Eu não sou difícil de ler. Eu tenho tanta vontade, e eu também tenho tanto medo, todo o sentido que eu encontro em você eu perco nas esquinas, nas ruas e na contramão do teu sorriso. Eu não sei continuar sozinha, mas eu também não sei como te convencer que é melhor continuar comigo, sou pequenina e também gigante, tenho a voz presa, essa voz que não é bonita, mas fala e fala, e repete e te pede. Eu to engasgada, vem, cara, se declara ou vai embora. Mas não vá pelo mesmo caminho que você chegou, porque esse eu percorro todos os dias, tentando ver onde foi que eu me esqueci de mim e passei a lembrar só de você. Se você for, me traz de volta. Só não se perca ao entrar no meu infinito particular, você pode levar o susto de te ver já passeando por ali.

quarta-feira, junho 10, 2009

Quem é esse homem que num dia me enche a vida de uma felicidade que eu antes não tinha visto para depois me deixar em uma tristeza que não passa, nem com água, nem com cachaça, nem com a minha música predileta? Ele vem e me fala do brilho do meu olho, e do jeito que esse brilho nasce quando eu sorrio, para depois me lembrar o que as minhas olheiras já não me deixam esconder. Quem é esse homem que consegue por lágrimas nos meus olhos todos os dias, lágrimas de todos os tipos, como se todos os meus sentimentos confusos e cansados de serem os meus sentimentos fugissem de dentro de mim em forma de água, que nasce no olho e vai para o mundo, livre…
Quem é esse homem que tem forma de angústia e que me tira o sono todas as noites e ao mesmo tempo me dá sonhos para eu pintar nas poucas horas que o sono me encontra?
Quem é esse homem que me vê como se já me conhecesse, e adivinha as minhas vontades, e os meus sonhos, e tem o papel certo para eu começar a escrever uma história? Quem é ele que amassa e joga esse papel longe, toda vez que eu me aproximo com a minha caneta, com meu enredo e com os meus diálogos?
Quem é esse homem que me machuca, e me dói, e me arde tanto, mas que também é o único remédio para essa ferida que não fecha? Essa ferida que sangra e espera aberta pelo curativo que eu sei que só ele pode fazer…
Quem é esse homem que eu não conheço e que não me deixa conhecer, esse desconhecido que foge de mim, para no outro dia aparecer de novo, com o sorriso dele, que eu sei que vai me enganar com a ilusão de que eu já o conheço, e que eu já tinha escolhido para me matar e salvar, antes mesmo de o conhecer.
Quem é esse homem que eu não posso deixar ir embora, mas que também não quer ficar. Que não pode ser meu, porque já é do mundo. Quem é esse homem que hoje me faz perguntar, com a cara vermelha no espelho: Quem será que sou eu?

sábado, junho 06, 2009

Eles definitivamente não tinham nada ver. Ele lia Bernardo Soares enquanto ela gostava bem mais do Caeiro. Passavam horas discutindo qual era o melhor heterônimo, mas só chegavam a conclusão de que, no fim das contas, era o Fernando Pessoa que era mesmo muito bom. Fernandinho, ele dizia. Ela imitava essa intimidade, achava graça no jeito dele brincalhão. Ela nunca conseguiu ser engraçada, mas levava jeito para sorrir, não era difícil arrancar um sorriso da cara dela, ainda mais se era ele tentando. Mas, repito, eles definitivamente não tinham nada a ver. Ela queria passar o fim-de-semana na praia enquanto ele reclamava que não fazia frio. Ela pensava no Tejo, no rio que não corre na aldeia dela e queria uma água, queria sentir. Ele pensando numa sociedade amarga, em uma geração difícil. Ela tentou todos os jeitos de misturar os sentidos dele, confundir tudo, violar, ela queria ele em sinestesia, e ele explicando, claramente, as razões, os modos, os porquês, os motivos. Ela queria ser fraca, ficar no colo dele, pedir para ele cuidar, mas ele queria ela forte, não deixava ela se encostar levantava e dizia: “Anda”. Ela andava, rumo a qualquer coisa, só para parecer forte. Ele achava que não a conhecia, “você é um heterônimo, também, enquanto eu sou só uma voz diferente de um mesmo homem”. Mal sabia ele que ela, desconhecida, tinha muito pouco para dizer além do que sentia… Ela parece que vai entrar no mundo dele, sentir o cheiro que ele sente, olhar pelos olhos dele e ver como é tocar quando as mãos são as mãos que você procura. Ele tenta usar a lógica dela, e vai num labirinto de pensamentos onde ele vê um reflexo dele mesmo. “Ela quer pensar como eu”. Foge, filho da sociedade, foge você que teu desejo é fugir. Ilude, menina das sensações porque os teus sentidos são ilusão. Você não vai conseguir explicar o que sente. Ele não vai conseguir sentir o que explica. Separados são duas grandes vozes de um mesmo desejo. Juntos, uma obra completa.

quinta-feira, junho 04, 2009

Todo mundo tem medo de se apaixonar. Todo mundo. A minha vizinha de 92 anos tem medo de se apaixonar, eu tenho medo de me apaixonar, a minha amiga descolada tem medo de se apaixonar, o nerd do instituto ao lado tem medo de se apaixonar, o bombadão que caminha sendo puxado por um pitBull tem medo de se apaixonar, aquela menina de cachos que sorri de um jeito discreto também tem medo de se apaixonar.
Medo de se apaixonar é igual ver filme de terror. Todo mundo quer, mas o medo pisca ao lado. Alguns, para não passar medo, fingem que não gostam do filme. Outros, passam longe do cinema. Uns passam o filme inteiro de olhos tapados.
Mas para os que entram e assistem o filme inteiro, e gritam, e choram, e têm o coração acelerado é que eu escrevo isso: continuem vendo o filme, tenham medo, sim, mas vejam. Pensem no filme depois, e na próxima sessão, para dar menos medo, arranje alguém que segure na sua mão!

quarta-feira, junho 03, 2009

Ele gostava do escuro, de dormir sem luz nenhuma. Ela gostava de dormir com o abajur de peixes aceso. Ele se irritava de madrugada quando acordava para ir no banheiro e via aqueles peixes passando na parede branca que tava descascando. Ele bufava e apagava a luz, ela se remexia e levantava os braços procurando os dele:
‘Já volto, vou no banheiro’ e às vezes não voltava. Ela passava a noite toda roçando os braços naquele lençol para ver se encontrava um pedaço dele, enquanto ele dormia na leitura de um livro, justificando uma insônia sem sentido.
‘Volta aqui’, e ele voltava. Ela acendia o abajur, abria um sorriso e dizia: eu gosto de te ver, menino.
Ele também gostava de ver o jeito dela de dormir com um braço embaixo do travesseiro e o outro por cima do peito dele, com a mão passeando na barba, até cair…cansada. Gostava do jeito que ela entrelaçava as pernas dela nas dele, e de quando ela acordava assustada com o pesadelo: “sonhei que você não tava aqui”, chorando e sorrindo, deitava no peito dele e dizia: “Mas ainda bem que você está!”
Ainda assim, ele não gostava de dormir com luz acesa.
Um dia se irritou, disse que com luz não dava, ele tinha que descansar e aqueles peixes na parede causavam insônia. Ela sorriu, entendeu. Pegou seu abajur de peixes debaixo do braço e foi embora, chorando e sorrindo, como se fosse um pesadelo.
Ele ficou no escuro, procurando os braços dela. Acendeu a luz e não viu nada. Talvez fosse melhor o escuro agora que ele não tinha mais o que ver.

terça-feira, junho 02, 2009

Eu fico bravo com ela. A garota é míope e insiste em não colocar os óculos, porque fica me dizendo que fica feia. Quem liga para uma armação de óculos? Eu nem vejo! Enfim, ai eu digo para ela colocar as lentes e ela fica toda preguiçosa. Aí fica comprimindo os olhos, para enxergar e acaba que não vê porra nenhuma. Eu queria que ela visse, bem. E deve fazer mal, né? Se a pessoa tem defeito nos olhos, tem que pôr óculos, e não deixar guardado na gaveta. Sei lá, não falo mais nada que é para ela não se aborrecer.

-Amor, que é que tá escrito ali?
-Ah, você tá sem óculos, né? Já disse o que penso disso, né?
-Já.

-Amor?
-Sim?
-Fala o que você acha de mim? Me diz o que você vê que eu não vejo? eu tô sem óculos.

Eu vejo uma garotinha mimada e teimosa, que não se preocupa com mais ninguém além dela mesma. Eu vejo uma menina que não virou mulher, que não sabe o quer, que tem medo de ficar sozinha. Eu vejo uma menina que não sabe se apaixonar, que sufoca e que responsabiliza, uma menina cujo sentimentos pesam em quem ela sente. Eu sei que não é de propósito, mas o seu jeito de amar incomoda. Você prefere viver sonhando do que entender que a realidade é difícil. Eu vejo que não adianta pintar as unhas de vermelho, tatuar o corpo, maquiar os olhos se não for conseguir se despir disso depois. Você não sabe viver, menina, você só sabe sonhar, e isso não serve. É isso que eu vejo.

-Amor, me passa os meus óculos.




E foi embora. Enxergando era difícil demais de ficar.

domingo, maio 24, 2009

Rita gostava de homem engraçado, que fizesse ela rir o tempo todo, que era para levar a vida mais leve, a vida, que para Rita nunca foi fácil. O príncipe de Rita não tinha um cavalo branco, ele vinha a pé, com all star velho e falando sozinho, como se isso fizesse sentido. Rita tinha medo de cavalos e pessoas que não falavam sozinhas. "A gente tem que estabelecer um diálogo com a gente", repetia. Ela gostava de homem que gostasse de cerveja, e que bebesse direto na garrafa. e que risse disso com ela. Rita precisa rir, para a boca crescer e olho ficar pequenininho. E o olho pequeno da Rita não deixava ela ver o que tinha de ruim no mundo. Ela ria, ria, rita. Ela não quer saber do mundo se o mundo não tiver querendo saber dela.Rita queria sair pra dançar, achava legal quando um homem que não sabe dançar se esforça. Ele ficava lindo preocupado, então rita fingia que tinha doído muito mais do que realmente doeu, e se escorava nele para continuar em pé, "você pisou no meu pé", dizia rindo, mas com voz de manha.
Ela gostava de homem que fizesse ela esquecer de tudo, que mostrasse a cor do céu, e se divertisse com a abelha que tinha a listra amarela meio torta. Mas Rita acabou conhecendo um moço que não sabia dançar, e que também não tentava, que não gostava de cerveja e não bebia nada no bico. Ele fazia Rita rir, mas logo em seguida, tão rápido, ele abria os olhos de Rita. E se os olhos de Rita abrem, a boca fecha e aí não tem sorriso, não tem mais céu colorido, não tem mais nada. Ele quer mostrar para Rita que o mundo não vale a pena, que as pessoas não valem a pena, que ele é cinza. A Rita quer mostrar pra ele que ele é branco, com espaço para se colorir. Rita continua falando sozinha, ontem mesmo podia ouvir ela dizendo quantos lápis de cor ela ia ter que comprar...

sábado, maio 23, 2009

Quantas cores o céu pode ter longe de você? Eu contei várias, e parece que em cada uma delas vai um pedaço de você, de você que eu não conheço. A noite, escura, parece teus olhos, teu segredo que eu não consigo descobrir. A madrugada vem roxa, tão bonita, quer me dizer que o dia tá chegando. Eu não posso ver essas cores se não te mostrar, não faz sentido para mim. O que é fazer sentido quando a saudade é de uma coisa que nunca se viveu? Quando amanhece, o céu fica azul, o sol vem como teu sorriso. Vem como a tua confissão iluminando, quando eu achava que aqui só ia amanhecer amanhã...em outro lugar, mais distante que a sua voz. Mas o dia veio azul, ganhou da noite. E agora eu me pergunto, quantas cores pode ter o céu perto de você?

segunda-feira, maio 18, 2009

Oi, reflexo. Você é meu espelho?

Humanos são ruins, minha filha. Por isso vá dormir. Humanos não valem a pena, minha filha. Por isso insônia, para que?
Humanos, minha filha, criaram a palavra confiança, mas não sabem o que fazer com ela. Jogam ela para cá e para lá, até acharem sua utilidade. Eles criaram a confiança e a mentira, que é para ver quem era mais forte. Humanos gostam de competir.

Por que meu rosto mostra os dentes quando você sorri? Eu posso te tocar, espelho?

A graça de ser humano é fingir que entende o que acontece. Mas você não entende, minha filha. Não se culpe. Você omite, você se esconde, mas não entende porque acaba sempre tão exposta. Por que tanta tristeza, minha filha? Ele é só mais um humano que descobriu que você era, inevitavelmente, humana.

Espelho, essas palavras são minhas, esse jeito de escrever é meu. Quando foi que eu deixei de ser eu e passei a ser o seu reflexo?

Humanos criaram o arrependimento, mas não aprenderam a fazer o tempo voltar. O tempo, esse maldito, ri da cara dos humanos. Eu sei, ele me conta, faz dos que afligem um tempo que não passa, que é para ver sofrimento. Os que se divertem, ele inveja, então faz as horas correrem feito criança para o bolo recém saído do forno. E para os que sentem saudade, ele guarda o sadismo especial, de se confundir entre lebre e jabuti, e não decidir se corre, ou se espera. Porque, minha filha, quem tem saudade é como se tivesse o mundo, mas sem pode encostar.

Para de fugir de mim, espelho, para de fugir de mim. Você tem medo porque eu sou totalmente desconhecida para você?

Ou porque eu sou exatamente aquilo que você não queria ser?

Humanos não merecem, mas você vai continuar acreditando.
e o tempo continua rindo de você.
Eu não gosto de chá, menino, quantas vezes tenho que te dizer isso? Não gosta, eu sei, mas devia tomar. Você nunca aceita quando te ofereço, prefere tomar café que destrói o organismo. Café me mantém acordada. É tudo mentira que cafeína mantém acordada. A mim, me mantém. Então tá, continua tomando café e morrendo de gastrite enquanto um chá de camomila ia te acalmar e te deixar mais tranquila. A minha calma não depende de chá, menino. É tanta coisa além…Mas veja, um chá ia curar suas cólicas, você vive tendo cólicas. E a voz rouca? Já disse que sei um chá de gengibre que tira essa roquidão num segundo. Depois fica ai dizendo que tem a voz muito feia. Para, vai, chá nenhum conserta a minha voz, e de qualquer maneira eu não quero chá. Você nunca quer, eu sei. Mas ia fazer bem para ti, tua cara cansada anda perdendo a beleza. Que beleza, menino? Você nunca me achou bonita. Como você diz isso? Como você nunca disse. Nada. E quantas vezes eu me arrumei, até no escuro, para você me ver bonita, o mais bonita que eu podia ser e você, e você não via. Claro que eu via, mas não dizia. E que adianta sem dizer? Nem tudo são palavras, minha querida. Eu não to falando só de palavras, na sua boca, você não me dizia que eu era bonita, nem nos seus olhos você me dizia que eu era bonita. Na sua formalidade comigo você não dizia que eu era bonita. Para de loucura. Não posso parar, eu sou louca, não convém a uma louca parar de loucura. As vezes parece que eu não te conheço, mulher. Você me esconde tanta coisa! Eu não te escondo nada, menino, é você que tem medo de procurar. Aliás, você tem algum chá que passa o medo? Não sei, por que, deu para ter medo do escuro, agora? Não é para mim, é para ti. Eu não tenho medo do escuro, querida. Não? Não, se a porta tiver aberta. Então por que é você não entra em mim? Porque você é um labirinto, e o teu coração é o Minotauro.

domingo, maio 17, 2009

“Quando Deus fecha uma porta, ele abre uma janela”, você me disse isso com os seus olhos verdes brilhando, porque estavam molhados de saudade, molhados de água salgada, não desta água do mar, mas daquela água salgada que nasce no coração e morre nos olhos. Quando você me disse isso eu quis me irritar, sabe? Qual o sentido dessa frase? Porta e janela nunca são a mesma coisa. Que adianta fecharem uma porta, que é o te leva para o mundo e abrirem uma janela, que se contenta em ser um quadro do mundo, esperando o mundo passar? Eu não posso pular da janela. Eu só sei sair pela porta. Mas eu não te disse nada. Você me deu um abraço e isso faz tanta diferença. Eu sempre respondo “sempre” quando você pergunta se eu quero um abraço. É claro que eu quero.
Hoje o dia nasceu de noite. E a gente acordou pedindo para dormir, e eu não queria ser eu. Você disse que se não me matasse, aquilo me fortaleceria, era um velho ditado cliché. Acontece que o meu corpo cansado, meu coração tão machucado e a minha voz rouca me deixavam tão fraca. Eu chorei para você, mais uma vez. E você me disse isso de novo: “Quando Deus fecha uma porta, ele abre uma janela” e aí eu entendi, pela primeira vez eu entendi. A porta que ele fecha não é para prender a gente, é só para guardar. E a janela que ele abre, é para ver se a gente não resolve a aprender a voar.



Feliz Aniversário, Roomie. Você é a minha janela, quando todas as portas fecham. =)

domingo, maio 10, 2009

Sete anos juntos e ela nunca se lembra. Ela devia se lembrar, não é? Ela é a mulher. Mulher é que se apega a essa coisa de data, de lembrança. Mas não. A gente é tão diferente. Eu sou um homem sério, sabe? Um homem ocupado, que devia receber ligações as seis e quinze da mulher preocupada e um pouco enciumada dizendo ‘é para eu te esperar para o jantar?’. Mas ela nunca me ligou, e eu já me atrasei, juro. Um dia cheguei quase as sete e meia em casa! E ela? Ela nada. Nunca teve ciúme, nunca duvidou de mim. ‘Quem ama, cuida’, minha mãe me disse a vida inteira. Um dia quis dizer isso para a minha mulher e sabe o que ela me disse? Que ciúme é socialmente construído, por uma sociedade patriarcal e machista. Eu nem sei o que é uma coisa socialmente construída e ela adora repetir isso. Ela diz que arrozefeijão é socialmente construído, até a gente ter uma samambaia na varando ela acha socialmente construído. Eu não digo nada, ela pode achar que meu silêncio é socialmente construído, mas eu sinto que…Bom, não importa. Eu gosto da samambaia na varanda.
Quando nosso baixinho nasceu era perto do dia das mães e eu tava ansioso para dar para ela o primeiro presente de mãe. Não ia dar uma coisa dessas que a tv manda comprar porque ela ia dizer que não era dona de casa e não tinha vocação para Amélia. Comprei um perfume, desses que a gente sente com todos os sentidos. Eu sei que ela gostou porque ela passa todo dia, mas só por isso. Quando eu cheguei com o presente, ela disse que dias das mães é data comercial e que eu tinha caído na lógica capitalista. Aquele dia me deu vontade de dizer para ela que a minha lógica capitalista pagava as fraldas descartáveis do pequeno. Duvido que ela ia querer lavar fraldas de pano em prol do meio ambiente. Mas eu gosto dela, sabe? E quando a gente gosta fica quieto mesmo quando dói. Hoje eu sei que não devia ficar quieto, mas é que ela sorri de um jeito que a lógica capitalista e o socialmente construído começa até a fazer sentido…
Mas hoje me rebelei. Sete anos juntos e ela não lembrou. Eu só queria um carinho, sabe? Um bilhete no espelho do banheiro, pintado de batom vermelho, aquele que ela passa para ir trabalhar. Ou um e-mail chegando no escritória. Ou um telefonema. Uma sms, um sinal de fumaça. Ou um sorriso… Mas ela acha que casamento é uma instituição que tende ao fracasso.
Comprei essas flores, tão vendo como são bonitas? Vou dar para ela, ela vai dizer que eu não devia gastar dinheiro com essas bobeiras, vai me dar um beijo frio, e vai perguntar porque comprei isso…
Quer saber? Vou dar essas flores para outra, vou comemorar meus sete anos sete anos sozinho. Sete anos socialmente construídos.
…mas eu não tenho força.
Oi, amor. Feliz sete anos de casados. Essas flores são para você!
‘Marcelo, já não disse para não gastar dinheiro com essas coisas? Sete anos de casado? Isso é socialmente construído pela lógica capitalista! Você não aprende nunca!!!’
Eu aprendo, amor…Olha, vou buscar uma coisa que deixei no escritório e já volto.

Sete anos. Oi, qual seu nome? Eu quero te levar para jantar comigo. Por que? Hoje eu quero comemorar uma data especial. Pede o vinho mais caro…

segunda-feira, maio 04, 2009

e olhou-a de um jeito muito mais quente
do que sempre costumava olhar
(Valsinha)


Eu quero seguir nessa dança até o corpo pedir que eu pare, porque coração, meu amigo, arrega fácil e é só o corpo, no corpo a corpo, que aguenta essa melodia, sem acorde certo e com muita batida quebrada, que tá tocando na minha cabeça.
Eu vou te cansar, eu sei, em algum momento a música perde o sentido e a gente fica pedindo silêncio. E aí, vai ser o teu silêncio, esse que hoje me devora, que vai cuidar de conduzir essa valsa mal ensaiada de nós dois.
Dois para cá, dois para lá, e eu vou perdendo o ar, de um lado e de outro. E se eu respiro no teu ritmo, acabo sufocada, no canto do salão.
É por isso que, hoje, eu vou te levar. Vem, sem medo, me acompanha. Eu não sei ser sutil, eu não aprendi delicadezas, então, aqui a gente só para quando corpo e corpo, juntos, não quererem mais. Por enquanto, meu péssimo bailarino, eu vou conduzir.

terça-feira, abril 21, 2009

Beatriz não gostava de trânsito, não gostava de ônibus, não gostava do calor dos transportes públicos. Era como qualquer menina. Classe média, último ano na universidade, três relacionamentos estáveis findos, emprego part-time na livraria, pais separados e um monte de meio-irmãos. Beatriz não era bonita, nem se vestia para isso. Andava com o cabelo preso em um rabo de cavalo que ia de um lado para outro de acordo com o balanço do ônibus.
Beatriz odiava quando o botão PARAR do ônibus não funcionava, porque sempre o que estava perto dela que não funcionava:“que sorte”. Levantou, seguindo com o rabo de cavalo o ritmo do ônibus. Foi até o botão que sabia que funcionava, e a sua mão foi prensada por outra mão, que, ao que tudo aparentava, também queria apertar aquele botão, o único que funcionava.
“Desculpa”, disse o rapaz, que não era bonito, mas se vestia muito bem.
“Foi nada”, respondeu Beatriz que tinha ficado estática com o sorriso singelo do moço. Beatriz não sabia disfaçar. “Você vai para onde?” O moço perguntou, abrindo mais o sorriso que tinha paralisado Beatriz e o seu rabo de cavalo.
“Vou aqui para rua de trás”, respondeu pensando que finalmente alguma coisa ia ser direta na sua vida, andava cansada das burocarias.
“Posso te acompanhar, até lá, quem sabe, eu consigo saber seu nome e seu telefone”
“Eu sou Bia, digo, Beatriz. Mas chama de Bia, que Beatriz parece meu chefe falando”
“Tá certo, Bia, quer anotar meu número?”
Bia abriu descoordenadamente a bolsa, procurando seu celular.
“Segura, por favor?”
O rapaz segurou a bolsa enquanto Bia nervosa procurava. O rapaz tirou a bolsa da mão dela e lhe deu um beijo, demorado, que desmanchou o seu rabo de cavalo.
“Isso é um convite para entrar na sua vida?”, perguntou Beatriz, orgulhosa da sua frase poética.
“Não, Bia, isso é um assalto.”
O rapaz de sorriso singelo saiu correndo com a bolsa e o celular que ela não tinha encontrado…
Beatriz, três relacionamentos estáveis findos, uma bolsa e um celular mais pobre, voltou para casa.

segunda-feira, abril 20, 2009

E se eu desse voz a minha loucura? Você não faria, tem medo do que eu tenho para dizer para o mundo.. é que ele não me conhece, loucura, e não vai entender nada. É melhor não entender nada agora que ele não te trouxe nada, porque depois, se ele trouxer, vai ser pior para você e para mim...Aí nunca mais eu vou sair daqui. Mas, loucura, por que você não fica aí, quieta. Eu te deixei num lugar confortável, loucura, eu te dei meus sonhos para brincar, por que você quer minha realidade também?Porque eu sou a sua realidade, eu sou você. Olha para os lados, eu sou o vermelho da sua tatuagem, eu sou o vermelho da sua boca, o vermelho do seu sangue. Não, loucura, você não vai crescer mais. Eu já cresci, mulher, eu sou você, quando vale a pena ser...agora, que você ta cansada, eu me calo, eu deixo passar. Mas é o teu sorriso que me fortalece, eu quero vermelho e você traz vermelho pra mim. Pára, loucura, não aparece assim no meu sorriso, que ele não vai entender. Pára de desenhar o nome dele na minha cama, eu preciso dormir, loucura. Enquanto eu não dormir, você vai se fortalecendo e eu to ficando fraca. Deixa eu te engolir, porque ele não vai querer...Ele já me engoliu, loucura, me levou para o pátio da cabeça dele onde eu espero, sentada num banco cinza, ele me buscar de volta. E, nele, não cabemos nós duas. Ou eu ou você, loucura. Eu vou. Por que você, se sou eu que quero? Porque você não sabe querer sem mim. tuas paixões vão ser loucas, até o dia que você desistir e só eu vou existir...ele não te quer, loucura. ele quer a mim, normal. Acontece que você não existe sem mim. E o que eu faço, loucura?Traz ele pra mim. Você vai enloquecer ele também? Prometo que vou tentar...

domingo, abril 19, 2009

Maria, as flores estão no seu cabelo, as flores estão no olhos, as flores estão em você. Maria, que é que ele veio dizer?
Ele veio ficar quieto.
Maria, a lua brilha no seu cabelo, a lua brilha nos seus olhos, a lua brilha em você. Maria, que é que ele veio lhe dar?
Ele não veio me dar nada.
Maria, o céu azul cabe no seu cabelo, o céu azul cabe nos seus olhos, o céu azul cabe em você.
Maria, o que é que ele veio sentir?
Ele não sente nada.

Maria, e o que você faz com essas flores, essa lua e esse céu azul, todo em você?

É ele que fez, eu só vou devolver.

sexta-feira, abril 17, 2009

Carta ao meu amigo desconhecido.

Cartas são coisas importantes. As pessoas mais importantes que eu conheço, e que você conhece, certamente escreveram alguma carta. E receberam. Hoje eu não posso te escrever esse tipo de carta. A nossa carta vai ser sempre assim, sem destinatário conhecido e com remetente bem vago. Mas eu sei que você vai me entender, senão eu não escreveria.
Você me disse que tem essa mania de apagar mais que escrever, é por isso, meu caro amigo desconhecido, que você vai continuar assim…desconhecido. E não é porque eu quero. Você não vai mudar, você nem quer mudar. Seus sentimentos existem, eu sei, mas devem ser agradáveis demais para você insistir em mantê-los com você e não dividir com ninguém. Você ta pensando como eu posso ser tão egocêntrica né? “Não é porque eu não te digo o que sinto que não digo para ninguém”. Taí uma verdade sobre mim: eu sou egocêntrica.
Tão egocêntrica eu sou que acabo não pensando nas pessoas e na reação delas. Eu digo o que eu sinto que preciso dizer, para o meu conforto. E nunca me perguntei se as pessoas querem ou estão disponíveis de ouvir, e no seu caso, ler.
Você me é tão desconhecido que me deixa confusa. Você é tão desconhecido que eu acabo perdida e preciso te imaginar. E é te imaginando que eu me perdi, eu sei. Eu preciso guardar a minha criatividade para coisas menos perigosas e que não envolvam pessoas. Você não tem nada a ver com os meus sonhos, além de ser protagonista deles.
Há uns dias que eu escrevo. E tudo que eu escrevo tem seu nome, tem a tua cara que eu imagino. Acho que você não percebe, ou finge que não percebe. É tão mais fácil fugir de mim do que ler o que eu tenho para te escrever, não é? E diferente de você, eu nunca apago.
Esse foi o texto mais mal escrito da história da minha vida, um dos que eu mais demorei para escrever, e eu recorro ao Chico, porque ele diz e eu repito que eu prefiro então partir a tempo de poder a gente se desvencilhar da gente…
Você vai ser sempre meu amigo desconhecido, por quem eu inevitavelmente me apaixonei… Eu não sei como você veio, agora é hora de saber como você foi embora.

Um beijo, de quem não conheceu os seus,

Ms. P.

quinta-feira, abril 16, 2009

É como se você estivesse aqui. Eu to gargalhando das suas piadas sem graça e da sua cara de tédio. Você reclamou de novo da minha comida, fica dizendo que sempre fica sem sal. É claro que não é tão boa quanto a da sua vó, não precisa me lembrar disso. “Ela não me manda lavar a louça!”. Claro que não, ela não mora numa república!
Parece que você ta aqui, lendo, enquanto eu tiro o meu cochilo pós almoço, deitada na sua barriga e ouvindo a sua digestão da minha comida sem sal. Eu gosto de dormir assim, me acalma porque é o barulho que me lembra que você continua comigo, não importa a besteira que eu diga, ou a falta de sal na comida.
Eu não encontro a minha saia, enquanto você ri da minha promessa para São Longuinho. “você nunca cumpre suas promessas”. Não mesmo. Eu tinha me prometido não me apaixonar de novo.
Seria bom se você tivesse aqui, você ia rir da facilidade com que choro, ia me chamar de manhosa e mandar eu mostrar o machucado…”Não é nada”, você me diria passando o remédio e me dando beijinhos estupidamente rápidos e estalados que fariam cócegas na minha bochecha, e me fariam rir, mais uma vez.
Eu sempre fico ansiosa pela noite, como se você fosse chegar em casa, imitar o Dino e me chamar com algum apelido idiota que você vai pensar na hora. Você vai fingir que não percebeu que eu sai antes da aula para me arrumar e te esperar, fingindo que a roupa foi escolhida ao acaso e que eu não tinha sequer me arrumado. Mas o brinco não nega. Você perceberia que eu coloquei o brinco que você me deu. E não era por acaso.
Eu te sinto aqui, é maluco, eu sei. Mas as vezes eu leio em voz alta um trecho do livro que você ia gostar. Ai eu começo a rir imaginando você interpretando um personagem do machado. Ai eu paro de rir, claro. Não tem graça, eu to sozinha, com o dedo machucado, sem beijinho estalado e comendo sozinha, vestida com a primeira roupa que eu achei, uma comida sem sal.

terça-feira, abril 14, 2009

quero ficar no teu corpo feito tatuagem,
que é pra te dar coragem para seguir viagem
quando a noite vem...
Eu não lembro de ter sido tão desejada. Ele queria mesmo que eu tivesse ali. Ele queria que eu fosse dele, daquela maneira, como a gente havia sonhado durante dias. A minha alma parecia tão próxima da dele, que ali, colados (corpo a corpo, boca a boca), quanto mais dentro de mim ele estava, mais dentro deveria estar. E nunca era o suficiente. Não parecia justo que duas pessoas não pudessem definitivamente ser uma só. Como? Eu quero que vocês, senhoras e senhores, me expliquem como é possível? Se nada nele podia ser eu, se nada do que me emocionava também o emocionava, me diz porquê? As coisas deviam fazer sentido e não perderem o nexo quando ele chega. Mas é o cheiro, são as mãos compridas, é a cara de quem já me conhece mesmo sem nunca ter me visto.
Eu fui ficando meio bêbada daquele menino, que tinha cara de menino e voz de homem. Justo dele, que se envergonhava perto de pessoas bêbadas. Ele acha ridículo o jeito que eu danço, ele não gosta de como eu me visto, ele não entende meu caminho torto. Mas sabe que eu me dispo se ele pedir. Sabe que eu paro de dançar se ele quiser. Sabe que eu ando em linha reta se ele me deixar pegadas para eu seguir. Eu só não posso, menino, apagar as marcas. Eu só não posso, menino, dizer que eu já não sou. Minhas marcas são meu manifesto e um aviso: eu sabia que você ia chegar, o menino com jeito de homem que ia derrubar meu castelo de cartas. Eu marquei meu corpo para me prevenir de você. Não adiantou, mas isso você não pode apagar.

sábado, abril 11, 2009

Esse texto foi feito para um menino e uma menina,
que deixam meus dias aqui menos frios...
A menina de quem eu falo tinha no nome aquilo que ia ser uma sina, bela. O menino, até onde se sabe, levava no nome a incógnita: rico? Ninguém aqui falou de dinheiro.
Ele tinha uma riqueza qualquer que quase soterrava o corpo todo. Ele se afogava na própria alma que ele não sabia conduzir, ficavam só os cabelos loiros a voar. Recém fizera dezoito anos e tinha muito sentimento para carregar.
Ela, também muito nova, trazia no rosto um paradoxo: olhos tão fundos que remontariam a uma experiência vinda de não se sabe onde, misturados com um sorriso que era de hoje, que sorria para o agora. Bela tinha tanto medo do futuro, que contava seus dias como alguém que separa minusciosamente o feijão. Um dia bom, um dia ruim.
Ele, ainda sem entender o que é que acontecia, tinha que manter uma imagem, um semblante, ainda que no fundo quisesse dizer para ela…bela, bela…acontece que essa noite, acontece que nessa vida, ele só queria saber dela.
O olho verde ficava ainda mais verde quando ele chegava perto. Ele tinha medo de ser perder naquele verde todo, parecia uma selva imensa. Justo ele, que morou a vida toda na cidade.
Ela vai pedir que ele prometa que vão ficar sempre juntos. Ele vai dizer que não é homem de promessas, mas vai dizer, lá no fundo, onde só ele e seu Deus escutam, que ele tinha feito aquela promessa há dias, enquanto colhia as flores perdidas no verde dos olhos dela.

sexta-feira, abril 10, 2009

Você disse que me lê. Eu não duvido. Então essa vai ser a nossa despedida. Aqui, nesse lugar, onde tudo começou.
Você me disse que se apaixonou primeiro pelo que eu escrevia e depois por mim. Enquanto eu me apaixonei por você inteiro, o tempo todo.
Eu não vou voltar nesse assunto do você gostou ou não gostou de mim. Isso perdeu completamente o sentido. Eu vou falar do que eu sinto, e só. Eu preciso virar a página desse livro, e eu só posso virar essa página escrevendo esta história até o final.
Vamos lá, eu vou falar aquilo tudo que você já sabe: eu te amei feito uma idiota, eu achei que o meu mundo começou a fazer sentido no dia que você entrou na minha vida... Eu achei que você era o homem da minha vida. E eu ainda acho.
Mas o homem da nossa vida pode passar por ela e ir embora. É sorte demais que ele espere que você cresça e veja as coisas como as coisas realmente são. Eu sempre vi tudo meio errado.
Todos as pessoas que eu conheço já me mandaram te esquecer. Eu já me mandei te esquecer. Você, se bobiar, já mandou eu te esquecer. Mas é aquela coisa, né...eu sempre fui teimosa.
Várias vezes eu escrevi o email de despedida, a foto de despedida, a conversa de despedida. Bando de besteira. Eu sempre te dava adeus doida pra ouvir um até logo, até breve, até agora. Até agora eu to esperando que você venha dizer que sente a minha falta, e não só as vezes..
Meu deus, quanto tempo faz? Meses, mais de um ano. Tudo mudou na minha vida. Nada lembra quem eu era quando eu te conheci. Acho que nem você lembra quem eu era quando eu te conheci.
Eu lembro. cada detalhe seu. e eu amei, cada detalhe seu. até os que eram menos bonitos, ou feios, mesmo.
Eu dizia que você era uma letra só, a letra B. A letra B que era o que fazia meu vocabulário existir, minha poesia acontecer. Você vai ser a única letra que eu não vou poder mais usar.

Eu nunca tentei te esquecer. Eu nunca quis tirar você da minha vida. Mas agora eu tenho que tentar. E eu vou aprender que não vale a pena te amar. nem mais, nem demais.
E se me encontrar por aí, vira o rosto e se esconde. Porque eu prefiro teu rosto virado do que a tua incapacidade eterna de me olhar nos olhos...

terça-feira, abril 07, 2009

Você conhece aquele rapaz que vem vindo em minha direção? Não, quem é? Também não sei, mas ele me olha de um jeito que parece que já me conhece, até me dá medo de ouvir o que ele vai me dizer. E como você sabe que ele vai te dizer alguma coisa? Eu sei que vai, pelo jeito que me olha e pelo jeito que obriga eu a olhar, eu vou me perder nos olhos deles e parece que assim deve ser melhor. Você tem essas idéias.
Ele me pergunta o que eu sei, e eu sei tão pouco..Não me olha assim, rapaz…
O que você sabe, me diz?
Eu só sei o que eu sinto, eu sei o que eu vejo. Eu sei porque eu minto para não dizer que te desejo. Eu sei pelo momento e pela inspiração, eu sei pelo tormento que diz que é amor essa confusão. Eu sei pela saudade, pela falta que me faz não te ver sorrir. Eu sei que é verdade porque é em ti que eu penso antes de dormir. Eu sei pelo beijo que você me dá quando chega em casa, eu sei porque isso me molha, me encharca, vaza. Eu sei porque todos os sonhos que eu tive foram contigo. Eu sei porque é seu abraço que eu chamo de abrigo. Eu sei quando eu recebo tua mensagem, na noite e no frio. Eu sei pela tristeza que dá o meu e-mail vazio. Eu sei pela vergonha de ti quando me porto como louca, eu sei pelo medo de mostrar a minha voz rouca. Eu sei quando não faz sentido e quando eu uso esses clichés. Eu sei porque vai ser melhor porque vai ser com você. Eu sei porque dá vontade de dizer, e eu sei porque não sei como falar…eu sei quando entendo que viver é aos poucos me matar. Eu sei quando eu perco o ar, eu sei quando não acho o chão, eu sei quando eu peço para você voltar e fico morrendo de medo da solidão. Eu sei quando te vejo dormir, eu sei pelo ciúme de tudo. Eu sei quando te faço sorrir, eu sei quando você acaba mudo. Eu sei porque já é tão tarde e eu espero você chegar. Eu sei que você vai embora, eu sei que você não vai esperar…
Me espera?
Não posso, acontece que você não sabe de nada…

sábado, abril 04, 2009

Eu vou tentar te escrever tudo aquilo que eu não te disse. Eu vou te escrever todas as músicas que eu mandei e você não pode ouvir. Eu vou vomitar o sentimento do mundo no seu colo, e você vai fazer dele massa para um outro que vai nascer.
Eu vou dançar no seu ritmo, andando atrás das suas pernas, como se elas fossem a única que estrada que me leva a mim mesma. Seu caminho vai torto, eu tonta, não sei quando vai acabar.
Eu não quero te dar datas para lembrar, não quero te dar responsabilidades, não quero te dar sentimentos para sentir. Eu não quero te dar saudade.
Eu não quero te dar sonhos, porque eu não vou estar aí para te acordar deles.
Eu não quero te assustar, eu não quero que você tenha medo de mim. Eu tenho medo de mim, e isso já basta.

Os meus dedos se perderam nas contas que eu faço do dia que vai chegar. Vai chegar, eu sei que vai chegar. Mas o mundo parece tão vasto. Mundo, mundo, vasto mundo eu vou me afogar em saudade e o mundo não vai deixar de ser vasto.
Eu me arrasto. Assim é mais fácil. Já desaprendi a ficar de pé; meu joelho não aguentaria outra queda.

Agora você vai me fazer sorrir, mais uma vez. E eu vou me aguentando, nem de joelhos, nem de pé, você vai me fazer sorrir porque essa é a sua arma mais forte e você sabe dos truques para me fazer esquecer do que eu preciso lembrar: eu preciso lembrar que eu não te posso deixar esquecer…tem tanto tempo que eu quero te dizer isso, aquilo e mais um pouco, e eu só te conheço há uma vida.

domingo, março 22, 2009

Ele era Ele. Não podia dar a ele um nome que não fosse Ele. Até porque Ela, por ser Ela, tinha problemas em nomear as coisas, os sonhos e os sentimentos. Ele descobriu Nela que não fazia sentido esperar que as coisas ganhassem nome. E que a vida ganhasse forma. Ele não tocava violão porque não conseguia se livrar do fardo de ser canhoto. Ela era ambidestra, pintava com a esquerda e desenhava com a direita.
Ele tinha um sorriso lindo, que Ela até tinha pena de cobrir com beijo. Mesmo assim, tapou o sorriso dele com uma gaita e disse “toca”. Ele demorou mas com uns treinos até produzia alguma coisa parecida com música. Ela achava que tudo podia ficar guardado naqueles centímetros de boca: seu sorriso, seu beijo e agora sua música.
Ele não sabia dançar, não sabia cozinhar, não sabia fazer um elogio.
Ela queria dançar até o corpo cair no chão. Ela queria ouvir que os olhos dela, míopes, escuros e cheios de olheira eram os mais bonitos que ele já tinha visto.
Ele ainda não reparou nos olhos dela.
Ele tava querendo achar um jeito de mudar o mundo e ela insistindo para ele mudar de camiseta. Ela ia acumulando sonhos de conhecer o mundo e ele acumulando louça naquela república bagunçada, onde ela queria acordar todos os dias.
Ele tinha que ler. Ela tinha que estudar. Ele odiava se apaixonar. Ela procurava paixão em cada esquina. Ela convidou pra ver um filme. Ele queria um documentário, ela queria uma ficção científica.
Ela somou os nomes, os signos, as idades.
Ele acha o nome dela longo, não acredita em astrologia e sempre preferiu mulheres mais velhas. Ele pediu pra ela voltar mais cedo e parar de fumar. Ela chegou em casa de manhã e cheirando a cigarro.
Ele resolveu que estava tudo acabado. Fechou o livro, a porta, dobrou o lençol da cama.
Ela pediu mais uma chance de ouvi-lo tocar gaita. Só mais uma música e Ela ia embora…

Ele tocou o acorde final, que Ela não conhecia. Ela foi embora e Ele nunca a conheceu.

sexta-feira, março 13, 2009

pra duas gaúchas que fizeram a vida dessa paulista diferente..

O problema de ser esse tal de ser humano é que a gente cansa. A gente cansa do não-ditos, porque seria mais fácil dizer.A gente cansa de não receber a resposta que a pergunta fez, porque é tão mais fácil responder do que se calar. É mais fácil dizera verdade do que usar de joguinhos. e por que não dizer "eu morro de saudade" se a palavra sufoca e vira um nó de corda na suagarganta toda vez que você tenta entendê-la.É mais fácil desistir que continuar tentando é mais fácil evitar que procurar, é mais fácil ser só mais um. Mas agora eu escolhio mais difícil. e ele tinha que ser o único, eu iria procurá-lo. e, agora, quando tudo diz pra ser ao contrário, eu continuo tentando!
Era menina, ainda, mesmo que o jeito decidido que fazer as coisas quisesse convencer o mundo que não. Tinha toda a vontade de viver o mundo e levá-lo de cavalinho nas costas mas sempre era freiada por uma sensação de "ta faltando alguma coisa". Tá faltando alguém. Deus, como ele fazia falta.Se fazia de forte, se convencia que não podia perder a vida, as amigas, as coisas. Tinha um mundo na frente, uma mochila nas costas e uma garrafa na mão.O cigarro ia sendo acendido a medida que o sorriso dele ia sumindo na cabeça dela. Ela não podia se deixar esquecer. A lembrança, hoje, era tudo que lhe restava.
Caminhava, assim era mais limpar a cabeça. Aquele vento gelado aliviaria qualquer dor. Não podia sentir. Havia prometido que eram tempos de alegria.Que bonito ficava o seu rosto quando se deixava sorrir, despreocupadamente, como se o vinho nunca fosse acabar e a ressaca fosse uma invenção de quem tinha desistido de ser feliz.
O tempo ia passando e ela não sabia se ia se descobrindo como realmente era ou como era sem ele. Sem ele, o mundo tinha menos cor. Mas quem disse que ela não poderiapintá-lo sozinha?
Sentou. Já não era preciso caminhar para aliviar a cabeça. Acendeu um cigarro por gosto, não por necessidade.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Ela tinha os meios mais simples para te esquecer: livrar-se de suas fotos, sua letra, seus livros, seus beijos. Apaixonar-se por outro, outros, outras. Enumerar seus defeitos, suas falhas, não ligar para sua saudade. Mas ela atravessou um oceano inteiro, porque achou que só assim conseguiria.

Tinha aprendido que não entenderiam, simplesmente, não entenderiam seus gestos, seus medos não entenderiam seus motivos. Não entenderiam sua falta de respeito, seu desprezo, não entenderiam sequer seus sorrisos.

Fez tudo pelo caminho mais difícil, como sempre: escolheu a profissão que ninguém acreditava, escolheu a aparência que poucos confiavam, escolheu ter tido uma grande paixão por pouco tempo, do que um caso eterno de carinho. Escolheu o impacto do vermelho, do que a calma do azul.

Todo dia se perguntava: Por que sempre opta pelo caminho que machuca mais? Por que sempre prefere aprender tudo do jeito mais sofrido?

Ontem, ela entendeu: um homem não vai menos perdido por caminhar em linha recta...("O ano da morte de Ricardo Reis", José Saramago). Então tá, assim é mais fácil.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

eram dois estranhos.de nada sabiam um do outro mais do que aquele outro naquele momento tinha que fazer. quase se engoliram de tão trôpegos de uma saudade de um tempo que nunca existiu; nem pra ele, nem pra ela. ela lembrava do seu cabelo comprido e de como aquilo tinha sido uma idéia de criança. ele lembrava dela exatamente do ponto onde o ser criança tinha passado.

Reconheciam-se porque o tempo, por mais cruel que pode ser, não apaga a memória. Leva os cabelos dele. leva a ingenuidade dela, mas não leva uma vontade guardada e quase esquecida no fundo do porta-mala daquele carro pequeno; sob medida.

O tempo, já dito cruel, passava na velocidade da luz, agora, que eles tentavam desesperadamente entrar um no corpo do outro. Ela não parava de pensar no que ele podia pensar; 'é ridículo, é loucura'. eram dois estranhos.

Na tentativa última de saber o mínimo daquele que podia ser a causa de uma insônia no dia seguinte ensaiou uma pergunta: você...
mas ficou quieta.

separaram-se, despediram-se: quem sabe um dia ele volte a ter cabelos longos e ela volte a ser ingênua. quem sabe um dia se esquecem de ter que lembrar pra continuar fazendo sentido...era melhor que fossem estranhos. ela tinha medo de se reconhecer nele.
ele tinha medo de lembrar-se dela.

domingo, fevereiro 01, 2009

Você poderia, por favor, dizer o que pensa sobre os homens?

Ah, os homens...os homens são ótimos. Eles podem fazer xixi em pé, puta tecnologia essa história de pênis né? Tirou, xixi, pronto. Acho genial. E tem aquela história do desapego. Ah, digníssimo como homem não se apega a nada, só a mãe, né..mas essas coisas de psicanálise explica o tal do édipo. Então, a questão é que sabem mentir muito bem. Isso eu invejo. Eles falam que você é linda com a facilidade que comentam o clima no elevador. Mentem, olhando nos olhos e tudo mais. Essa coisa de mentir descaradamente é uma evolução do ser humano, sabe? Tipo perder o rabo? A gente perdeu o rabo. Homem, definitivamente, é mais evoluído porque sabe mentir. Além disso tem a coisa da capacidade de abstração. Homem abstrai: abstração, nessa coisa de new age é luxo! 'ela tem pêlo em cima do nariz e um dente no céu da boca: e daí? é gostosa'. Queria ser assim, acho que uma capacidade de enxergar no ser humano que ele tem de melhor: a essência! Homem sabe ver essência...é diferente, sabe ser sensível, né? Os músicos, vamos falar dos músicos! Como são ótimos os músicos...eles tão lá, tocando, com uma tremenda capacidade de olhar todas as fãs-pseudo-groupies AO MESMO TEMPO e, obviamente, selecionar quem vai ser a tiéte da noite e tal. Acho bonito que eles não se prendem..tipo MADE IN BRAZIL dizia 'mulher de músico é a música', isso aí. Músico não se apaixona, só por música, e a gente se apaixona pelo músico, pela música do músico, pela baqueta do músico, pela palheta do músico e ele tá lá; devoto da tal melodia. Invejo os músicos.
Ai, não podia deixar de falar da questão social dos homens. A imagem socialmente construída dos homens é um luxo, minha gente: eles bebem, são boêmios e nós alcoolátras-desclassificadas-sem-família. Eles se drogam são descolados e nós perdidas. Eles trepam com todo mundo, são garanhões interessantíssimos, nós, biscates e afins; sem dizer que eles não depilam, não menstruam e não tomam A PORRA DA PÍLULA DO DIA SEGUINTE; afinal, se a camisinha estourou certamente não foi culpa da incapacidade do homem de colocá-la. Vai ver a mulher é que se mexeu demais...
Mas é assim mesmo, homem é metrossexual, mulher é peruona e fútil.
Mas sabe o que eu acho mais digno no sexo dito-não-frágil, além da incapacidade de chorar com facilidade? é que eu termino esse comentário, durmo triste, acordo....

....e me apaixono de novo...por outro homem, idêntico aos outros; porque eles são incapazes de ser diferentes.


[salvo meus amigos gays - a melhor invenção do pós-modernismo]

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Ele não entendo porque eu conto a verdade, porque eu hoje digo tudo que senti, sinto e o que achei que pudesse ser sentido. Ele não entende porque eu fiquei quieta quando ela pedia pra eu gritar. Hoje eu acordei gritando, sozinha, e vou dormir sussurrando. Ainda sozinha. Agora é fácil dizer a verdade, falar do que podia ter sido. Falar do que podia sido e não foi. Antes eu tinha medo, agora eu tenho saudade desse medo.
Eu devia, há muito tempo, ter dito que a resposta era sim; claro que eu largaria tudo pra ficar com você. Largava família, faculdade, amigos, largava a mim mesma. E é por isso que você foi embora, eu larguei a mim quando você já não tinha mais forças pra me segurar.
e sozinha eu cai, largada, no chão.
Hoje eu posso te dizer a verdade, dizer que eu te amava feito uma idiota, e que o primeiro beijo que você deu em mim foi o recado do resto dos meus dias; você não vai mais poder ser tão feliz.
E não fui. e não tem como ser, se o sorriso que eu carrego hoje, é o que sobrou do seu sorriso de ontem...

terça-feira, janeiro 27, 2009

À Nayara, minha amiga de cachos e muitos não-ditos..

Quem é aquele homem bonito que vai sorrindo, olhando aquela vitrine como se o manequim tivesse acabo de contar uma piada? Aquele homem que não percebe que eu já vi o rosto dele me olhando no reflexo, e que acha que assim, de costas, é mais fácil me encarar? Quem é aquele homem que fala sussurrando, cabisbaixo e que morre de medo de deixar eu ver seus olhos? Quem é aquele homem que só me diz a verdade por letras de músicas? Que é aquele homem tão lindo que vai me deixando sem fôlego mesmo quando não me beija? Quem é aquele homem discreto que escreveu que me ama na areia, e apagou antes do vento? Quem é aquele homem que faz planos pro futuro e diz que o roteiro de um filme que ele pensa em escrever? Quem é aquele homem que veio pra ser o homem da minha vida? Quem é aquele homem que criou o meu sorriso e agora leva embora? Quem é aquele homem que tem medo de ser meu e mentiu pro mundo que eu não era sua? Quem é aquele homem que entrou na minha vida para acabar com ela?

Eu fecho os olhos, o decote, a mão. Eu guardo meu sorriso, eu não digo a verdade eu também falo baixo. Eu, que sorria e gritava dizendo: vem, meu homem. Agora eu to quieta, to quase sozinha. To do lado dele, brincando de manequim...tem um vidro entre a gente.. tem um vidro não deixando eu encostar nele... homem, essa vitrine é o teu medo. Perde esse medo e me despe. Eu não quero mais brincar de manequim...

domingo, janeiro 25, 2009

Não tinha entendido que o mundo não é justo. Não sabia ainda que é de muita malandragem e pouco respeito que se faz uma relação. Empalideceu. Nunca soube como agir diante daquilo: a dualidade do eu te amo, mas não sei por onde te desculpar.
Cresceu confiante no que lhe ensinaram: nunca julgue, ou será julgada. por dias e dias se perguntou: e os que me julgam, quem os julgará depois? A mim me calaram. Quantos mais acreditam que é do silêncio que cresce o respeito?

Mais uma vez ela se calou e seguiu vestindo as suas roupas que ninguém perdoava, a sua boca pintada que ninguém entendia: é um manifesto!

E o seu cabelo desorganizado, sua unha vermelha, seu corpo marcado; é tudo um pedido, uma súplica silenciosa que insiste: não venha me julgar. hoje, ela só quer saber de si.

E todos aqueles que ela despreza. todos aqueles que ela não tolera. Um julgamento?
Um pedido de licença.
A vida dela é curta demais.

Não vamos mais perder tempo.


She don´t lie, cocaine...

domingo, janeiro 18, 2009

Que foi? Não me olha assim. Essa sua cara não me engana mais. Eu sei o que você quer. Quer que eu te explique, não é? Quer que eu diga como eu posso me manter assim calma?
Fácil.
Eu aprendi seus truques, menino. Eu aprendi seu blefe. E agora, não me importa. Quanto mais você fingir que não me vê quando eu passo eu teu lado, mais eu sei que o meu perfume aguça sua lembrança.
Quantas mais vezez você errar meu nome, eu terei a certeza plena de que ele que você soletra, sussura, repete incansavelmente debaixo do cobertor úmido. Enxarcado do desejo que você tem por mim.
Pouco, muito pouco me importa a tua indiferença. Eu sei que to dançando catira no teu coração. To enchendo de vermelho teu dia cinza. Tô trazendo insônia pro teu tédio sonolento.
Se mais duas vezes você fingir que não me vê, duas vezes mais eu garanto no meu quieto ser que é de noite, no escuro, que você tapa os olhos e chora, porque a minha imagem não quer mais, não vai mais fugir.

Corre, menino, corre... ou você vai se perder em mim.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

No teu primeiro adeus, você disse tantas coisas que não justificavam a sua mão abanando e se despedindo de mim. Eu fiquei tão triste. Perguntei pros amigos, pra família, pro mar, pro céu e pra qualquer outra coisa que parecesse minimamente menos confusa que eu: Por quê?
Me responderam uns que não sabiam, outros que não procurariam saber. O mar e o céu me engoliram, era o jeito deles de me afagar.

Eu vi o teu segundo adeus quase incrédula, e você, dessa vez, não me disse nada. Procurei todos a quem eu tinha procurado e ao contrário do ulterior silêncio veio a mim uma avalanche - massacrante - de motivos. Todos enumerados, claros e coerentes. Você teve todos os motivo pra ir embora, e, ao contrário dos paradoxos tão bonitos da maioria das paixões, você foi. Nada de você não é bonita, mas eu acho. Nada de você fuma, mas eu tolero. Nada de você não é perfeita, mas ainda assim me encanta.

Você tinha todos os motivos pra ir embora. E você foi.

Eu tinha todos os motivos pra não te deixar ir. Eu só não os encontrei quando foi preciso.

Agora você vê o balanço sereno do meu braço dizendo: adeus, homem da minha vida. Agora eu vou contar uma história de amor: às avessas.

Primeiro veio o fim... o resto é vida.