terça-feira, abril 21, 2009

Beatriz não gostava de trânsito, não gostava de ônibus, não gostava do calor dos transportes públicos. Era como qualquer menina. Classe média, último ano na universidade, três relacionamentos estáveis findos, emprego part-time na livraria, pais separados e um monte de meio-irmãos. Beatriz não era bonita, nem se vestia para isso. Andava com o cabelo preso em um rabo de cavalo que ia de um lado para outro de acordo com o balanço do ônibus.
Beatriz odiava quando o botão PARAR do ônibus não funcionava, porque sempre o que estava perto dela que não funcionava:“que sorte”. Levantou, seguindo com o rabo de cavalo o ritmo do ônibus. Foi até o botão que sabia que funcionava, e a sua mão foi prensada por outra mão, que, ao que tudo aparentava, também queria apertar aquele botão, o único que funcionava.
“Desculpa”, disse o rapaz, que não era bonito, mas se vestia muito bem.
“Foi nada”, respondeu Beatriz que tinha ficado estática com o sorriso singelo do moço. Beatriz não sabia disfaçar. “Você vai para onde?” O moço perguntou, abrindo mais o sorriso que tinha paralisado Beatriz e o seu rabo de cavalo.
“Vou aqui para rua de trás”, respondeu pensando que finalmente alguma coisa ia ser direta na sua vida, andava cansada das burocarias.
“Posso te acompanhar, até lá, quem sabe, eu consigo saber seu nome e seu telefone”
“Eu sou Bia, digo, Beatriz. Mas chama de Bia, que Beatriz parece meu chefe falando”
“Tá certo, Bia, quer anotar meu número?”
Bia abriu descoordenadamente a bolsa, procurando seu celular.
“Segura, por favor?”
O rapaz segurou a bolsa enquanto Bia nervosa procurava. O rapaz tirou a bolsa da mão dela e lhe deu um beijo, demorado, que desmanchou o seu rabo de cavalo.
“Isso é um convite para entrar na sua vida?”, perguntou Beatriz, orgulhosa da sua frase poética.
“Não, Bia, isso é um assalto.”
O rapaz de sorriso singelo saiu correndo com a bolsa e o celular que ela não tinha encontrado…
Beatriz, três relacionamentos estáveis findos, uma bolsa e um celular mais pobre, voltou para casa.

segunda-feira, abril 20, 2009

E se eu desse voz a minha loucura? Você não faria, tem medo do que eu tenho para dizer para o mundo.. é que ele não me conhece, loucura, e não vai entender nada. É melhor não entender nada agora que ele não te trouxe nada, porque depois, se ele trouxer, vai ser pior para você e para mim...Aí nunca mais eu vou sair daqui. Mas, loucura, por que você não fica aí, quieta. Eu te deixei num lugar confortável, loucura, eu te dei meus sonhos para brincar, por que você quer minha realidade também?Porque eu sou a sua realidade, eu sou você. Olha para os lados, eu sou o vermelho da sua tatuagem, eu sou o vermelho da sua boca, o vermelho do seu sangue. Não, loucura, você não vai crescer mais. Eu já cresci, mulher, eu sou você, quando vale a pena ser...agora, que você ta cansada, eu me calo, eu deixo passar. Mas é o teu sorriso que me fortalece, eu quero vermelho e você traz vermelho pra mim. Pára, loucura, não aparece assim no meu sorriso, que ele não vai entender. Pára de desenhar o nome dele na minha cama, eu preciso dormir, loucura. Enquanto eu não dormir, você vai se fortalecendo e eu to ficando fraca. Deixa eu te engolir, porque ele não vai querer...Ele já me engoliu, loucura, me levou para o pátio da cabeça dele onde eu espero, sentada num banco cinza, ele me buscar de volta. E, nele, não cabemos nós duas. Ou eu ou você, loucura. Eu vou. Por que você, se sou eu que quero? Porque você não sabe querer sem mim. tuas paixões vão ser loucas, até o dia que você desistir e só eu vou existir...ele não te quer, loucura. ele quer a mim, normal. Acontece que você não existe sem mim. E o que eu faço, loucura?Traz ele pra mim. Você vai enloquecer ele também? Prometo que vou tentar...

domingo, abril 19, 2009

Maria, as flores estão no seu cabelo, as flores estão no olhos, as flores estão em você. Maria, que é que ele veio dizer?
Ele veio ficar quieto.
Maria, a lua brilha no seu cabelo, a lua brilha nos seus olhos, a lua brilha em você. Maria, que é que ele veio lhe dar?
Ele não veio me dar nada.
Maria, o céu azul cabe no seu cabelo, o céu azul cabe nos seus olhos, o céu azul cabe em você.
Maria, o que é que ele veio sentir?
Ele não sente nada.

Maria, e o que você faz com essas flores, essa lua e esse céu azul, todo em você?

É ele que fez, eu só vou devolver.

sexta-feira, abril 17, 2009

Carta ao meu amigo desconhecido.

Cartas são coisas importantes. As pessoas mais importantes que eu conheço, e que você conhece, certamente escreveram alguma carta. E receberam. Hoje eu não posso te escrever esse tipo de carta. A nossa carta vai ser sempre assim, sem destinatário conhecido e com remetente bem vago. Mas eu sei que você vai me entender, senão eu não escreveria.
Você me disse que tem essa mania de apagar mais que escrever, é por isso, meu caro amigo desconhecido, que você vai continuar assim…desconhecido. E não é porque eu quero. Você não vai mudar, você nem quer mudar. Seus sentimentos existem, eu sei, mas devem ser agradáveis demais para você insistir em mantê-los com você e não dividir com ninguém. Você ta pensando como eu posso ser tão egocêntrica né? “Não é porque eu não te digo o que sinto que não digo para ninguém”. Taí uma verdade sobre mim: eu sou egocêntrica.
Tão egocêntrica eu sou que acabo não pensando nas pessoas e na reação delas. Eu digo o que eu sinto que preciso dizer, para o meu conforto. E nunca me perguntei se as pessoas querem ou estão disponíveis de ouvir, e no seu caso, ler.
Você me é tão desconhecido que me deixa confusa. Você é tão desconhecido que eu acabo perdida e preciso te imaginar. E é te imaginando que eu me perdi, eu sei. Eu preciso guardar a minha criatividade para coisas menos perigosas e que não envolvam pessoas. Você não tem nada a ver com os meus sonhos, além de ser protagonista deles.
Há uns dias que eu escrevo. E tudo que eu escrevo tem seu nome, tem a tua cara que eu imagino. Acho que você não percebe, ou finge que não percebe. É tão mais fácil fugir de mim do que ler o que eu tenho para te escrever, não é? E diferente de você, eu nunca apago.
Esse foi o texto mais mal escrito da história da minha vida, um dos que eu mais demorei para escrever, e eu recorro ao Chico, porque ele diz e eu repito que eu prefiro então partir a tempo de poder a gente se desvencilhar da gente…
Você vai ser sempre meu amigo desconhecido, por quem eu inevitavelmente me apaixonei… Eu não sei como você veio, agora é hora de saber como você foi embora.

Um beijo, de quem não conheceu os seus,

Ms. P.

quinta-feira, abril 16, 2009

É como se você estivesse aqui. Eu to gargalhando das suas piadas sem graça e da sua cara de tédio. Você reclamou de novo da minha comida, fica dizendo que sempre fica sem sal. É claro que não é tão boa quanto a da sua vó, não precisa me lembrar disso. “Ela não me manda lavar a louça!”. Claro que não, ela não mora numa república!
Parece que você ta aqui, lendo, enquanto eu tiro o meu cochilo pós almoço, deitada na sua barriga e ouvindo a sua digestão da minha comida sem sal. Eu gosto de dormir assim, me acalma porque é o barulho que me lembra que você continua comigo, não importa a besteira que eu diga, ou a falta de sal na comida.
Eu não encontro a minha saia, enquanto você ri da minha promessa para São Longuinho. “você nunca cumpre suas promessas”. Não mesmo. Eu tinha me prometido não me apaixonar de novo.
Seria bom se você tivesse aqui, você ia rir da facilidade com que choro, ia me chamar de manhosa e mandar eu mostrar o machucado…”Não é nada”, você me diria passando o remédio e me dando beijinhos estupidamente rápidos e estalados que fariam cócegas na minha bochecha, e me fariam rir, mais uma vez.
Eu sempre fico ansiosa pela noite, como se você fosse chegar em casa, imitar o Dino e me chamar com algum apelido idiota que você vai pensar na hora. Você vai fingir que não percebeu que eu sai antes da aula para me arrumar e te esperar, fingindo que a roupa foi escolhida ao acaso e que eu não tinha sequer me arrumado. Mas o brinco não nega. Você perceberia que eu coloquei o brinco que você me deu. E não era por acaso.
Eu te sinto aqui, é maluco, eu sei. Mas as vezes eu leio em voz alta um trecho do livro que você ia gostar. Ai eu começo a rir imaginando você interpretando um personagem do machado. Ai eu paro de rir, claro. Não tem graça, eu to sozinha, com o dedo machucado, sem beijinho estalado e comendo sozinha, vestida com a primeira roupa que eu achei, uma comida sem sal.

terça-feira, abril 14, 2009

quero ficar no teu corpo feito tatuagem,
que é pra te dar coragem para seguir viagem
quando a noite vem...
Eu não lembro de ter sido tão desejada. Ele queria mesmo que eu tivesse ali. Ele queria que eu fosse dele, daquela maneira, como a gente havia sonhado durante dias. A minha alma parecia tão próxima da dele, que ali, colados (corpo a corpo, boca a boca), quanto mais dentro de mim ele estava, mais dentro deveria estar. E nunca era o suficiente. Não parecia justo que duas pessoas não pudessem definitivamente ser uma só. Como? Eu quero que vocês, senhoras e senhores, me expliquem como é possível? Se nada nele podia ser eu, se nada do que me emocionava também o emocionava, me diz porquê? As coisas deviam fazer sentido e não perderem o nexo quando ele chega. Mas é o cheiro, são as mãos compridas, é a cara de quem já me conhece mesmo sem nunca ter me visto.
Eu fui ficando meio bêbada daquele menino, que tinha cara de menino e voz de homem. Justo dele, que se envergonhava perto de pessoas bêbadas. Ele acha ridículo o jeito que eu danço, ele não gosta de como eu me visto, ele não entende meu caminho torto. Mas sabe que eu me dispo se ele pedir. Sabe que eu paro de dançar se ele quiser. Sabe que eu ando em linha reta se ele me deixar pegadas para eu seguir. Eu só não posso, menino, apagar as marcas. Eu só não posso, menino, dizer que eu já não sou. Minhas marcas são meu manifesto e um aviso: eu sabia que você ia chegar, o menino com jeito de homem que ia derrubar meu castelo de cartas. Eu marquei meu corpo para me prevenir de você. Não adiantou, mas isso você não pode apagar.

sábado, abril 11, 2009

Esse texto foi feito para um menino e uma menina,
que deixam meus dias aqui menos frios...
A menina de quem eu falo tinha no nome aquilo que ia ser uma sina, bela. O menino, até onde se sabe, levava no nome a incógnita: rico? Ninguém aqui falou de dinheiro.
Ele tinha uma riqueza qualquer que quase soterrava o corpo todo. Ele se afogava na própria alma que ele não sabia conduzir, ficavam só os cabelos loiros a voar. Recém fizera dezoito anos e tinha muito sentimento para carregar.
Ela, também muito nova, trazia no rosto um paradoxo: olhos tão fundos que remontariam a uma experiência vinda de não se sabe onde, misturados com um sorriso que era de hoje, que sorria para o agora. Bela tinha tanto medo do futuro, que contava seus dias como alguém que separa minusciosamente o feijão. Um dia bom, um dia ruim.
Ele, ainda sem entender o que é que acontecia, tinha que manter uma imagem, um semblante, ainda que no fundo quisesse dizer para ela…bela, bela…acontece que essa noite, acontece que nessa vida, ele só queria saber dela.
O olho verde ficava ainda mais verde quando ele chegava perto. Ele tinha medo de ser perder naquele verde todo, parecia uma selva imensa. Justo ele, que morou a vida toda na cidade.
Ela vai pedir que ele prometa que vão ficar sempre juntos. Ele vai dizer que não é homem de promessas, mas vai dizer, lá no fundo, onde só ele e seu Deus escutam, que ele tinha feito aquela promessa há dias, enquanto colhia as flores perdidas no verde dos olhos dela.

sexta-feira, abril 10, 2009

Você disse que me lê. Eu não duvido. Então essa vai ser a nossa despedida. Aqui, nesse lugar, onde tudo começou.
Você me disse que se apaixonou primeiro pelo que eu escrevia e depois por mim. Enquanto eu me apaixonei por você inteiro, o tempo todo.
Eu não vou voltar nesse assunto do você gostou ou não gostou de mim. Isso perdeu completamente o sentido. Eu vou falar do que eu sinto, e só. Eu preciso virar a página desse livro, e eu só posso virar essa página escrevendo esta história até o final.
Vamos lá, eu vou falar aquilo tudo que você já sabe: eu te amei feito uma idiota, eu achei que o meu mundo começou a fazer sentido no dia que você entrou na minha vida... Eu achei que você era o homem da minha vida. E eu ainda acho.
Mas o homem da nossa vida pode passar por ela e ir embora. É sorte demais que ele espere que você cresça e veja as coisas como as coisas realmente são. Eu sempre vi tudo meio errado.
Todos as pessoas que eu conheço já me mandaram te esquecer. Eu já me mandei te esquecer. Você, se bobiar, já mandou eu te esquecer. Mas é aquela coisa, né...eu sempre fui teimosa.
Várias vezes eu escrevi o email de despedida, a foto de despedida, a conversa de despedida. Bando de besteira. Eu sempre te dava adeus doida pra ouvir um até logo, até breve, até agora. Até agora eu to esperando que você venha dizer que sente a minha falta, e não só as vezes..
Meu deus, quanto tempo faz? Meses, mais de um ano. Tudo mudou na minha vida. Nada lembra quem eu era quando eu te conheci. Acho que nem você lembra quem eu era quando eu te conheci.
Eu lembro. cada detalhe seu. e eu amei, cada detalhe seu. até os que eram menos bonitos, ou feios, mesmo.
Eu dizia que você era uma letra só, a letra B. A letra B que era o que fazia meu vocabulário existir, minha poesia acontecer. Você vai ser a única letra que eu não vou poder mais usar.

Eu nunca tentei te esquecer. Eu nunca quis tirar você da minha vida. Mas agora eu tenho que tentar. E eu vou aprender que não vale a pena te amar. nem mais, nem demais.
E se me encontrar por aí, vira o rosto e se esconde. Porque eu prefiro teu rosto virado do que a tua incapacidade eterna de me olhar nos olhos...

terça-feira, abril 07, 2009

Você conhece aquele rapaz que vem vindo em minha direção? Não, quem é? Também não sei, mas ele me olha de um jeito que parece que já me conhece, até me dá medo de ouvir o que ele vai me dizer. E como você sabe que ele vai te dizer alguma coisa? Eu sei que vai, pelo jeito que me olha e pelo jeito que obriga eu a olhar, eu vou me perder nos olhos deles e parece que assim deve ser melhor. Você tem essas idéias.
Ele me pergunta o que eu sei, e eu sei tão pouco..Não me olha assim, rapaz…
O que você sabe, me diz?
Eu só sei o que eu sinto, eu sei o que eu vejo. Eu sei porque eu minto para não dizer que te desejo. Eu sei pelo momento e pela inspiração, eu sei pelo tormento que diz que é amor essa confusão. Eu sei pela saudade, pela falta que me faz não te ver sorrir. Eu sei que é verdade porque é em ti que eu penso antes de dormir. Eu sei pelo beijo que você me dá quando chega em casa, eu sei porque isso me molha, me encharca, vaza. Eu sei porque todos os sonhos que eu tive foram contigo. Eu sei porque é seu abraço que eu chamo de abrigo. Eu sei quando eu recebo tua mensagem, na noite e no frio. Eu sei pela tristeza que dá o meu e-mail vazio. Eu sei pela vergonha de ti quando me porto como louca, eu sei pelo medo de mostrar a minha voz rouca. Eu sei quando não faz sentido e quando eu uso esses clichés. Eu sei porque vai ser melhor porque vai ser com você. Eu sei porque dá vontade de dizer, e eu sei porque não sei como falar…eu sei quando entendo que viver é aos poucos me matar. Eu sei quando eu perco o ar, eu sei quando não acho o chão, eu sei quando eu peço para você voltar e fico morrendo de medo da solidão. Eu sei quando te vejo dormir, eu sei pelo ciúme de tudo. Eu sei quando te faço sorrir, eu sei quando você acaba mudo. Eu sei porque já é tão tarde e eu espero você chegar. Eu sei que você vai embora, eu sei que você não vai esperar…
Me espera?
Não posso, acontece que você não sabe de nada…

sábado, abril 04, 2009

Eu vou tentar te escrever tudo aquilo que eu não te disse. Eu vou te escrever todas as músicas que eu mandei e você não pode ouvir. Eu vou vomitar o sentimento do mundo no seu colo, e você vai fazer dele massa para um outro que vai nascer.
Eu vou dançar no seu ritmo, andando atrás das suas pernas, como se elas fossem a única que estrada que me leva a mim mesma. Seu caminho vai torto, eu tonta, não sei quando vai acabar.
Eu não quero te dar datas para lembrar, não quero te dar responsabilidades, não quero te dar sentimentos para sentir. Eu não quero te dar saudade.
Eu não quero te dar sonhos, porque eu não vou estar aí para te acordar deles.
Eu não quero te assustar, eu não quero que você tenha medo de mim. Eu tenho medo de mim, e isso já basta.

Os meus dedos se perderam nas contas que eu faço do dia que vai chegar. Vai chegar, eu sei que vai chegar. Mas o mundo parece tão vasto. Mundo, mundo, vasto mundo eu vou me afogar em saudade e o mundo não vai deixar de ser vasto.
Eu me arrasto. Assim é mais fácil. Já desaprendi a ficar de pé; meu joelho não aguentaria outra queda.

Agora você vai me fazer sorrir, mais uma vez. E eu vou me aguentando, nem de joelhos, nem de pé, você vai me fazer sorrir porque essa é a sua arma mais forte e você sabe dos truques para me fazer esquecer do que eu preciso lembrar: eu preciso lembrar que eu não te posso deixar esquecer…tem tanto tempo que eu quero te dizer isso, aquilo e mais um pouco, e eu só te conheço há uma vida.