quarta-feira, julho 25, 2007

Aí entrava. Com a força de quem queria ferir tudo, todos. Como se aquele cheiro fosse capaz de transformar toda sua civilidade. E um queria ser do outro numa espécie de posse obsessiva. Tão doentio quanto poético. E aquela sublime atmosfera carnal trazia de dentro dela uma maldade desconhecida. Contorcia-se pra evitar o inevitável. E quanto mais se fundiam em um mais o controle de suas mãos diminuíam. As pernas em cãibra e os braços descontrolados estapeando o que podiam. Mordia para evitar o grito. Gritava para clamar o gozo. E nunca estaria exausta. Engolia, enchia a boca. Queria se afogar, queria vomitar. Queria contar pros vizinhos, pros amigos, pro mundo: que só assim ela se sentia bem.

sábado, julho 14, 2007

Pega tua boneca de pano. Gira. Gira. Gira. Pega tua boneca de pano e morde a boca dela. Ela não sente dor. Pega tua boneca de pano. Apalpa, alisa, belisca. Ela é tua mesmo. Pega tua boneca de pano. E fode, morde, sacode. Ela não sente. É de pano. Pega tua boneca de pano. Escarra, pisa e grita “é de pano, minha gente. Não vale nada. Não grita nem reclama”. Rasga tua boneca de pano, porque a pressa não te deixa fazer as coisas direito. Arranha tua boneca de pano, porque teu pudor te restringe a carne [e que carne é essa que digo?] e quando cansar, não custa, deita tua boneca de pano na cama porque ela ta cansada, suja e maltratada. “Mas não é de pano sua cabeça?”. Acaricia e diz que ama sua boneca de pano. “mas não é de espuma seu coração?”.Joga tua boneca de pano, que agora ela só é pano de chão.