domingo, dezembro 28, 2008

último post desse ano, feito pra dizer que ano que vem tudo vai ser diferente; menos vícios, menos faltas, mais saudade.

e talvez mais intensidade, que é pra contrariar tudo que eu disse em 2008 sobre como as pessoas são melhores mais indiferentes e menos sensíveis. Esse ano eu não quero ser indiferente pra sentir menos. Eu quero sentir mais, mais e mais. E quanto mais incomodar, melhor. Resolvi assumir que indiferença não é comigo. Eu me importo muito. Eu. Agora não me incomoda que as pessoas não se importem, eu vou continuar me importanto.

Que se dane os problemas da intensidade. Eu quero engolir o mundo, nem que seja pra vomitar tudo depois.

Me encontrem por aqui http://perdidanaterrinha.blogspot.com/ enquanto eu estiver por lá...

Esse blog é pra contar as peripécias diárias e deixar meus amigos mais tranquilos (ou mais preocupados); mas o que tem que ser dito sobre o que se sente e me cala, continua por aqui.
Aos poucos (e estimados) leitores desse blog: Um bom ano novo, porque ainda que não se mude muita coisa, ter a ilusão de poder recomeçar faz um bem danado.

E se vocês querem saber o que eu prometi o ano que vem, adianto: menos coca-cola, menos "émelhornãodizernada" e muito, muito mais vermelho.


Comecem tudo de novo, mesmo o que já está acabando!

Beijos,

Rosa.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Eu sei teu nome, tenho teu telefone e tanta vontade de te ligar. Você não lembra mais meu nome, nunca me ligou, mas sabe de truques bem feitos pra me conquistar. Eu aprendi tua língua, aprendi a ordem do que você vai dizer, eu decorei a sua rotina. Você não pergunta o que eu ando fazendo mas descobriu mil maneiras de me prender a você; eu ando teu passo, teu caminho precede o meu.
Teu rosto vai apagar do meu espelho e eu não quero. Eu não quero esquecer o teu jeito mal educado de dar bom dia. Você não decorou onde fica cada tatuagem minha, e eu sei o número exato de pintas que você tem ao longo das costas. Eu respiro de novo, parece que não tem mais o teu perfume onde eu passo. Que pena, amor. Eu quase consegui sonhar contigo ontem, só faltou pegar no sono.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

ontem, deitada na minha cama, que era sua eu entendi: que de nada mais me valem as palavras,
meu poema mais bonito há muito eu já havia escrito.

escrito de suor, nas linhas da sua mão...tortas, pra combinar com a história que eu contei...

de um amor sem rumo; e de uma poeta sem rima.

sábado, dezembro 06, 2008

Madrugada. Se ela de fato fumasse, procuraria o único posto aberto daquela cidade e fumaria um por um os cigarros do maço, contando a cada tragada os defeitos dele. Mas ela disse que parou de fumar e resolveu acreditar nisso.

Se ela fosse um pouco menos preguiçosa, andaria algumas quadras até esse tal único posto aberto e traria embaixo do braço umas poucas cervejas, que é para o sono vir mais rápido. Mas tudo que ela faz é permanecer recostada na janela, esperando o cigarro e a bebida chegarem até ela enquanto ela reclama sozinha daquela rua que oferecia silêncio quando o que ela precisava era de gritaria, que é para calar o pensamento.

Ligou a música, tirou os sapatos e a roupa: nunca usava sutien...Sabia que ele preferia assim. Andou pé ante pé como se no quarto alguém dormisse. Enfiou-se devagar no lençol para não acordar sua companhia noturna. Esfriava. Passou o braço pela cintura dele e o braço caiu na cama, para lembrar o que ela fingia que esquecia: estava sozinha.

Meu Deus, será que eu nunca vou te esquecer? Quantas cartas ainda eu vou escrever sem você ao meu lado?

“Oi meu amor,

Quando resolvi escrever este bilhete eu quase desisti. Tenho um vinho aqui comigo. Eu quase nem comecei. É provável, quase certo, que eu não te envie. Mas o vinho tá bom. Minha letra tá feia, a página tá rasgada, e eu, meu amor, já não sei mais do que falo. Faz um tempo, eu reclamava. Reclama dos seus sumiços, reclamava do seus não-ditos, reclama de nós. Eu não tenho caráter nenhum, amor... se tivesse a gente já não estaria junto, a gente seria bons amigos, bem-sucedidos, quiçá bem amados, não é? Uma pena mesmo eu não ter caráter.”

Ele não quer continuar a ler. Pára, senta. Seca as mãos na calça suja de molho de tomate.

Ai, meu amor, se eu fosse forte não estaríamos assim...você teria ido embora quando minhas saias já não te deixavam louco. E não agora que eu já não uso mais saias por sua causa. Se eu não fosse assim tão fraca, eu teria lhe pedido pra sair, toda vez que você se recusava a entrar”

As suas pernas. Será que ela nunca notou o meu sorriso quando ela aparecia com a saia rodada que voava no vento? Eu sempre achei tão bonito, era quase uma modelo. Eu gostava até das suas cicatrizes.

Se você soubesse que eu só queria que você também falasse do futuro...só brincadeira, sabe? Eu sei que você tem suas viagens pra fazer..e eu, ah, querido, eu tenho tanta fetiche pra realizar. Tanto corpo pra conhecer, né? Você tem suas montanhas e eu as bocas. É assim né...gente diferente é um porre. Um porre. Eu to tomando um porre.”

Ele acende um cigarro; ela ficava linda quando se embriagava. Alguma coisa nessa lembrança o excitava. Mas doía...

“não...não era mentira quando eu dizia que perdoaria um erro teu. Eu perdôo toda vez que eu não te sinto, não te perdoaria justo na única vez que você se tornaria humano? Traição é humanidade. Seria demais pra você, demais pra mim também que sou ciumenta. Mas meu ciúme, por pior que seja, me mantém viva. E você? Até quando vai me dizer que vive, caminhando por ai com essa carcaça fraca que não sustenta nada? Só desilusão...”

Traição...eu não conseguia te trair por falta de libido, mulher. Tua imagem sugou todo meu desejo. Eu era tão seu. Eu sou tão fraco. Por que foi que você nunca sentiu?

Meu Deus, isso já passou de um bilhete...o vinho passou de uma taça... Eu não bebo pra saciar nada. Eu não bebo por saudade de nada. Eu bebo é por pena. Por pena das pessoas que resolveram desistir de querer. Desistir de gostar. E eu nem sabia que existiam, fora dos livros, pessoas assim. Até te conhecer...”

Como ela consegue ser tão doce até quando atira em uma piscina de agulhas?

Enviei a carta. Terminei o vinho. Como eu posso mentir? Como eu posso não falar de saudade?

Eu to ficando louca. Me escuta, loucura, essa é a minha despedida. É o meu adeus. Au revoir, bye baby. Tô indo embora. EU VOU EMBORA.

Não vai. Fica aqui.

Eu só vim te entregar essa carta.

Ela é o post-scriptum da minha vida. Eu escrevo meu texto coerente. Eu não erro. Eu sei o que dizer e como dizer e aí ela vem...com essa força que eu não sei de onde ela tira e me bagunça a lógica, mas eu não vou reescrever mais o meu texto. Ela vai ser o meu adendo, a minha última lembrança, o meu recado final. Eu não vou mudar.

Você me traiu?

Trai.

Por quê?

Porque ele me deixava ser fraca.

Você é um monstro, mulher. Você me engole. Língua vai, língua vem. Na tua boca eu não sou ninguém.

Ai, loucura, ele acha que eu sou forte. Ele me olha como se eu não pudesse mais fraquejar.

Você não é fraca.

Não era. Seu amor me enfraquece.

O meu amor? Mas por quê, mulher?

Porque ele é bom. Você é bom. Você é gentil. Você confia em mim e a tua confiança me subestima. Você sabe que eu preciso de você e isso me faz mais fraca ainda...eu precisava dele. Ele era feio. Ele não tinha teus olhos, mas ele me deixou ser fraca.

Vem cá, me abraça.

Não deixa, loucura. Não deixa ele me pegar no colo. Eu vou ficar protegida. Eu vou tirar minha capa. E aí, loucura, começa a lama. A merda. Ele me joga no poço escuro da vida dele e ele sabe que só ele pode me salvar. Não deixa, loucura. Mata esse homem, mastiga...depois vomita ele em cima de mim. Sem ele eu não tenho paz.

Sem você eu não tenho paz.

Olha, eu vou indo.

Não, fica!

Fico.

Ela acendeu um cigarro, abriu um sorriso. Tremia. Se beijaram tão trôpegos que foram caindo...no sofá, no tapete, na cama, no chão...

Eu me arrasto, loucura...eu me arrasto por ele. Ele ta dormindo e eu não posso mais. Ele quieto e eu preciso gritar... eu me arrasto, eu me sujo...eu vou rolando até a sala...a varanda...Eu me arrasto porque eu não sei voar...

Ela não sabia voar. Mas tentou.