domingo, março 22, 2009

Ele era Ele. Não podia dar a ele um nome que não fosse Ele. Até porque Ela, por ser Ela, tinha problemas em nomear as coisas, os sonhos e os sentimentos. Ele descobriu Nela que não fazia sentido esperar que as coisas ganhassem nome. E que a vida ganhasse forma. Ele não tocava violão porque não conseguia se livrar do fardo de ser canhoto. Ela era ambidestra, pintava com a esquerda e desenhava com a direita.
Ele tinha um sorriso lindo, que Ela até tinha pena de cobrir com beijo. Mesmo assim, tapou o sorriso dele com uma gaita e disse “toca”. Ele demorou mas com uns treinos até produzia alguma coisa parecida com música. Ela achava que tudo podia ficar guardado naqueles centímetros de boca: seu sorriso, seu beijo e agora sua música.
Ele não sabia dançar, não sabia cozinhar, não sabia fazer um elogio.
Ela queria dançar até o corpo cair no chão. Ela queria ouvir que os olhos dela, míopes, escuros e cheios de olheira eram os mais bonitos que ele já tinha visto.
Ele ainda não reparou nos olhos dela.
Ele tava querendo achar um jeito de mudar o mundo e ela insistindo para ele mudar de camiseta. Ela ia acumulando sonhos de conhecer o mundo e ele acumulando louça naquela república bagunçada, onde ela queria acordar todos os dias.
Ele tinha que ler. Ela tinha que estudar. Ele odiava se apaixonar. Ela procurava paixão em cada esquina. Ela convidou pra ver um filme. Ele queria um documentário, ela queria uma ficção científica.
Ela somou os nomes, os signos, as idades.
Ele acha o nome dela longo, não acredita em astrologia e sempre preferiu mulheres mais velhas. Ele pediu pra ela voltar mais cedo e parar de fumar. Ela chegou em casa de manhã e cheirando a cigarro.
Ele resolveu que estava tudo acabado. Fechou o livro, a porta, dobrou o lençol da cama.
Ela pediu mais uma chance de ouvi-lo tocar gaita. Só mais uma música e Ela ia embora…

Ele tocou o acorde final, que Ela não conhecia. Ela foi embora e Ele nunca a conheceu.

sexta-feira, março 13, 2009

pra duas gaúchas que fizeram a vida dessa paulista diferente..

O problema de ser esse tal de ser humano é que a gente cansa. A gente cansa do não-ditos, porque seria mais fácil dizer.A gente cansa de não receber a resposta que a pergunta fez, porque é tão mais fácil responder do que se calar. É mais fácil dizera verdade do que usar de joguinhos. e por que não dizer "eu morro de saudade" se a palavra sufoca e vira um nó de corda na suagarganta toda vez que você tenta entendê-la.É mais fácil desistir que continuar tentando é mais fácil evitar que procurar, é mais fácil ser só mais um. Mas agora eu escolhio mais difícil. e ele tinha que ser o único, eu iria procurá-lo. e, agora, quando tudo diz pra ser ao contrário, eu continuo tentando!
Era menina, ainda, mesmo que o jeito decidido que fazer as coisas quisesse convencer o mundo que não. Tinha toda a vontade de viver o mundo e levá-lo de cavalinho nas costas mas sempre era freiada por uma sensação de "ta faltando alguma coisa". Tá faltando alguém. Deus, como ele fazia falta.Se fazia de forte, se convencia que não podia perder a vida, as amigas, as coisas. Tinha um mundo na frente, uma mochila nas costas e uma garrafa na mão.O cigarro ia sendo acendido a medida que o sorriso dele ia sumindo na cabeça dela. Ela não podia se deixar esquecer. A lembrança, hoje, era tudo que lhe restava.
Caminhava, assim era mais limpar a cabeça. Aquele vento gelado aliviaria qualquer dor. Não podia sentir. Havia prometido que eram tempos de alegria.Que bonito ficava o seu rosto quando se deixava sorrir, despreocupadamente, como se o vinho nunca fosse acabar e a ressaca fosse uma invenção de quem tinha desistido de ser feliz.
O tempo ia passando e ela não sabia se ia se descobrindo como realmente era ou como era sem ele. Sem ele, o mundo tinha menos cor. Mas quem disse que ela não poderiapintá-lo sozinha?
Sentou. Já não era preciso caminhar para aliviar a cabeça. Acendeu um cigarro por gosto, não por necessidade.