segunda-feira, dezembro 28, 2009

Ela carrega entre os seios um segredo que não pode contar pra ninguém. No meio do decote perfumado, fica um pedaço de papel amassado escrito o motivo pelo qual ela hoje está aqui. Quando o tempo esquenta, Ela transpira e transforma esse intervalo entre os seios em um pequeno oásis no qual Ele, ávido, pretende chegar, ultrapassando suas pernas, sua barriga e buscando a primeira gota de água que lhe cabe daquele suor.

Quando Ela cansa de guardar o seu segredo, abre o soutien e o joga bem longe. O pequeno pedaço de papel desprende-se da pele quente e rola: primeiro pelas costelas, depois pela barriga, fazendo uma pequena curva enquanto passa pelo umbigo. O papel segue seu caminho pela sua bacia, pela virilha, pelas coxas, roçando a sua mancha da coxa esquerda, passando pela cicatriz do joelho, pela tatuagem da perna esquerda, pelo peito do pé, pelos dedos; no dedo e no chão.

Quem vê a patética cena fica se perguntando o porquê d’Ela de guardar um segredo assim, sem sete chaves, em um lugar quase exposto ao sol. Ela nunca responde e sorri, redobrando mais uma vez o velho papelzinho, que às vezes fica em forma de pergaminho e outras em forma de envelope, dando-lhe leves cócegas quando, por acaso, encosta-lhe o mamilo.

O pedaço de papel escrito só é lido por Ele, nas noites quase escuras em que ele aparece no quarto dela. O papel é sempre aberto delicadamente, por medo que rasgue, afinal, em teoria, é um segredo. Quando Ele chega, Ela logo tira a blusa abaixando o tronco e oferecendo seios a ele, como a pedir que por favor tirasse do peito dela aquela responsabilidade. E assim o faz. Ele tira o papel, abre e lê despreocupadamente. Amassa e lança longe enquanto segue beijando o pequeno risco que o papel, depois de horas, deixa entre os seios dela. Depois de beijá-La meticulosamente, sobe a sua boca até a altura da boca dela e, em forma de um gemido surdo, pede desculpa por não ter vindo antes e por ter jogado fora seu segredo. Não obstante, lembra-a de mais uma coisa: aquilo, Ele sempre soubera.

sábado, dezembro 26, 2009

Então você cobriu com sonhos, enquanto eu passo frio, daquele frio triste de quem fica acordado sem conseguir dormir por muito tempo . Você me fez trocar o dia pela noite e viver tua realidade no meu momento. Você desculpou o meu cabelo despenteado e sorriu para minha falta de tato. Você me abraçou no escuro e no meio da multidão. Você andou desse lado. Assim, a minha esquerda, tirando qualquer dúvida que aparecesse sobre o meu sorriso, sobre o meu batom, sobre nós dois e medo do mundo. Você me deu calma, flores, fotos. Você apareceu com os seus suspensórios encontrados no meio da rua e me levou para tomar uma cerveja, um banho, um rumo. Você, hoje, me dá saudade, me dá sopa, me dá juízo. Você cansa o meu cansaço e chora a minha tristeza, aprendendo devagar a amar o que eu amo. Há em você (e só em você) alguma razão para eu não voltar para caminhos tortos e escolhas ao acaso, para não cortas mais os cabelos e para nunca mais preferir estar sozinha. Você suspira a minha angústia, perdoa as minhas desculpas. Você é o meu vício secreto, meu mote, meu motivo, por quem eu sento e escrevo. Você me descreve, me despe, me veste de desejo. Você viu que eu sinto medo, às vezes. Você viu que eu não paro, nunca. Você segura a minha mão na tua, e, assim, com você e meus óculos escuros eu encaro o mundo. Você me segura com força na cintura, e assim, com um batom vermelho eu zombo do mundo...
Você é quem a Marcella ama. Você é quem a Rosa respira...

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Hoje eu não quero comemorar o Natal. Eu não sou a mulher que eu queria ser, não realizei nenhum sonho, não fiz ninguém mais feliz. Não montei a árvore pela primeira vez em duas décadas e não separei uma roupa bonita para essa noite. Hoje, especialmente hoje, eu não quero comemorar o Natal, porque não tem mais vovó e eu não acredito em Papai Noel, nem em Paz e harmonia entre qualquer tipo de pessoa. Pessoas pressupõem desarmonia, desamor, desespero. Ninguém fez questão de entender os meus problemas e eu não perguntei a ninguém se tá tudo bem. Hoje eu não quero comemorar o Natal porque eu não tenho certeza o que é o Natal e nem porque as pessoas mentem amor por uma noite e esquecem todas as outras noites em que amor faz mais falta. Hoje é muito fácil parecer gentil, respeitar as pessoas porque convém atuar como no comercial em que o sorriso é mais clichê que nozes e peru em ceia de Natal. Eu sempre gostei da data capitalista, gostei das tradições idiotas e das pessoas falsamente felizes. Era a minha noite de utopia. Hoje eu não quero comemorar o Natal e justamente por isso eu vou colocar o meu vestido vermelho e verde, vou limpar os olhos inchados e desejar Feliz Natal o mais sincero que eu puder. Hoje eu preciso comemorar o Natal.