sexta-feira, dezembro 28, 2007

[o texto que segue é uma co-autoria minha com o dono do meu sorriso. Pensa num poeta; eu chamo de namorado]

Você sabe que eu tenho uma relação eterna de amor e ódio com esse meu jeito exageradamente intenso, né? É complicado falar de tempo pra mim, e arrependimento.Você é sempre tão inteligente e sensato. E eu com essa mania passional...

Sim, mas se fosse diferente não seria tão interessante. Me diz, qual a graça do morno? Tem que ser quente ou gelado. A graça ta nos extremos. No contraste da coexistência deles. E isso só é mais um motivo pra sepultar essa história de arrependimento. Se a gente não vivesse esses momentos verbosos que graça ia ter o silêncio estratégico?

Eu não entendo nada de silêncio estratégico. Os teus, inclusive, me matam.

Pára de se preocupar com o que você vai sentir depois. Arque com as conseqüências depois e dane-se o resto. No fim das contas no presente não importa como as coisas chegaram ali e sim o como viver com aquilo.

Você me diz essas coisas, mas fala a verdade. Agora já faz tempo mesmo, não tem porque esconder; você me achou muito atirada?

Não. Não mesmo. Ei, sério. Juro que não.

Nem quando eu deitei no seu colo? Nem quando eu te beijei? Nem quando te obriguei a fazer comigo o que eu queria?

Não. Não. Talvez.

EU SABIA!

Mas você foi sempre tão natural. Achei idiota te achar atirada.

E eu de fato fui natural. Nem sei porquê. Tava correndo tudo tão bem. Corre tudo tão bem entre a gente.

Já faz tempo. Quando a gente conversava. Antes, mesmo, eu já tinha vontade de me enfiar através linha telefônica pra te ver. Tem vezes que palavras não bastam...por isso não te achei atirada. Você só externou aquilo que minha falsa educação não permitiria sugerir sem que você falasse antes...ainda que eu não pensasse em outra coisa. Aliás, desde a vez que você falou que gostava de deitar em colos e que fizessem cafuné fiquei com uma vontade louca de ser um colo desses.

E hoje você é o melhor que eu tenho. Eu queria te agarrar desde a hora que você pegou no meu cabelo. Mas eu nunca tive tanto medo. Nunca. Eu ia explodir, ia me desmaterializar. Eu tinha câimbras internas, não sabia o que fazer.

Mas isso é bom ou ruim?

Isso é maravilhoso. Eu ali, deitada, meio apática. ‘Mãe, o homem da minha vida vai descobrir que eu sou idiota. E atirada’

E foi rolando. Eu rolando, você rolando. A gente foi rolando até de manhã. Até hoje.

Eu lembro de tudo. De tudo que você fez comigo.

Minha memória não é tão boa. Mas eu lembro de muita coisa. O chico, o cafuné. O teu beijo. Aquela sua camisa, tão legal. Eu achei tão legal na hora.

E o jeito que você demorava me beijando? Como você fazia carinho na minha perna...

Como você arrepiou quando eu fui desamarrar sua camisa.

Deu medo. Fiquei maluca. Achei que ia ser tudo de uma vez. Eu ia explodir.

Você deveria ter se libertado. Sem repreensões.

Foi bom me segurar um pouco...e eu me preparando, pra dizer. Eu não sabia como ficar de costas pra você. E só de costas eu conseguia te enfrentar.

Eu achei um máximo.

Sério?

Sério.

Por quê?

Gostei de saber que você era passional pela vida e gostava das coisas e, principalmente, que não tinha medo de falar isso. Na hora eu achei aquilo tão lindo que eu tava fazendo qualquer coisa que você me pedisse.

E o mais legal era ver você fazendo aquilo que eu queria com aquele ar lindo de quem fazia o bem entendesse.

Mas ai é que ta.. eu fazia o que EU queria. E você também. Essa é a graça.

Sintonia. Afinidade.

É. Ainda acho que a gente vai se deglutir mutuamente. O jeito que você me acorda. Ninguém me acorda assim.

É inevitável. Você fica lindo dormindo. E eu gosto de te agradar.

Nisso a gente é parecido. Mas eu faço por mim, porque eu gosto do teu cheiro, teu gosto. Como ele fica em mim...

E aí você me beija, e fica em mim. O teu, o meu. É tão bom. É tão bonito.

Você me enterra, você quase explode.

Desculpa.

Não, eu gosto.

E eu morria de vergonha de tanta exposição.

Medo do que?

De você me ver, minhas caras, minhas dúvidas, eu tenho medo de você não gostar do que vê. Prefiro que você não olhe.

E tem como não olhar pra você?

Por isso eu te dou as costas

Eu compro um espelho.

Covardia isso.

É lindo...

Você é. Vem cá, deita aqui.

Olha, to escutando.

O que, meu coração?

É.

E o que ele ta dizendo?

Que você é louca por mim.

É, ele tem razão.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Explica aos poucos que eu sou burro. Como foi que tudo aconteceu? Não sei, meu bem, não quero falar sobre isso. Você me traia? Não. Nem em pensamento? Agora eu ter pensado no Chico naquela hora era traição? Eu to falando de chifre, mulher. Chifre duro e doído, você colocou em mim? Se tivesse colocado você teria sentido. Não provoca que eu não to legal. Você não é legal. Cara, nunca conheci alguém tão ingrata como você. Ingrata? Eu nem espalhei pro mundo aquele teu segredinho. Eu juro que te mato. Duvido. Mato. Você tem medo até do meu pai, seu idiota. Vamos lá, senhora sou independente-e-não-preciso-de-homem-pra-ser-feliz, me diz quantos foram os meus chifres. Você não vai me fazer dizer isso, no way. Nem se eu te odiasse mais do que já odeio. Então me conta em quantos caras você pensou quando a gente tava junto, colado. Não sei, mesmo, perdi as contas. VACA! Vai me dizer que você só pensava em mim... Vou, e digo mais, pensava em como te agradar, fazia tudo do jeito que você gostava. Eu gostava, é sério. E porque mesmo que tudo terminou? Porque você não tem ambição nenhuma, amor. Digo, fulano-de-tal. Eu tenho ambição sim. Ambição de que? De ser bom naquilo que eu gosto e que você ama. Viu só, eu te dei ambição. Eu te dei gosto. Eu te dei prefências! E eu tava cansada de ficar dando tudo pra você e nunca aprender nada; se você ainda fosse burro... não, era só acomodado. E isso era um suicídio pra mim. Acomodada era você que nunca me amou e ficou comigo só porque eu te idolatrava. E eu te idolatrava, de verdade. Eu te achava linda, interessante, pra mim o mundo inteiro queria te tirar de mim. Irônico, né? Foi você mesmo que me tirou de você. Mas é você que me completa. Qualquer uma te completa. Molde pronto, é fácil.
Mas eu quero que você seja feliz.
Eu também quero, linda. Então pronto, a gente vai ser amigo. E como vai a faculdade? Vai bem, ando conseguindo tudo que preciso. Eu sempre soube que você ia se dar bem. Você também merece o melhor. Beleza, a gente se vê? A gente se vê..por aí. Beijo. Beijo. Se cuida. Você também!



segunda-feira, dezembro 17, 2007

Doutor, eu to com um problema. Não, doutor, não tá doendo nada. O que eu tenho? Eu tenho preguiça das pessoas. Além disso? Bom, acho que eu tenho excesso de saudade. Sabe, seu doutor, já tá começando a me fazer mal. Ando mal humorada, espinha na cara, acho que até prisão de ventre eu devo tá tendo. Não, doutor, não vou tomar laxante. Não, doutor, nada de hormônios. O que? Claro que eu tomo água. Não, doutor, eu não exagero no álcool. Sério. Não, não juro, mas te garanto que isso não tem nada a ver, o meu problema é saudade. Do que? Virge, jesuis-maria-jósé, dum cadão de coisa. Não, seu doutor eu não sou religiosa, foi só uma expressão. Tá, vou falar. Eu tenho saudade de acordar tarde, com meu irmão me xingando por dormir doze horas enquanto ele tem que estudar. Eu to com saudade da comida da minha mãe, do cheiro, do sabor e das cores. Saudade de acordar, abrir a porta e dar de cara com aquela praça linda que tem em frente a minha casa; saudade da minha cidade, das minhas calçadas, dos meus poréns. Saudade do meu pai dizendo que a saia ta curta e da minha mãe dizendo que ele é bobo. Saudade do meu pai acordando a gente com os gritos desafinados dele cantando alguma música bonita pra minha mãe. Saudade do moço. Eu encontrei ele dentro de uma caixa; ele tinha medo de pães sírios e entendia o que eu escrevia.Não, doutor, ele não morreu, ele só fica longe. Naquele lugar onde as pessoas andam mais rápido porque não se apaixonaram. Aquele lugar que é lindo e é feio, e que se não fosse assim não seria aquele lugar. Seu doutor, será que é doença querer a voltar a ser uma menina mais idiota e crua? Não to falando que sou sabida, poxa. Só to falando de que alguma coisa eu sei, e talvez isso me faça meio mal. Sim, eu sei um bocado de coisa. Juro que sei. O que saber me faz mal? Não me faz exatamente mal. Ok, tá, eu não sei de nada. Mas queria saber de menos ainda. O que eu não queria saber? Ora, doutor, você sabe.Não queria saber daquilo que todo mundo um dia sabe. O que? Não se faz de desentendido, não não.
Do que eu to falando? É de amor, seu doutor. E que saber? Voumimbora desse lugar e não vou me tratar coisa nenhuma. Que se é pra doer, que doa. Eu gosto.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Nada, absolutamente nada. Silêncio. Eram cinco da manhã. Você ainda tava dormindo. Tão lindo, parecia exausto. Eu não aguentei, mesmo sabendo que talvez você acordasse eu lhe beijei. Não foi de leve e você nem se mexeu. Fiquei aliviada já que não tinha lhe incomodado. Beijei de novo. E de novo. Seu rosto, sua boca, seu pescoço. Beijei seu peito, sua barriga e você, novamente, nem se mexeu. Ainda dormia seu sono cansado. Comecei a falar com você. Falei tudo o que eu sentia. Como o seu silêncio eterno me incomodava. Sua frieza estava me deixando maluca. Eu ia endoidecer se a nossa vida a dois fosse o monólogo da minha insegurança. E a platéia? A platéia ia morrer de tédio. Você ia morrer de tédio. E o que menos queria era lhe entediar. Eu precisava que você falasse. Você nunca disse nada. Todos os outros sempre disseram, mas você nada. Eu sentia que a culpa era minha, talvez eu lhe sufocasse com essa minha obsessão ridícula pelo amor. Tentei parar, eu juro. Mas quando você encostava em mim, tudo voltava a ser lindo e eu precisava falar. Afinal as coisas só existem quando são contadas. Por segundos, pensei em lhe esquecer. Mas só de pensar em pensar fiquei sem ar, sem vontade, sem mim. Eu liguei: era sua chance de me dizer tudo que você nunca disse. Você disse que ia me ver, e só. Você veio. A gente se beijou, como sempre, com aquele beijo que sabemos que é melhor porque é nosso. Eua já ia começar a falar do meu dia, da minha semana, falar que te amava. Falar...e, eu não falei. Não sei porque mas não falei. Nã foi vingança, eu sabia que o meu silêncio não lhe incomodava. Parecia interminável aqueles segundos sem palavra nenhuma, e eu me desesperei, achei que você tivesse dormido. Quando eu ia me virar pra dormir quando você deitou em cima de mim e disse (sim, disse!) : "gosto de ouvir seu coração". Você deve ter me achado ridícula naquela hora, porque meu coração disparou, rápido. Você nem disse nada, ainda bem. Aos poucos fui me acalmando e entendi o seu silêncio. Todos haviam falado, mas só você que entendia o silêncio ouviu meu coração. Seria piegas se não fosse literal. Eu perdoei todas as vezes que eu esperei uma declaração sua e não ouvi. Você sorria, mas não dizia nada. Eu nunca lh amei tanto quanto quando entendi que você, na verdade, sempre disse muito mais que eu, sem falar nada. Absolutamente nada.

sábado, dezembro 08, 2007

Tinha belos olhos azuis,

e a boca carnuda.

Mazela era apática,

pensaram que era muda.

Mazela era bonita,

desde que nasceu.

Nunca fora minha.

E eu cresci sendo seu;

Por mais que me dissessem,

eu não me importava.

Gostava dela do mesmo jeito.

Mazela nem me notava.

Diziam que não era donzela

tinham dela provado.

Arisca, fez-se cela.

Mazela me prendeu sem cadeado.

Mazela não queria me querer

E doía querê-la assim

Mazela era só dela

E nada restava pra mim.

Venha, Mazela não vinha.

repudiava minha riqueza

Venha, mazela singela

Fazer-te-ei princesa

(mazela já era rainha)



Um poema revisitado e ingênuo, pra quem tá cansado dessas discussões sérias de relacionamento!
obs: leiam o poema em voz alta, pra enfatizar a cacofonia!