segunda-feira, janeiro 09, 2012

Bandeira.

Seus olhos pareciam a bandeira da França: o branco da órbita, o vermelho das veias e a borda azul que a lente de contato fazia em torno da írís, tão preta: quase um abismo. Podia ser a bandeira dos estados unidos, também, fosse considerar o inglês malemolente, entoado pelo álcool. Era linda de ver. E tanto tempo ficara admirando seus olhos e rindo da própria viagem de imaginar olhos como bandeiras (quem mais faria isso?) que teve medo de achar que aquele era um olhar apaixonado. Não cabia romance naquela noite, menos ainda naquela semana. Não caberia, simplesmente. Desviou os olhos num segundo, e fingiu desinteresse. Era mestre nisso há anos: sufocar paixões, quanta viessem, quantas fossem necessárias em prol de um objetivo: o de não ser de ninguém. A bandeira nos olhos dela hasteava qualquer coisa entre a embriaguez, o sono e o torpor: tanto cansaço que ela pediria arrego em seu ombro. Que alívio para ele, que lhe deitava um beijo na cabeça e agradecia ao deus que não acreditava por ela ter desviado seus olhos, antes que a bandeira acenasse-lhe um patriotismo e uma devoção que ele não seria capaz de tolerar.