terça-feira, fevereiro 15, 2011

Discurso Formatura Letras, turma 07

Pessoal, teve muita gente - muito fofa e querida - que veio pedir para ler meu discurso. Para matar a curiosidade de quem lá não esteve ou para deixar claro o que eu disse para quem não entendeu graças ao meu r retroflexo ou meu choro, ai vai. Foi muito importante pra mim ter sido oradora dessa turma. Valeu, pessoal.



Prezados familiares, professores e formandos: Boa noite.
Lembro-me bem da primeira vez que entrei na Unicamp, vinda de Batatais e perguntei ao meu amigo também batataense que estudava aqui há um ano: Aonde acaba a Unicamp? Ele riu e eu não entendi. Segui perguntando e apontando para rua atrás do IEL: é ali que termina? Ele riu de novo e disse que bixo era mesmo burro. Eu acatei.
Quatro anos se passaram. Eu, que havia entrado Marcella me transformei em Rosa e vi uma turma inteira mudar completamente. Alguns não sabiam que o Kafka não era um professor, e hoje são professores com os quais eu gostaria de ter aula – não de literatura.  Outros falaram que a professora tinha Alzeihmer e agora sofrem a difícil tarefa de ter memória de professor. Eu lembro de uma delas que disse que ninguém naquela sala era seu amigo. Eu tenho certeza que agora está chorando sentindo falta de todos eles. Teve aluno até que achou que Napoleão tirava foto. Tudo bem, para esse caso eu não tenho desculpa, contudo, o que salta aos olhos é que a nossa sala, tão discrepante e tão misturada, nunca tinha sido exemplo de união e mudou tantas e inúmeras vezes que hoje arrisco dizer que sempre foi unida, sem perceber.
Vocês, queridos colegas, lembram a loucura que foi a aula sobre Biblioteca de Babel, não é? Quantos hexágonos, galerias, e livros irremediavelmente diferentes. Como nos parecemos com eles. Desde a uniformidade aparente que esconde, quando olhados de longe, as tantas diferenças gritantes que temos até a eternidade que mantém vivo o cenário: a biblioteca existe ab eterno. O motivo que une trinta e poucos alunos de no máximo 20 anos a continuar ali também é eterno: a paixão e uma tremenda coragem de fazer letras.
Eu sei que aqui todo mundo sabe do preconceito que a humanas carrega e o quanto ele parece pesar mais quando se trata de Letras. Licenciatura em português, então. O desaforo com a língua de Pessoa foi fortemente enfrentado por cada um de nós em algum momento. Eu sei, senhores pais, o quanto os senhores queriam que fosse direito, que fosse engenharia e – num sonho ainda mais dourado – medicina. (Como você quis, né, pai?).
Mas, não, insistimos em fazer Letras. E o salário inicial? E o mercado de trabalho? E os estágios? Vocês me perguntam – e a paixão? - eu lhes pergunto de volta. E a paixão, ou a Vindicação, diria o Borges… Não esperávamos marido, como alguns invejosos diziam, e, salvo esquecimento de convite, ninguém aqui casou. Acontece, senhores pais, que todos que aqui vestem essa beca horrível tiveram seu propósito: uns prévios, outros encontrados no caminho. E todos, inevitavelmente, abandonaram o hexágono natal pois buscavam a sua vindicação. Dessa minha afirmação, sequer o Gabriel discordaria.
Hoje me deparo com meus colegas, na sala de aula, em casa, na arcádia ou no bar e vejo que o rosto mudou, os olhos são outros e o jeito de encarar as coisas é completamente diferente. Eu me encho de um orgulho egoísta: meus colegas são excelentes profissionais. Neurolinguistas, latinistas, professores de português, professores de inglês, corretores, atrizes, bailarinas, publicitários e – por que não? – teólogos que começaram a ver que o mundo não é nada fácil quando a gente atravessa a rua que vem depois do IEL.
A nossa Biblioteca de Babel tem um infinito muito pior, os nossos livros em estantes imensas nunca serão classificáveis. Fazemos parte de uma massa de pessoas que, sabe-se lá porque, ainda acha que vale a pena ensinar alguma coisa. E muito antes das propagandas eleitorais tentarem convencer       que ser professor era supremo e magnífico.
Penso de novo nos meus colegas. Alguns nobremente ainda querem ser professores, outros não. Fico orgulhosa dos dois: seja daqueles que dão a cara a tapa para um mundo que é muito mais difícil sem licenciatura ou aqueles que honram as aulas de L.A e enfrentam salas de aula, com respeito pelo ensino. Tenho grandes amigas que preferiram estudar latim, mas eu as perdoo mesmo assim. O curso de letras me ensinou a respeitar as loucuras. E vindicações são tão particulares e utópicas quanto é possível ser.
Olho ao meu lado e não vejo mais carinha de criança, vejo meus amigos, meus colegas de profissão e mais uma vez eu não me preocupo: eles sabem para onde ir e como ir. Não tenho certeza se foram as antologias e os estágios ou se foi a coragem de escolher Letras que me garantiram essa certeza: eles serão ótimos e eu vou aplaudir a cada um deles. Vocês também, senhores pais, quantos de vocês que tinham medo da escolha dos filhos agora seguram o grito e o choro de emoção? Vocês estão tão orgulhosos quanto eu, não é? E você, Pai, eu sei que você sempre soube que eu deveria ter feito letras.
No fim, (e isso eu também aprendi no curso de Letras) Borges sempre tem razão: o paraíso deve ser uma biblioteca. E nós, livros começando a ser escritos, precisamos chegar lá o mais rápido possível.
Queridos colegas, foi um prazer estar ao lado de vocês,  e não se esqueçam que a nossa vitória começou no primeiro ano e segue com cada um de nós. É, Junot, você sempre teve razão: a unicamp não termina logo ali.


sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Clementine

Meus textos não citam nome, não são diretos  Mas eu sei que quem os lê, me lê. E quem me conhece quase escuta o grito da pessoa a quem descrevo e chamo, na minha voz, rouca e grossa. Senti algumas vezes que o anonimato das minhas paixões salvaria a minha literatura. Besteira, descobri em 4 anos de graduação que eu não sei o que é literatura e que o que eu faço está mais próximo da merda do que de qualquer outra coisa. Então, desvelei tudo. Escancarei meus sentimentos e o meu tesão em forma de letras pouco ou mal combinadas. Foi assim que você me conheceu, não é. Essa pessoa de palavras, boca, (pernas às vezes) escancaradas e que só repetiram seu nome até que você ouvisse meu chamado. Faz um ano e meio que as minhas palavras tortas tomaram o primeiro rumo certo e eu consegui tirar os dedos do teclado e colocar nos seus olhos, na sua barba, nas suas mãos. Eu amei você pela minha literatura, eu amo você pela suas palavras e hoje eu te amo por todas as formas de arte que conseguimos produzir juntos, mal feitas em sua maioria. Bonitas, às vezes. Eternas ou não. Porque você sabe que eu nunca te prometi amor eterno. Não sou do tipo que consegue esse tipo de façanha. Mas eu te prometo calor todos os dias que valerem a pena estarmos lado a lado, paixão no que eu fizer e respeito mal educado pelo homem que eu amo, se não eternamente, infinitamente. E no fundo eu sei que, seja qual for nosso destino, sou igualzinha aquela personagem de casaco laranja e calcinhas coloridas que não consegui esquecer, mesmo quando deseja. Amor, amor, amor, cada dia a mais do seu lado eu sou menos arrogante, menos idiota e mais parecida com o homem que mudou a minha vida.