terça-feira, junho 02, 2009

Eu fico bravo com ela. A garota é míope e insiste em não colocar os óculos, porque fica me dizendo que fica feia. Quem liga para uma armação de óculos? Eu nem vejo! Enfim, ai eu digo para ela colocar as lentes e ela fica toda preguiçosa. Aí fica comprimindo os olhos, para enxergar e acaba que não vê porra nenhuma. Eu queria que ela visse, bem. E deve fazer mal, né? Se a pessoa tem defeito nos olhos, tem que pôr óculos, e não deixar guardado na gaveta. Sei lá, não falo mais nada que é para ela não se aborrecer.

-Amor, que é que tá escrito ali?
-Ah, você tá sem óculos, né? Já disse o que penso disso, né?
-Já.

-Amor?
-Sim?
-Fala o que você acha de mim? Me diz o que você vê que eu não vejo? eu tô sem óculos.

Eu vejo uma garotinha mimada e teimosa, que não se preocupa com mais ninguém além dela mesma. Eu vejo uma menina que não virou mulher, que não sabe o quer, que tem medo de ficar sozinha. Eu vejo uma menina que não sabe se apaixonar, que sufoca e que responsabiliza, uma menina cujo sentimentos pesam em quem ela sente. Eu sei que não é de propósito, mas o seu jeito de amar incomoda. Você prefere viver sonhando do que entender que a realidade é difícil. Eu vejo que não adianta pintar as unhas de vermelho, tatuar o corpo, maquiar os olhos se não for conseguir se despir disso depois. Você não sabe viver, menina, você só sabe sonhar, e isso não serve. É isso que eu vejo.

-Amor, me passa os meus óculos.




E foi embora. Enxergando era difícil demais de ficar.

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