quinta-feira, julho 03, 2008

Desde que você foi embora eu resolvi não brincar com que já acabou. Guardei o que era bom, enterrei o que doía e fingi que esqueci. De tudo. Todo mundo me via por aí sorrindo, me apaixonando, e acreditava que tudo tinha ido embora. Mas não foi.
Encontrei o seu diário empoeirado embaixo da minha cama. A sua letra horrível, que só eu entendia. Encontrei toda a saudade que eu senti todos os dias que você não tava comigo. E eu fingia que era certa a sua visita, porque só assim eu conseguia ir levando os meus dias. Você tem razão..a gente não sabe o que vai acontecer no minuto seguinte e eu, meu deus, eu sempre te cobrei certezas. Mas era o jeito que eu tinha arrumado pra continuar almoçando (sem você) continuar estudando (sem você), continuar dormindo ou pelo menos tendo vontade de dormir (sem você). Você era meu prêmio. "Se você for uma boa menina, vai ter o seu grande amor no final de semana" e eu fui uma boa menina. Fui a melhor que eu pude. Será que é isso? "Mãe, eu largo as drogas, a bebida, eu largo os vícios, eu largo. Ele volta?". Não volta.

No teu diário tinha uma foto minha. Um pedaço do meu cabelo, coberto por você. Você me sujava toda, e era quando eu me sentia mais limpa. De sentimento. Meu deus, como eu te amei. Como faço pra cuspir isso agora? No teu diário você disse que sentia, e eu nunca percebi isso. Por que me fizeram tão sensível pra minha dor e tão insensível pro resto? Deve ser por isso que os quadros não fazem sentido pra mim, se não fui eu quem pintei.

Acho que eu vou queimar seu diário. Acho que eu vou tentar te esquecer de novo. Mas, você sabe e eu sei também, que o teu diário vai estar na minha lembrança todo dia. toda hora. Eu já me conformei que outro de você eu não terei. Ninguém entendia que eu preciso ganhar flores. Só você. Os hibiscos da rua estão murchinhos, nem dá vontade de pegar pra mim. E ainda que estivessem lindos, perderam a cor quando você passou por eles. Parou na sarjeta, sentou. e quase não conseguiu continuar...

A nossa diferença é essa. Você quase não conseguiu. Eu, querido, desisti de andar...

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