segunda-feira, dezembro 17, 2007

Doutor, eu to com um problema. Não, doutor, não tá doendo nada. O que eu tenho? Eu tenho preguiça das pessoas. Além disso? Bom, acho que eu tenho excesso de saudade. Sabe, seu doutor, já tá começando a me fazer mal. Ando mal humorada, espinha na cara, acho que até prisão de ventre eu devo tá tendo. Não, doutor, não vou tomar laxante. Não, doutor, nada de hormônios. O que? Claro que eu tomo água. Não, doutor, eu não exagero no álcool. Sério. Não, não juro, mas te garanto que isso não tem nada a ver, o meu problema é saudade. Do que? Virge, jesuis-maria-jósé, dum cadão de coisa. Não, seu doutor eu não sou religiosa, foi só uma expressão. Tá, vou falar. Eu tenho saudade de acordar tarde, com meu irmão me xingando por dormir doze horas enquanto ele tem que estudar. Eu to com saudade da comida da minha mãe, do cheiro, do sabor e das cores. Saudade de acordar, abrir a porta e dar de cara com aquela praça linda que tem em frente a minha casa; saudade da minha cidade, das minhas calçadas, dos meus poréns. Saudade do meu pai dizendo que a saia ta curta e da minha mãe dizendo que ele é bobo. Saudade do meu pai acordando a gente com os gritos desafinados dele cantando alguma música bonita pra minha mãe. Saudade do moço. Eu encontrei ele dentro de uma caixa; ele tinha medo de pães sírios e entendia o que eu escrevia.Não, doutor, ele não morreu, ele só fica longe. Naquele lugar onde as pessoas andam mais rápido porque não se apaixonaram. Aquele lugar que é lindo e é feio, e que se não fosse assim não seria aquele lugar. Seu doutor, será que é doença querer a voltar a ser uma menina mais idiota e crua? Não to falando que sou sabida, poxa. Só to falando de que alguma coisa eu sei, e talvez isso me faça meio mal. Sim, eu sei um bocado de coisa. Juro que sei. O que saber me faz mal? Não me faz exatamente mal. Ok, tá, eu não sei de nada. Mas queria saber de menos ainda. O que eu não queria saber? Ora, doutor, você sabe.Não queria saber daquilo que todo mundo um dia sabe. O que? Não se faz de desentendido, não não.
Do que eu to falando? É de amor, seu doutor. E que saber? Voumimbora desse lugar e não vou me tratar coisa nenhuma. Que se é pra doer, que doa. Eu gosto.

5 comentários:

Anônimo disse...

o bom de tudo é ler o que você escreve e saber exatamente a que(m)se refere.
mas o melhor de tudo mesmo, é saber que cada palavra foi digitada no computador de casa!
privilégio!
=)
beijos, Rosa!

Anônimo disse...

I've been here

Fabi disse...

Como sempre, amei! As respostas com perguntas omitidas, o quanto eu entendo o que e o porquê você estava escrevendo isso.

Você tem me matado de orgulho, mocinha. E você sabe de tudo que eu estou falando! Coisa fofa da fabixa!

Beijos, meu amor! Saudade!!!

AH!!! Eu voltei a blogar agora! Passa lá: www.fabianasilveira.blogspot.com

Unknown disse...

Doenças assim não se cura se vive, sua-se a febre, curte-se a 'dor', aproveita-se o delirio e encara-se o rebuliço!

=)

e assim então de sintomas em sintomas vc sempre busca o próximo e e assim vive-se de sintomas em sintomas nessa eterna doença... q ela dure... dure e dure!

bjos muitos

Cassio Cons disse...

Eu quero um pão sírio!