segunda-feira, maio 18, 2009

Eu não gosto de chá, menino, quantas vezes tenho que te dizer isso? Não gosta, eu sei, mas devia tomar. Você nunca aceita quando te ofereço, prefere tomar café que destrói o organismo. Café me mantém acordada. É tudo mentira que cafeína mantém acordada. A mim, me mantém. Então tá, continua tomando café e morrendo de gastrite enquanto um chá de camomila ia te acalmar e te deixar mais tranquila. A minha calma não depende de chá, menino. É tanta coisa além…Mas veja, um chá ia curar suas cólicas, você vive tendo cólicas. E a voz rouca? Já disse que sei um chá de gengibre que tira essa roquidão num segundo. Depois fica ai dizendo que tem a voz muito feia. Para, vai, chá nenhum conserta a minha voz, e de qualquer maneira eu não quero chá. Você nunca quer, eu sei. Mas ia fazer bem para ti, tua cara cansada anda perdendo a beleza. Que beleza, menino? Você nunca me achou bonita. Como você diz isso? Como você nunca disse. Nada. E quantas vezes eu me arrumei, até no escuro, para você me ver bonita, o mais bonita que eu podia ser e você, e você não via. Claro que eu via, mas não dizia. E que adianta sem dizer? Nem tudo são palavras, minha querida. Eu não to falando só de palavras, na sua boca, você não me dizia que eu era bonita, nem nos seus olhos você me dizia que eu era bonita. Na sua formalidade comigo você não dizia que eu era bonita. Para de loucura. Não posso parar, eu sou louca, não convém a uma louca parar de loucura. As vezes parece que eu não te conheço, mulher. Você me esconde tanta coisa! Eu não te escondo nada, menino, é você que tem medo de procurar. Aliás, você tem algum chá que passa o medo? Não sei, por que, deu para ter medo do escuro, agora? Não é para mim, é para ti. Eu não tenho medo do escuro, querida. Não? Não, se a porta tiver aberta. Então por que é você não entra em mim? Porque você é um labirinto, e o teu coração é o Minotauro.

Um comentário:

Daniel Faria disse...

ei, estou lendo o blog pela primeira vez e estou impressionado. você escreve muito bem (: