terça-feira, janeiro 02, 2007

‘Vou bater na sua porta de noite completamente nua. Quem sabe então assim, você repara em mim.’

Ela caminhou, então, seguindo o cheiro da bebida que sabia que vinha de sua boca. Sozinho, tomara seis ou sete taças de vinho. Sozinho, teria pensado nela em cada gole que não vinha acompanhado de um beijo. Não era, entretanto, segura o suficiente pra acreditar que foi por ela que ele perdera todas as grandes oportunidades. Pra acordar e encontra-la de costas, esperando um motivo para virar de frente e dizer, com os olhos inchados e ainda assim bonitos, que o dia estava lindo e que seria perda de tempo continuar mais naquela cama, ainda que se espreguiçasse toda e demorasse horas para se mover dali.

Continuou caminhando, viu a sombra dele na janela. Como supusera, com uma taça de vinho. Acontece que segurava duas taças. Estranhou. Por um segundo chegou a crer que aguardava sua presença. Tomou fôlego e quando se viu diante da escada, pronta pra subir e dizer a ele que, infelizmente, não conseguira esquece-lo, viu surgir uma outra sombra. Mais delicada, mais torneada, tirando a taça das mãos dele e ele do seu coração. Ao fim, virou de costas e jurou a si mesma nunca mais procurar a ninguém. Mas estava frio, chovia uma garoa fina e ela, pouco ou quase nada vestida, tremia. Seguiu outros passos, guiada não mais pelo cheiro de vinho, mas por um leve aroma de vodka, que saia de outra boca, saído de outra taça, em outro lugar.

‘Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés e não faço outra coisa do que me doar’

Um comentário:

Thiago Berzoini disse...

Uau!
Escrevendo desse jeito, tolo seria o homem que não guardasse a taça de vinho para ti, bela moça!

Beijos do poeta sumido, que andou dodói.