domingo, março 04, 2012

solução

Não sei de que essência eu sou feita, mas se eu pudesse descrevê-la nos aspectos químicos (sobre os quais eu não sei nada além da fórmula do etanol) eu diria que sou feita de matéria facilmente solúvel, completamente capaz de aceitar o solvente que tiver à disposição, especialmente se vier derivado - e embebido em - álcool. Dessa minha capacidade quase universal  de me tornar solução, derivam minhas características mais minhas, das quais me orgulho e me envergonho, não em turno, mas concomitantemente. Facilmente me misturo, facilmente me apego, facilmente me transformo numa terceira fórmula nova - irreversivelmente mais interessante. Se por um lado me dissolvo em você (e nela, e nele, e nós) como se consistisse nisso a minha vocação mais sincera, por outro, resisto bravamente - ainda que entre gritos - ao calor extremo. Nenhum é capaz de me derreter. E enquanto você, ela, ele evaporam rapidinho porque acham mais fácil ser carregado do que resistir, eu fico ali, sólida e desconjuntada, parecendo não saber o que fazer. Mas eu sei exatamente: eu só fico ali esperando um outro solvente chegar, transformando esse meu jeito sem forma na nova solução que vai dar sentido - pelo menos naquela semana - para minha vida.

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