quinta-feira, outubro 14, 2010

Eu choro muito, mas nem sempre é tristeza. Acho que eu sou filha de uma espécie de inquietação que fere os outros para pode continuar viva. Mas não faço de propósito. Às vezes o meu grito é tão forte e denso que ocupa a minha boca de um jeito que as palavras perdem seu espaço, e acabam saindo pelos olhos, transformadas em palavras líquidas, que não argumentam, mas quase sempre convencem. Às vezes eu fico pensando qual seria o jeito mais fácil de lhe convencer que não, eu não tô brava, eu só preciso que fique claro por ai, o que obscuro permanece aqui dentro. Tenho medo do que você pensa de mim, mais medo tenho que coincida com o que eu penso de mim mesma, que é tão terrível. E, ao mesmo tempo que acho que a distância é o que salva a nossa relação, eu tenho certeza de que longe de você é mais difícil trocar grito por palavras, palavras por lágrimas e lágrimas por desespero. Eu sei que lhe incomoda, mas eu preciso incomodar para sentir que eu continuo viva. Você me quer tranquila, me deseja paz e não percebe que é desse desespero que eu sou feita e que é nele, e só nele, que eu me identifico. Eu preciso transformar tudo que eu puder em palavra e as palavras em lágrimas para fazer algum sentido estar aqui, com você, com eles, com todo mundo.Se não fosse o desespero o mundo poderia continuar existendo sem a gente, você não entende? Se não fosse o desespero, eu diria tchau e não voltaria mais para o único lugar em que eu me sinto mais profundamente eu: ao seu lado.

7 comentários:

Mayara Almeida disse...

Quanto tempo!
Gostei dessa sua confissão. Não entregou tudo, revelou alguns segredos e o que poderia ser amargo foi concluído com doçura.
Bem legal.

gipicles disse...

Quanto tempo!²

Simplesmente vc advinhou tudo o q passou por mim nesta madrugada. e acho q não sou capaz de dizer isso melhor.

Guto Leite disse...

Meu inevitável olhar acadêmico diz que achei o estilo bem melhor do que há um ano, um ano e pouco que te li por aqui, parceira. Tá mais sucinto, mais esmerado, uma beleza! Da parte pessoal, só tenho a dizer, claro, que estou contigo e acho que também vale pra mim boa parte dessa necessidade de desespero. Um beijo grande e saudades

Vinicius Souza disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vinicius Souza disse...

Poxa, só de imaginar, por poucos segundos, como seria sentir-me assim, já me vejo angustiado, e de fato um pouco mais embrulhado no estranho sentido do ser mulher.

Dany Matsubara. disse...

incrivelmente você expressa aquilo que eu, tenho receio de dizer...

Enéas Bispo disse...

Palavras líquidas!