quarta-feira, fevereiro 24, 2010

A gente sempre tem dois caminhos

Maria cresceu muito antes das amigas da turma. Menstruou muito antes que as colegas e aos doze anos já sabia abotoar o soutien nas costas. Não gostava de matemática, mas tirava a nota mais alta porque tinha escolhido ser a melhor aluna. Diferente das outras que ainda não tinham peito, escolheu que não gostava de se sentir presa. E assim, quando todo mundo já tinha soutien, Maria decidiu que não ia mais usar. A gente sempre tem dois caminhos e para alguns é muito mais fácil escolher o mais difícil. Maria, míope, não conseguiu ver que tinha dois caminhos e além de ser mais fácil foi inevitável escolher o mais difícil. No caminho mais difícil as regras eram fáceis: nunca esconder o que sente e sempre dizer a verdade. O caminho difícil, em sua facilidade, era o cruzamento mais forte da dor e do prazer. Para Maria, então, dor e prazer necessariamente andariam juntos. E quando, por acaso do destino, se separassem, a dor perceberia que havia se perdido do prazer e viria logo em seguida procurá-lo, avisando pra Maria e para o resto do mundo que um não fica sem o outro. No caminho difícil outrora escolhido a gente não pode mais voltar atrás e reencontrar o caminho fácil. Primeiro, porque a dificuldade do caminho difícil é justamente não ter atalho. Segundo, porque há qualquer coisa de viciante em optar pelo caminho difícil. Maria ainda não sabe se é o prazer ou é a dor. Talvez sejam os dois. Hoje ela entende: a gente sempre tem dois caminhos, mas só uma escolha.

4 comentários:

Mayara Almeida disse...

"só uma escolha"...

Adriano Godoy disse...

Acho que no fim todos caminhos são dificeis

IEatWhenHeDoesntCall disse...

Me veio agora um diálogo à cabeça, do Games that People Play, capítulo do Sex and the Ciy:

Dr G: Essa foi a primeira vez que você namorou alguém que não podia dar o que desejava?

Carrie Bradshaw (descrente de terapia): Bom, essa análise é um pouco fácil, você não acha? Talvez eu tenha namorado homens que não fossem ideais para mim. Mas quem nunca passou por isso?

Dr G: Bom, o que eles tem em comum é você.

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Talvez sempre nos encontremos em situações de dor, porque não olhamos para os lados para ver as outras opções... Também faço isso, mas estou tentando mudar. ;-)
Espero que as coisas melhorem para a Maria.

beijos

Maria Lina Guerreiro disse...

prazer eu sou maria lina, irma da flor!

dia desses ela me enviou esse teu texto e transformou meu dia... tu escreve muito, mulher!

quando tu vem para o sul nos visitar?