Ela carrega entre os seios um segredo que não pode contar pra ninguém. No meio do decote perfumado, fica um pedaço de papel amassado escrito o motivo pelo qual ela hoje está aqui. Quando o tempo esquenta, Ela transpira e transforma esse intervalo entre os seios em um pequeno oásis no qual Ele, ávido, pretende chegar, ultrapassando suas pernas, sua barriga e buscando a primeira gota de água que lhe cabe daquele suor.
Quando Ela cansa de guardar o seu segredo, abre o soutien e o joga bem longe. O pequeno pedaço de papel desprende-se da pele quente e rola: primeiro pelas costelas, depois pela barriga, fazendo uma pequena curva enquanto passa pelo umbigo. O papel segue seu caminho pela sua bacia, pela virilha, pelas coxas, roçando a sua mancha da coxa esquerda, passando pela cicatriz do joelho, pela tatuagem da perna esquerda, pelo peito do pé, pelos dedos; no dedo e no chão.
Quem vê a patética cena fica se perguntando o porquê d’Ela de guardar um segredo assim, sem sete chaves, em um lugar quase exposto ao sol. Ela nunca responde e sorri, redobrando mais uma vez o velho papelzinho, que às vezes fica em forma de pergaminho e outras em forma de envelope, dando-lhe leves cócegas quando, por acaso, encosta-lhe o mamilo.
O pedaço de papel escrito só é lido por Ele, nas noites quase escuras em que ele aparece no quarto dela. O papel é sempre aberto delicadamente, por medo que rasgue, afinal, em teoria, é um segredo. Quando Ele chega, Ela logo tira a blusa abaixando o tronco e oferecendo seios a ele, como a pedir que por favor tirasse do peito dela aquela responsabilidade. E assim o faz. Ele tira o papel, abre e lê despreocupadamente. Amassa e lança longe enquanto segue beijando o pequeno risco que o papel, depois de horas, deixa entre os seios dela. Depois de beijá-La meticulosamente, sobe a sua boca até a altura da boca dela e, em forma de um gemido surdo, pede desculpa por não ter vindo antes e por ter jogado fora seu segredo. Não obstante, lembra-a de mais uma coisa: aquilo, Ele sempre soubera.