era uma vitrine. Ele não podia encostar, só ver. Ela mexia de um lado pro outro, chegava tão perto que ele quase acreditava que podia encostar, ele ia com a mão, ia segurar entro os dedos aquele cabelo que não parava de voar. Vidro. tinha sempre aquele vidro.
Dentro da vitrine ela até parecia bonita, tinha alguma coisa de ansiedade que molhava os olhos dela. Quando ela chora ele quer dar um abraço. e sorria, ela não para de sorrir Queria tanto ela aqui. Vidro.
era uma vitrine. Ela não conseguia entender, achava que ele tinha a chave daquela caixa de vidro e não queria abrir. Abre pra ela. Ela ficava com vontade de chorar, queria tanto encostar nele. Vidro. tinha sempre aquele vidro. Ele era tão bonito, mas quase não sorria. Tinha um sorriso de lado que só aparecia as vezes. Ela chora quando ele sorri, mas é de alegria e ele não entende. Queria tanto que aquelas mãos encostassem no cabelo, na nuca, nas costas dela. Isso deixava-a ansiosa a ponto de querer quebrar aquela vitrine. Vidro.
Ela ta se mexendo, tá chorando, tá procurando uma coisa. Ele ta inquieto, que será que ela procura? Ela olha como se pedisse desculpa. Será que ela vai o deixar? Pra onde ela vai? Ele achava que ela era a manequim dele, aquela vitrine era dele. Ela pede desculpa e cobre um vidro com um pano vermelho.
Ele não entende, ele não quer deixar de olhar, por que ela se escondeu?
Será que ela foi embora? Tanto tempo ele olhou pra ela e agora não podia mais, maldita cortina vermelha. Antes o vidro....
e o tempo passando, e a mesma vista vermelha pra ele.
Ele tanto olha pro vidro que esqueceu de ver o tempo passar.
Mas o tempo, ainda bem, sempre passa. Ela entrava, toda cheia de sangue, com vidros quebrados pelo corpo, na caixa de vidro dele. Ela pediu, já se encostando no ombro dele, "Posso ficar aqui pra sempre?" Ele não conseguia nem se mexer, tinha medo de encostar nela, primeiro pra não machucar mais aquele corpo cheio de vidro, segundo porque ele ainda não acreditava.
"você se machucou muito"
"logo passa". o vidro era grosso demais, mas também quebrava. no fim, era só uma vitrine.
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