Uma vez o gurizinho tava abaixado mexendo no cocô do cachorro da vizinha com uma vareta, tava brincando com aquilo, tal qual fosse um pedaço de terra que cheirasse a grama recém-cortada. Eu tentei dizer “gurizinho, isso aí é sujeira”, eu disse “gurizinho, isso fede”, mas o gurizinho não me ouvia, mexia naquela merda toda com muita cautela, como se qualquer movimento mais bruto custasse a queda de um bibelô de porcelana. Quando cheguei perto o cheiro me enjoou de uma maneira que acabei me afastando rapidamente. Gurizinho notou, me olhou com uma cara de pena, como se eu fosse mais uma idiota achando que aquilo era pra dar asco. Gurizinho voltou de novo praquela nojeira, mexeu pra cá, pra lá e não parava de sorrir. Eu, idiota, pela última vez tentei alertar: “Gurizinho, você sabe o que é isso?”. Ele me olhou com um cara engraçada, riu do meu cabelo e disse “é amor”. “Não, gurizinho”, eu ainda repliquei “to falando disso que você tá mexendo, isso que você mexe como se fosse bonito, mas que é sujeira e fede”. Ele soltou a vareta, me deu a mão, suja, me levou pra longe daquele lugar. Embaixo duma árvore, me fez deitar no colo dele, que ainda cheirava mal mas eu já não ligava e disse: “então, flor. É amor…”
terça-feira, julho 21, 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
não sei se foi Portugal, mas vc tem escrito tão bem! bem mesmo, sabe?! me faz querer um pouco e me inspirar um pouco disso td que te inspirou..
Seu cantinho é bem bom...
gostei.
vou estar sempre por aqui.
E o amor... como sempre fazendo coisas maravilhosas.
resumindo, o amor é uma merda!
Postar um comentário