domingo, dezembro 28, 2008

último post desse ano, feito pra dizer que ano que vem tudo vai ser diferente; menos vícios, menos faltas, mais saudade.

e talvez mais intensidade, que é pra contrariar tudo que eu disse em 2008 sobre como as pessoas são melhores mais indiferentes e menos sensíveis. Esse ano eu não quero ser indiferente pra sentir menos. Eu quero sentir mais, mais e mais. E quanto mais incomodar, melhor. Resolvi assumir que indiferença não é comigo. Eu me importo muito. Eu. Agora não me incomoda que as pessoas não se importem, eu vou continuar me importanto.

Que se dane os problemas da intensidade. Eu quero engolir o mundo, nem que seja pra vomitar tudo depois.

Me encontrem por aqui http://perdidanaterrinha.blogspot.com/ enquanto eu estiver por lá...

Esse blog é pra contar as peripécias diárias e deixar meus amigos mais tranquilos (ou mais preocupados); mas o que tem que ser dito sobre o que se sente e me cala, continua por aqui.
Aos poucos (e estimados) leitores desse blog: Um bom ano novo, porque ainda que não se mude muita coisa, ter a ilusão de poder recomeçar faz um bem danado.

E se vocês querem saber o que eu prometi o ano que vem, adianto: menos coca-cola, menos "émelhornãodizernada" e muito, muito mais vermelho.


Comecem tudo de novo, mesmo o que já está acabando!

Beijos,

Rosa.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Eu sei teu nome, tenho teu telefone e tanta vontade de te ligar. Você não lembra mais meu nome, nunca me ligou, mas sabe de truques bem feitos pra me conquistar. Eu aprendi tua língua, aprendi a ordem do que você vai dizer, eu decorei a sua rotina. Você não pergunta o que eu ando fazendo mas descobriu mil maneiras de me prender a você; eu ando teu passo, teu caminho precede o meu.
Teu rosto vai apagar do meu espelho e eu não quero. Eu não quero esquecer o teu jeito mal educado de dar bom dia. Você não decorou onde fica cada tatuagem minha, e eu sei o número exato de pintas que você tem ao longo das costas. Eu respiro de novo, parece que não tem mais o teu perfume onde eu passo. Que pena, amor. Eu quase consegui sonhar contigo ontem, só faltou pegar no sono.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

ontem, deitada na minha cama, que era sua eu entendi: que de nada mais me valem as palavras,
meu poema mais bonito há muito eu já havia escrito.

escrito de suor, nas linhas da sua mão...tortas, pra combinar com a história que eu contei...

de um amor sem rumo; e de uma poeta sem rima.

sábado, dezembro 06, 2008

Madrugada. Se ela de fato fumasse, procuraria o único posto aberto daquela cidade e fumaria um por um os cigarros do maço, contando a cada tragada os defeitos dele. Mas ela disse que parou de fumar e resolveu acreditar nisso.

Se ela fosse um pouco menos preguiçosa, andaria algumas quadras até esse tal único posto aberto e traria embaixo do braço umas poucas cervejas, que é para o sono vir mais rápido. Mas tudo que ela faz é permanecer recostada na janela, esperando o cigarro e a bebida chegarem até ela enquanto ela reclama sozinha daquela rua que oferecia silêncio quando o que ela precisava era de gritaria, que é para calar o pensamento.

Ligou a música, tirou os sapatos e a roupa: nunca usava sutien...Sabia que ele preferia assim. Andou pé ante pé como se no quarto alguém dormisse. Enfiou-se devagar no lençol para não acordar sua companhia noturna. Esfriava. Passou o braço pela cintura dele e o braço caiu na cama, para lembrar o que ela fingia que esquecia: estava sozinha.

Meu Deus, será que eu nunca vou te esquecer? Quantas cartas ainda eu vou escrever sem você ao meu lado?

“Oi meu amor,

Quando resolvi escrever este bilhete eu quase desisti. Tenho um vinho aqui comigo. Eu quase nem comecei. É provável, quase certo, que eu não te envie. Mas o vinho tá bom. Minha letra tá feia, a página tá rasgada, e eu, meu amor, já não sei mais do que falo. Faz um tempo, eu reclamava. Reclama dos seus sumiços, reclamava do seus não-ditos, reclama de nós. Eu não tenho caráter nenhum, amor... se tivesse a gente já não estaria junto, a gente seria bons amigos, bem-sucedidos, quiçá bem amados, não é? Uma pena mesmo eu não ter caráter.”

Ele não quer continuar a ler. Pára, senta. Seca as mãos na calça suja de molho de tomate.

Ai, meu amor, se eu fosse forte não estaríamos assim...você teria ido embora quando minhas saias já não te deixavam louco. E não agora que eu já não uso mais saias por sua causa. Se eu não fosse assim tão fraca, eu teria lhe pedido pra sair, toda vez que você se recusava a entrar”

As suas pernas. Será que ela nunca notou o meu sorriso quando ela aparecia com a saia rodada que voava no vento? Eu sempre achei tão bonito, era quase uma modelo. Eu gostava até das suas cicatrizes.

Se você soubesse que eu só queria que você também falasse do futuro...só brincadeira, sabe? Eu sei que você tem suas viagens pra fazer..e eu, ah, querido, eu tenho tanta fetiche pra realizar. Tanto corpo pra conhecer, né? Você tem suas montanhas e eu as bocas. É assim né...gente diferente é um porre. Um porre. Eu to tomando um porre.”

Ele acende um cigarro; ela ficava linda quando se embriagava. Alguma coisa nessa lembrança o excitava. Mas doía...

“não...não era mentira quando eu dizia que perdoaria um erro teu. Eu perdôo toda vez que eu não te sinto, não te perdoaria justo na única vez que você se tornaria humano? Traição é humanidade. Seria demais pra você, demais pra mim também que sou ciumenta. Mas meu ciúme, por pior que seja, me mantém viva. E você? Até quando vai me dizer que vive, caminhando por ai com essa carcaça fraca que não sustenta nada? Só desilusão...”

Traição...eu não conseguia te trair por falta de libido, mulher. Tua imagem sugou todo meu desejo. Eu era tão seu. Eu sou tão fraco. Por que foi que você nunca sentiu?

Meu Deus, isso já passou de um bilhete...o vinho passou de uma taça... Eu não bebo pra saciar nada. Eu não bebo por saudade de nada. Eu bebo é por pena. Por pena das pessoas que resolveram desistir de querer. Desistir de gostar. E eu nem sabia que existiam, fora dos livros, pessoas assim. Até te conhecer...”

Como ela consegue ser tão doce até quando atira em uma piscina de agulhas?

Enviei a carta. Terminei o vinho. Como eu posso mentir? Como eu posso não falar de saudade?

Eu to ficando louca. Me escuta, loucura, essa é a minha despedida. É o meu adeus. Au revoir, bye baby. Tô indo embora. EU VOU EMBORA.

Não vai. Fica aqui.

Eu só vim te entregar essa carta.

Ela é o post-scriptum da minha vida. Eu escrevo meu texto coerente. Eu não erro. Eu sei o que dizer e como dizer e aí ela vem...com essa força que eu não sei de onde ela tira e me bagunça a lógica, mas eu não vou reescrever mais o meu texto. Ela vai ser o meu adendo, a minha última lembrança, o meu recado final. Eu não vou mudar.

Você me traiu?

Trai.

Por quê?

Porque ele me deixava ser fraca.

Você é um monstro, mulher. Você me engole. Língua vai, língua vem. Na tua boca eu não sou ninguém.

Ai, loucura, ele acha que eu sou forte. Ele me olha como se eu não pudesse mais fraquejar.

Você não é fraca.

Não era. Seu amor me enfraquece.

O meu amor? Mas por quê, mulher?

Porque ele é bom. Você é bom. Você é gentil. Você confia em mim e a tua confiança me subestima. Você sabe que eu preciso de você e isso me faz mais fraca ainda...eu precisava dele. Ele era feio. Ele não tinha teus olhos, mas ele me deixou ser fraca.

Vem cá, me abraça.

Não deixa, loucura. Não deixa ele me pegar no colo. Eu vou ficar protegida. Eu vou tirar minha capa. E aí, loucura, começa a lama. A merda. Ele me joga no poço escuro da vida dele e ele sabe que só ele pode me salvar. Não deixa, loucura. Mata esse homem, mastiga...depois vomita ele em cima de mim. Sem ele eu não tenho paz.

Sem você eu não tenho paz.

Olha, eu vou indo.

Não, fica!

Fico.

Ela acendeu um cigarro, abriu um sorriso. Tremia. Se beijaram tão trôpegos que foram caindo...no sofá, no tapete, na cama, no chão...

Eu me arrasto, loucura...eu me arrasto por ele. Ele ta dormindo e eu não posso mais. Ele quieto e eu preciso gritar... eu me arrasto, eu me sujo...eu vou rolando até a sala...a varanda...Eu me arrasto porque eu não sei voar...

Ela não sabia voar. Mas tentou.

terça-feira, novembro 18, 2008

Carta ao meu amigo desmemoriado

“Agora a sua percepção e sua memória eram infalíveis”

[Jorge Luís Borges, ao falar de Funes, o memorioso]

Hesíodo me jurou que a morte e o sono são irmãos. Me disse que deles, também era o esquecimento. Hoje, meu amigo, eu vim te dizer que você vai morrendo. Mais que todos, que também vão. Quase como se sua morte fosse uma a cada dia. E não uma só, que acontece aos poucos. A sua morte não é um pouco da vida que míngua; é um pouco de vida que não existiu. Você vai longe, eu sinto uma saudade...eu penso igual a moça daquele filme...parece que você morreu...eu te acordava toda hora, pra depois te dar uma morte, une petite morte, e você voltar pro seu sono sepulcral.

Você sempre teve que lutar para lembrar das coisas. Ou será que não lutava? Não sei até onde seu esquecimento era uma falha dessa sua cabeça sempre tão boa ou um escape proposital. Meu Funes às avessas.

Hoje resolvi pensar de que nos vale esquecer? Eu fiz tanto esforço pra me esquecer de você e hoje, quando a saudade me pede uma lembrança, eu não consigo. Faz tanto tempo, eu não lembro mais do teu cheiro, eu não lembro mais de como era o meu cheiro depois de você. Hoje eu só tenho a mim e a uma vontade de lembrar de você.

Será que a morte do outro é também o meu esquecimento? Será que só quando eu te matei de mim (dos meus olhos, minhas mãos, minha boca, minhas pernas) eu pude te esquecer? Será que eu volto a viver com a tua lembrança ou você para de ser letal quando for só lembrança? Hesíodo não me explicou.

Olha, eu perdi o sono. Olha, eu não esqueço. Olha, eu to viva. To viva, to lembrando, to acordada contando os dias pra fugir...eu vou fugir. Será que Hesíodo falou de ausência? Ausência é a prima mais velha do esquecimento. Ela não depende dele, nem ele dela. Mas eles adoram sair por aí...lado-a-lado, como um dia, (será que você se lembra?) a gente também esteve.

Quando você acordar dessa sua morte, me deixa lembrar daquilo que eu não esqueci.

Metis.

sexta-feira, novembro 07, 2008

E agora que eu caí nesse buraco, que não pára de me levar cada vez mais embaixo?
E agora que a minha respiração tá ficando fraca e a minha voz ta sumindo?
E agora que eu to me sujando, vou me misturar com a terra? Minha pele de lama, minha cara de merda.
E agora que já não se percebe a diferença de um sussuro e um grito?
E agora que eu prefiro você morto do que fugido?
E agora que você já não sabe mais em quem confiar?
E agora que você vê sua melhor amiga roubar seu par?
E agora que é mais gentil o silêncio do que a palavra?

A gente se cala. Ou grita?

A gente se ama, ou se evita?

A gente se desgasta...
gasta a saliva no que não se pode falar.
gasta lágrimas doídas querendo parar de chorar.
gasta cigarros inteiros sem conseguir fumar.
gasta o trago ligeiro sem brindar.

tim tim. E está servido o coquetel da minha falsidade com a sua hipocrisia.

domingo, outubro 26, 2008

Ela, hoje, acordou diferente; indiferente. Essa coisa de se importar deixou pra trás. Pra trás, ficaram os cabelos também, agora presos. Presa, era como se ela não pudesse respirar. Indiferença dá falta de ar.

Hoje ela é mais forte, nem liga. Não se importa mais que aquele moço, que ela gostava tanto, seja um idiota. Nem sente saudade do tempo que ela não pensava isso.
Ela não liga de ficar longe de você. Você também não. Você some e ela quer morrer, de tanto que dói. Agora, ela resolveu achar idiota essa coisa de paixão repentina. Justo ela, que passou a vida toda nesse vai-e-vem de apaixona e desapaixona. Será que assim é mais fácil? Ela quer facilitar, nada de complicação.
Ela só lê o estritamente necessário: placas, livros, jornais. Parou de ler os seus traços, as linhas do seu rosto, da sua mão. Ela sabe de cor os seus caminhos, sem ainda ter percorrido. Tua estrada continua fechada, ela, ainda na porta, espera.

Não, ela não vai mais esperar. Ela vai embora, antes que o seu sorriso engula tudo que ela tem de mais forte: a indiferença. Ela vai embora, quieta. As rosas não falam. Então, ela tem que continuar quieta, pra você não assustar.

Será que ele existe? Ela te encostou, fez o pedido, agora ela vai ter um beijo. Será que ele existe? Ela encosta, te abraça, ela cabe, exatamente, nos seus braços. Vê? É uma questão de astros. Ele existe. Tá fazendo tudo ganhar outro sentido. O coração dela dança catira quando ele chega. Ele vai chegar não vai dizer nada, e então...

e então ela entende tudo: é melhor ficar sem ar, indiferente, de qualquer maneira, o prazer também sufoca.

terça-feira, outubro 07, 2008

Eu vou me acalmar do seu lado. Você dança, me leva sem que eu note. Vezes vai de tango, amanhã vai ser um bolero. Seu suspiro tem as notas do Tom. Eu me desfaço, que nem areia, na sua mão. Você me olha, quando a gente se encosta, molha. Depois de você meu gosto fica salgado. Você muda de forma, muda de nome. e eu muda, de quieta. Faz silêncio pra ouvir só mais essa onda. Vem, água, mais essa noite, vem me ninar. Um pouco, vai. Um pouco, vem. No seu balanço eu to brincando de não ser nada pra ninguém.
Você tá me deixando do lado escuro da rua, me esquecendo na próxima esquina. Que sina. Que tato. Como é que eu faço? Você se esqueceu de lembrar de mim hoje.

[mas se quer saber se eu quero outra vida: não, não]

sábado, outubro 04, 2008

Você é o meu amor. Olha, eu tenho um amor. E ele é lindo. Eu saio por aí mais bonita porque eu tenho um amor. Eu tenho todos os motivos pra ir pro cinema e chorar em cenas de beijo. Eu tenho um amor. Eu não sei o seu nome, não sei se prefere os meus brincos de argola ou de pena. Não sei. Mas eu sei que eu tenho um amor e todos os poemas do mundo para escrever pra ele. Eu tenho um amor que tem o rosto que todos os meus amores de infância tiveram. Ele tem o jeito que o amor que eu imaginava tinha. Ele tem a razão para me fazer entender as músicas. Ele existiu que é para fazer todo o mundo olhar pra mim e dizer: olha, se apaixonou. Quando eu deitava pensava no meu amor ele teria os olhos de um claro que ninguém entende: quase transparente, impossíveis de ver o final. Meu amor não conhece meu sorriso, mas eu afirmo: amor meu, é por você que eu sorrio. Ele não sabe que a minha música predileta ressoa a lembrança dele, nem sabe que por ele eu largaria o cigarro de vez e aprenderia a cozinhar comidas gostosas e com sal. Não sabe. Não sabe que é o meu amor. Não quer saber. Eu to escrevendo com um batom na testa as nossas iniciais. Eu to cantarolando a melodia da música que vai ser a nossa. Escrevendo um monte de coisa sem nexo pra extravasar. Esse texto é quase um pedido pro meu interlocutor mudo. Não foge de mim, meu amor. Eu só quero te mostrar que eu sou feita pra você; é um pedido simples: fica comigo pra sempre. Eu to exagerando, que assim quem sabe você me escuta. Percebe: meu cabelo combina com o seu, sua barba combina com meu rosto, os astros dizem: almas gêmeas. Você odiando quem não fala o que sente. Eu odiando você com medo de ouvir o que eu vou te dizer. Eu vou contando os minutos pra quando eu encontrar. Eu vou tentando me distrair. Eu to ficando bêbada e querendo te ligar pra dizer: entende, menino. O amor da minha vida é você.

quarta-feira, setembro 24, 2008

eu criei um mundo.


e ele acabou de me engolir.

domingo, setembro 21, 2008

Quando elas se conheceram acharam que iam de mãos dadas levar essa vida. A vida, elas sempre souberam, era difícil. Mas o difícil quando se tem um apoio, é edificante. E assim, de mãos dadas, elas construíram castelos, arranha-céus e um templo. Elas podiam mais, porque eram duas.
O tempo que é ingrato, passa. E as construções sólidas, que pareciam fortes e determinantes, se perdem nessa rapidez de um tempo que não permite mais que exista essa força. Quando tudo tem que ser maleável, aquilo que é rígido, destrói.
E quando destrói o que grande, tudo desmorona.
Desmoronam as certezas, desmoronam os sentimentos, desmorona a confiança, a verdade, a sinceridade e o amor que dava vida. Desmorona o amor que dava a vida. Desmorona a vida, que era vida pelo amor. Por que é que eu te machuquei tanto? Não sabe, não sei. Não saberemos nunca. Acontece que agora a gente não pode mais seguir de mão dada. Minha mão machuca a sua. A minha mão é grande demais pra você.
E como é que eu vou? Ela não soube dizer.
Agora elas andam lado a lado, cada uma de um canto da avenida, cuidando de um caminho, que poderia ser o mesmo.

sábado, setembro 20, 2008

Ele nasceu no mesmo dia que ela, mas isso, a princípio não diria nada. Mesmo signo, mesma graça, mesmo jeito idiota de fingir que não leva nada a sério. Ela falando de um jeito que ele não entendia, ele falando pra ela que sequer ela própria sabia o que queria dizer. Normal, acharam graça. Ela achava ele genial, mas não lembrava o motivo. Em verdade, não se esforçou para lembrar, achava que isso era o de menos. Ele ficava brincando com as cores, e ela com as palavras. E de palavra aqui, e outra lá, ela pediu ele em casamento. Ele disse que concordava, mas fazia de tudo pra dar errado. Ela disse que não ligaria, mas continuaria fazendo de tudo para dar certo. Quando o assunto cansou, foram falar de futebol. Ela era corinthiana roxa, ele nem ligava pra resultado. Veio com uma história de que preferia o time na reserva. Ela deu um suspiro e afirmou que jogando, podia ser melhor. Ela sempre prefere que aconteça, ele talvez prefira que passe. Ela nasceu no mesmo dia que ele, e talvez agora, isso dissesse tudo

segunda-feira, setembro 15, 2008

Foi em uma tarde ensolarada de setembro, logo após a hora do almoço, que ela parou de acreditar no amor. Sua mania utópica fez com que, ao longo de toda sua vida, ela tivesse precisado de direções e sustos para apre(e)nder a realidade. Seu irmão mostrou que os presentes do natal eram comprados no cartão de credito. Em dez vezes sem juros, já que um dia ele descobriu que seu pai, o super-herói, também ficava desempregado. Levando um susto após o outro, entendeu que as nuvens mexiam no céu e destruíam no tempo de uma brisa o desenho que ela levara horas para decifrar: UM COELHO! Que logo ela também descobriria que não botava ovos e muito menos distribuía chocolates. Então era mentira. Aquele seriado era dublado, a história da manjedoura foi inventada, aquela vovó fofa tinha um pênis. Aquele fundo, diriam, era falso, aquelas cartas jamais seriam lidas. Seus pais faziam sexo, seu irmão tomava cerveja. Ufa, agora ela sabia de tudo: nada de fadas, sapatos de cristal quebrariam se existissem, drogas não transformam pessoas em vilões. Todo mundo peca, ela já entendeu. Então, assim preparada para tudo, ergueu as costas e saiu sorrindo. Sua casca de realidade era impenetrável e, a partir de agora, nenhuma ilusão podia atingi-la. Mas ela continuou acreditando nos sorrisos, nas mãos que encontravam outras mãos, na palavra quase dentro do ouvindo dizendo a única mentira que ela sempre se permitiu acreditar. Coitada, tanta proteção para cair na mentira mais contada, na lorota mais repetida. E ela ta tão longe, tão sozinha. Longe do irmão mais velho, mais inteligente, pra mostrar que eles podem falar e simplesmente não fazer. Longe do pai, super-herói, que promete que a dor passa e isso era verdade. Tão longe da mãe, que iria dizer que ela também já caiu na mesma mentira. E assim sozinha sua rede de proteção tão boa fica fraca, fina, permeável. Ela cai, cai nas mentiras, nos sorrisos que não eram de verdade. Era uma tarde ensolarada de segunda-feira quando ela disse para si que parou de acreditar no amor. Era uma noite quente da mesma segunda-feira quando ela percebeu que fez o que mais temia: mentiu, pra ela mesma. Era uma vez.

quarta-feira, setembro 10, 2008

o texto abaixo foi reescrito, numa versão melhorzinha em
www.ambidestria.wordpress.com

coluna Arranhando Pétalas.

domingo, setembro 07, 2008

Do jeito que ele me olhava, eu me perdia. E era um desvia, olha, chama, olha de novo, que eu esquecia do resto que estava a minha volta. Esperava o dia amanhecer, tomar banho, ir pra lá só pra ficar de prontidão esperando ele passar e me dizer: Bom dia! Em dias de sorte eu sorria e dizia também 'bom dia', mas por forças do destino e dos olhos daquele menino havia dias em que saia apenas um sussurrante 'oi', guaguejado e abafado pela minha ansiedade.

Ele tinha um violão, e eu nem ritmo tinha.

em um dos dias em que eu não consegui dizer bom dia ele me olhou fundo e disse 'é verdade que você escreve músicas?'

eu não escrevia músicas, era só um amontoado de palavras que juntas eram melhores que separadas. Mas eu só consegui dizer: sim!

Escreve uma pra mim! ele me disse, e eu sem coragem de dizer que não conseguiria sugeri 'a gente não tem papel aqui'

Ele abriu um sorriso. o sorriso mais sorriso que eu conhecia. Abriu os braços também e me falou 'escreve nos meus braços'

Nunca tinha visto aquilo de escrever na pele o que tinha que estar no papel. Escrevi um poema que tinha feito por causa dele, meio tremendo, de encostar naquela pele.

ele pegou o violão, e sem tirar os olhos da minha letra em seus braços...cantou o meu poema.

minhas palavras só tinham vida naquela voz. naqueles braços. no seu corpo.

terça-feira, agosto 26, 2008

Eu agüento seus vícios. Você é tão forte. Teu perfume sempre vence o meu na queda de braço que rola no meu lençol quando você levanta. Teu perfume, grande campeão, se exibe marcante e orgulhoso, me lembrando a noite toda que, ainda que aquela cama fosse minha, ela cheiraria da mesma maneira que cheira a tua nuca colada na minha boca. A noite inteira. Eu volto a pensar nos teus vícios, você consegue ser sórdido até comentando um detalhe meu. Eu sou cheia de detalhes. Você me Olga, como um amontoado de retalhos que você não entende e não gosta. Não gosta mas também não joga fora porque sempre pensa que algum dia eu posso ser útil. Queria ser teu quebra-cabeça, retalhado também. Mas instigante o suficiente a ponto de você ter vontade de juntar minhas peças, exaustivamente, e depois olhar sorridente o resultado. Que seria bonito. Meus detalhes, meus retalhos, minhas peças te incomodam tanto que eu fico constrangida toda vez que você me olha; sempre nua. Você é um masoquista, sabe que eu não sou nada daquilo que mais te atrai mas mesmo assim me olha, demoradamente. Gosta da repulsa que o meu corpo te dá e fica com tesão. Morre de tesão das minhas costas tortas, minhas pernas machucadas e do meu cabelo desgrenhado. Eu não tenho nada do que você mais gosta e você ainda procura isso em mim como se fosse um dia brotar. Adoro o falso tom amigável que a sua voz assume depois que goza. Teu pudor não te deixa me destratar, eu fui recipiente do teu prazer; Mas, assim que o suor seca e o seu corpo para de tremer você se auto-flagela com a tristeza de me ver deitada ao seu lado...feliz.Eu fico sorrindo, vitoriosa, mais uma noite! E aos poucos eu vou te sugando. Você dependendo mais de mim e eu cada vez mais descobrindo quem você é. Meu deus, como você é sujo. Eu te d3ixo imundo e você até chora de prazer. Ou é de vergonha? Eu sou exatamente o oposto do que você gosta. Por que? Você se preocupa, se pergunta, eu finjo que não noto. Vou embora gargalhando. Você me dá asco, vontade de vomitar na sua cara. Bem que você ia gostar que eu vomitasse, eu sei disso. E é só por isso que eu me controlo e não gorfo minha verdade vermelha nesse branco mentiroso que você é.

domingo, agosto 17, 2008

eu tenho tanto ciúme de você e nunca disse. tenho ciúme quando você me diz que com ela era mais feliz. tenho ciúme quando você perde o olhar em uma foto que não é minha. tenho ciúme quando você ouve uma canção e se emociona, sabendo que aquela canção não é nada pra mim. eu tenho ciúme porque ela também gosta da sua barba, porque tem o sorriso dela na sua boca. tenho ciúme dos seus olhos, porque preferem olhar dentro dos olhos dela. tenho ciúme da sua mão, porque já pegou nos seios dela antes dos meus. tenho ciúme da sua língua que já encostou na língua dela. tenho ciúme do seu cabelo, porque ela fazia cafuné melhor que eu. tenho ciúme das suas costas, que antes de mim já tinham sido arranhadas. tenho ciúme do seu peito, porque ela cabia deitada nele e eu não. tenho ciúme da sua cama, seu quarto, seu livros. tenho ciúme do respeito que você tem por ela e não por mim, tenho ciúme que você sabe a comida predileta dela e nunca perguntou a minha. tenho ciúme porque ela era linda, e eu sou tão legal.

era tanto ciúme que eu cansei, e fiquei só com a saudade.

sábado, agosto 09, 2008

http://ambidestria.wordpress.com/2008/08/09/madrugada/


eu vendo meu peixe, mesmo.


entraí. E se não quiser ler a minha coluna, tem outras milhares que valem MUITO a pena.
Hoje você me disse tanta coisa dolorida. Quase todas as suas palavras me machucaram muito. E eu te amo mais por isso. Você me contou que o amor que a gente sente e nos machuca é igual a um braço doente, que tem ser arrancado. Um amor, é igual ao nosso braço, é parte da gente, é nosso apoio;Você até gosta do seu braço, não se vê sem ele, mas ele te faz mal e é preciso arrancar esse braço antes que ele adoeça todo o resto do corpo.
Hoje eu tive nojo dele. Eu tive nojo de um pedaço de mim. Eu tive nojo do meu amor. Meus deus, você me dizia e eu sabia que era tudo verdade, eu sabia que aquele braço que eu olhava e era tão lindo, estava podre por dentro. Quanto tempo eu passei sem acreditar?
Um dia, quem sabe eu encontro outro braço. Mais forte, mais meu. Um dia. Enquanto isso eu vou sem braço, apoiando em você.


[escrito entre algumas lágrimas e muitas cervejas, pra uma mulher que a gente se apaixona todo dia. Cláudia.]

quinta-feira, julho 31, 2008

- Alô? Meu senhor,estou ligando para informar que houve um erro no envio da minha correspondência. Sim, está com o meu nome, mas o conteúdo não é referente ao meu pedido. Sim, meu senhor, já fiz o depósito de pagamento e tenho comprovante aqui comigo. Não, eu não-vou-estar-aguardando retorno algum, eu quero resolver agora meu problema, esse não foi o modelo que eu pedi. Não, não é meu número. É claro que é bonito, meu senhor, mas não se adapta a minha rotina e, infelizmente não supri as minhas necessidades. Ok, pode repassar.

- Oi. Qual o problema? Como assim qual o problema? Estou há mais de vinte minutos esperando que alguém resolva o meu problema e vem a senhorita me perguntar qual é o meu problema. Tudo bem, eu me acalmo. Ouça, o problema é que encomendei um amor pra mim, e mandaram o modelo errado, eu gostaria de trocar. Como assim não aceita trocas? Mas ele não se adapta a mim.

Maldito telemarketing, mandaram eu me adaptar a ele.

quarta-feira, julho 30, 2008

Dor de amor? Dói. Saudade? Dói. Traição? Dói. Indiferença? Dói. Insegurança? Dói. Ralado no joelho? Dói. Afta? Dói. Cólica? Dói. Soco no nariz? Dói.

mas passa...

O dia que eu deixar de ser impotente diante dos seus problemas, eu vou sentir essas dores, todas juntas, talvez, e nem vou notar. Porque a maior dor do mundo, eu to sentindo agora; te decepcionar.
Justo você que não vê meus defeitos, que me acha sempre linda, que diz que eu sou a mais inteligente, que me deu uma camiseta escrito isso. Você que derrete com qualquer olharzinho meu e faz o que eu quero só pra me ver dar um sorriso.
I´m sorry dad, eu sou fraca.

segunda-feira, julho 28, 2008

...e pela paz derradeira que enfim vai nos redimir...

Eu tenho vontade de explicar tanta coisa e não consigo. Ontem sonhei com você. Seus olhos não abriam, amor. Eu não entendi. Sonho tem dessas coisas de deixar a gente confuso, querendo achar um motivo pra tudo. Tua boca, amor, não falava. E eu sorria, te beijava os lábios que sequer se mexiam. Eu não entendi. Tuas mãos escorregavam das minhas, por mais força que eu colocasse pra segurar. Elas tavam tão frias, as tuas mãos que sempre me esquentaram. Amor, eu sonhei que você caia do meu abraço, e eu não entendia porque você preferia ficar ali deitado no chão, se meu colchão sempre tinha espaço pra você. Eu comecei a chorar, amor, e você nem ligou, nem se mexeu da posição que estava. Eu gritei, te chamei de egoísta disse aquelas coisas que a raiva diz quando fala pela gente. Mas eu me arrependi na hora, como eu sempre me arrependo. Escorreguei pro teu lado e te abracei. Juro que no meu sonho te ouvi dizer 'ta tudo bem'. Mas sonho, ah...sonho tem dessas coisas de agradar a gente às vezes.
Amor, eu ontem sonhei com você. Eu ontem quis que você não tivesse ido embora. Ontem eu quis que você abrisse os olhos, que você falasse. Ontem eu sonhei com você e quis, mais que tudo que um dia eu já quis, que você voltasse. não só em sonho.

domingo, julho 27, 2008

Você veio, pegou na cintura, sussurou no ouvido. Ela sorriu, tirou sua mão da cintura dela, falou olhando no seu olho, pra ver se o reflexo dela na lente do seu óculos dizia que ela tava bonita. Você ofereceu um drink, ela aceitou. Ela ofereceu a boca, você beijou. Tinha tudo pra rolar. Rolou. Você podia não ter enrolado ela, mas enrolou. Prometeu, desprometeu, jurou pela mãe morta, depois contou que era orfão. Ela disse que não ligava, mas por que mesmo você não percebeu que era mentira? Sim, ela ligava. Sim, ela chorou e foi muito atriz quando disse que não queria mais te ver. Mas todo palco fecha a cortina. E depois que ela fechou a dela, voltou pro seu abraço se sentindo tão sozinha. Você prometeu, desprometeu. E ela fingiu que acreditou. Mais uma vez. Você fez tudo de novo, ela sabia como ia acontecer. Ela tinha escrito aquele final. Vocês dois juntos, não se suportando mais. Vocês dois separados, não suportando mais a distância.
Eu sei reconhecer um whisky bom e puro de um falso ou aguado por um gelo derretido. Isso eu aprendi muito rápido e sempre treinei. Eu não sei distinguir os motivos que hoje ainda me deixam tão desconcertada. Eu não aprendi a dizer se meu coração dispara de saudade ou de dor. Do tudo que podia ter sido e não foi. De tudo que eu podia ter dito e não disse. De tudo que eu podia ter feito e sequer tentei. Eu não treinei meu coração, fui treinada. Adestrada. Saio por aí obedecendo o que ele quer. Eu choro, digo: pára, mulher, que besteira ainda chorar por isso. O whisky que eu tomo me diz pra eu ficar quieta e obedecer. Eu digo pros meus pés não se perderem no meio de tanto lençol, e eles respondem irônicos que procuram os teus. Minhas mãos, ridículas, escrevem cartas e cartas, e amassam porque eu mando, e reescrevem porque eu não as controlo. Queria saber quando foi que meu corpo deixou de ser meu. Queria saber quando foi que eu perdi o controle. Foi quando te conheci ou quando deixei de saber quem você era?
Agora meus olhos discutem com as lentes dos óculos, que cansaram de ficarem molhadas, sujas da maquiagem que você dizia que não combina com meu rosto. Mas o que eu vou fazer?
Eu vou continuar me maquiando, vou continuar chorando e sujando o rosto. Vou continuar dizendo que o whisky tá aguado, pedir pra fazer sem gelo e ouvir: esse whisky só será menos aguado quando você parar de chorar em cima dele.

sábado, julho 19, 2008

Quando ela era criança ficava se perguntanto quem ficava brincando de pintar o semáforo. Devia ser um homem pequenininho que sabia quando o carro tinha que passar ia lá e pintava: de verde, de vermelho, de amarelo...
Quem será que entregava as latinhas naquela caixa? um homem pequenininho que pegava a moedinha lá em cima, descia um corredor e entregava a latinha...
E paixão, quem será que coloca paixão no coração da gente? Deve ser um homem pequenininho que entra lá e coloca paixão no coração da gente...
Ela cresceu, até hoje não sabe quem foi que pintou o semáforo que fez aquele carro bater e matou tanta gente bonita. Que homenzinho mal. Ela ainda não sabe porque o homenzinho devolveu a moeda sem dar uma coca, naquele dia que ela tava com tanta sede.
Ela não sabe porque o homenzinho colocou paixão no coração dela. Paixão, ela acha, é sempre um pozinho em duas caixinhas. Uma caixinha fica no coração dela...outro pozinho, da outra caixinha, vai ficar no coração dele. O homenzinho, tão cruel, colocou todo pó no coraçao dela. Ela empoeirada de paixão. E ele limpo.
Depois de grande, entendeu que o semáforo não tinha culpa nenhuma quando o carro batia, e também que não tinha nenhum homenzinho pintando nem acendendo luz. Entendeu que se não tinha coca naquela caixa não é porque o homenzinho bebeu tudo, era só porque tinha acabado.

E a paixão? a paixão não é um pozinho que fica no coração da gente. Isso ela ainda não entendeu. Mas já sabe que a culpa não é do homenzinho. Paixão vem, vai. Coisa até de um dia. E se for pra botar a culpa em alguém, que se coloque em outro homenzinho. Um que era tudo, menos pequeno.

domingo, julho 13, 2008

Maquiagem. Desde quando eu tenho olheira? Opa, desde quando eu ligo se tenho olheira? Maquiagem. Lápis preto por fora, dizem que realça olho. Rímel, pros cílios que já são enormes. É, não vai dar pra por óculos. Melhor ficar sem enxergar por hoje. Hoje vale a pena. Toca o telefone. Oi querida, você vem aqui?É bom que a gente bebe um pouco antes de ir, lá a bebida é tão cara. Eu preciso relaxar antes de chegar lá..Lá a companhia pode ser muito cara...Bebi um, bebi dois. Meu batom saiu. Já volto, loira, vou retocar. Batom retocado. Vermelho. Que boca grande você tem, menina. Vamos? Vamos! Então vamos. Oi. Oi. Tudo bem? Tudo bem. Ahm. Você já desistiu daquela idéia? Já. Posso te dar uma idéia? Se você disser que não eu morro. É só uma idéia, se você disser que não eu...eu entendo. E você não disse nada. Eu sai andando. E você me chamou, pra não dizer nada. Pra dizer, simplesmente, que não tinha nada pra dizer. Não diz, mesmo, faz. E você fez. Você sempre faz.

'me aqueça, me vira de ponta cabeça. me faz de gato e sapato. ah...me deixa de quatro no ato. me enche de amor.'

sexta-feira, julho 11, 2008

Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente



Oi, to ligando pra dizer que agora você já pode parar de tentar se importar. Eu to indo embora mesmo, eu, justo eu que tinha decidido ficar. Não, você continua lindo, eu continuo querendo continuar em você, mas é dessas decisões que a vida obriga a gente a tomar. Quando a despedida é rápida, dói menos. Quando a gente se despede do que nunca foi, dói menos. Há pouco eu tinha te prometido, sem você pedir, que de agora em diante eu seria mais eu, e agora eu falaria...mas a voz que tinha resolvido falar agora se arrepende:
eu não digo mais nada.

quinta-feira, julho 10, 2008

Uma surpresa a saudade que tenho de quando ficávamos unidos. Nós, que sempre estivemos separados. Incrível como ecoa bem o meu gemido nesse teu ouvido de homem calado. Ainda me constrange o teu grito, e o jeito que me tratou. Me constrange a ponto de deixar trêmulas as mãos que você sujou. Eu me fiz submissa e já não posso olhar pra trás. Você me prendeu a cabeça, dizendo: esqueça, eu não paro mais. A minha dor eu senti silenciosa. O teu prazer foi todo teu. Hoje, que me faço saudosa, você já te esqueceu. Agora você mantém o silêncio e me comove seu sorriso rude. Agora eu volto pedindo quietinha: por favor, não mude!

quarta-feira, julho 09, 2008

Quando você for apaixonada por mim, eu vou te contar um segredo, te levar pra passear, te acordar com beijo, café e flor. Quando você for apaixonada por mim vou resgatar o R retroflexo e te chamar de meu amorrrr. No dia que você se apaixonar eu vou te pedir em namoro e dar uma rosa roubada. Quando você for apaixonada por mim vou te cantar ‘minha namorada’. Quando você for apaixonada por mim te levo pro cinema pra ver um filme romântico. Quando você for apaixonada por mim te escrevo bilhete até em sânscrito. Quando você for louca por mim, aqui em casa só vai tocar Chico. Por você eu trabalho num banco e prometo ser rico. Quando você se apaixonar por mim a gente vai andar de mão dada e bem devagar, porque gente apaixonada sempre acha que o resto pode esperar. Quando você for apaixonada por mim eu vou te levar pra comer pizza, eu sei que você adora. E prometo que de sobremesa até te consigo uma amora. Quando você for apaixonada por mim, vai dormir enrolada no meu braço. E eu quase nunca vou te deixar dormir, pra te ver morta de cansaço. Quando você for apaixonada por mim, eu deixo o cabelo comprido e paro de fazer a barba. Se você se apaixonar por mim prometo que um dia até ponho uma farda. Quando você se apaixonar por mim, te dou um apelido ridículo pra todo mundo rir. Eu te deixo me dar um também, pra você se divertir. Se tiver de tpm, te dou chocolate e carinho. Se tiver com saudade, prometo ser só seu um pouquinho. Quando você se apaixonar por mim paro de fazer promessa e viro gente decente. Se você se apaixonar, e só... Já vai ter sido suficiente.

segunda-feira, julho 07, 2008

A paixão ta me dando um tapa na cara toda vez que vou falar com ela. Disse que eu ando sumida, ando parando de fazer o que eu sempre fiz pra ela continuar ali, só existindo.
Eu ando preocupada, to começando a esquecer seu rosto. Será que um dia se eu te vir de novo eu não vou reconhecer? eu não lembro mais do teu cheiro.

A question well served,
'Is silence like a fever?'
'A voice never heard?'
'Or a message with no receiver?'

Fluxo de consciência só funciona quando o escritor é bom. 'um grande amor não se acaba assim feito espumas ao vento'. eu vou ouvindo as músicas. o petrucci e o fagner, na mesma lista de execução. você e eu nessa porra de confusão. 'desejo pegando fogo'. eu nessa porra de confusão. 'mas se eu fosse você eu voltava pra mim de novo'
e de novo
e de novo

eu descobri que eu sou repetitiva, tão repetitiva quantos os gemidos da Ana Carolina.
'eu queria tanto mudar sua vida, mas você não sabe se vai ou se fica'
eu sempre caio na mesma história e sempre consciente! eu tenho noção da burrice. e gosto de ser burra.
a ignorância é uma dádiva mesmo.

Pegou o telefone e tremia mais de ansiedade do que de frio.
Alô?
Não diz nada, cala a boca e me escuta.
Eu to tentando não acabar com tudo. Eu sempre disse que ia ser indiferente e não consegui. Agora, eu to lutando contra a minha (sempre boa) memória pra não te esquecer.
Eu to te vendo ir embora, do jeito que eu disse que iria. Au revoir, mon amour.

Ela gosta da pose de vítima. ah, ela gosta. Eu sempre fiz tudo pro nosso casinho dar certo. ' o que você não quer eu não quero insistir'. Desce desse ônibus e fica comigo aqui parado.

Tá sempre se arrependendo de ter começado as coisas. Por que foi que não bebeu menos, não deixou de criar coragem e não ficou quieta ao invés de perguntar: que tal nós dois? E por que foi que ele não disse um não tem nós dois, ao invés de beija-la? Pra que tanto carinho? Pra que tanta atenção. é tão mais fácil ser indiferente...

'no peito dos desafinados também bate um coração'.

Liguei pra floricultura hoje pra saber o preço das flores. Eu diria que não ando valendo muito. Eu diria que há muito tempo ela espera um bem boladinho de flor com um sorriso na cara.

a noite tava linda. mas o teu sorriso me engoliu não me deixou ver mais nada. teu sorriso branco, grande, me deixou presa nele de modo que eu não conseguia nem me mexer. você é lindo. deu um suspiro e perguntei 'ta pensando em que?' e você desfez o sorriso pra falar alguma bobagem. 'Será que você não é nada que eu penso?'
quando é que você vai ler os meus pensamentos?
Vinicius de Moraes escreveu crônicas e não mandou. Chico Buarque escreveu canções e não mandou. Pablo Neruda escreveu poemas e não mandou, acho até que a Hilda já escreveu bilhetes e também não mandou. Eu só não mando as cartas que escrevi, eu, uma pena...só me calo quando queria sentir.

domingo, julho 06, 2008

Eu sou forte, vou lá, vou dizer o que penso, como penso, o quero e como quero. Ele vai entender, vai achar justo, vai se arrepender e mudar. Tudo vai ser mais feliz. Vou dizer pra ele aquilo que o Guimarães dizia e que é verdade...

(O que? 'Viver é muito perigososo'?)

Não...

Vem cá, amormeuzinho

quinta-feira, julho 03, 2008

Desde que você foi embora eu resolvi não brincar com que já acabou. Guardei o que era bom, enterrei o que doía e fingi que esqueci. De tudo. Todo mundo me via por aí sorrindo, me apaixonando, e acreditava que tudo tinha ido embora. Mas não foi.
Encontrei o seu diário empoeirado embaixo da minha cama. A sua letra horrível, que só eu entendia. Encontrei toda a saudade que eu senti todos os dias que você não tava comigo. E eu fingia que era certa a sua visita, porque só assim eu conseguia ir levando os meus dias. Você tem razão..a gente não sabe o que vai acontecer no minuto seguinte e eu, meu deus, eu sempre te cobrei certezas. Mas era o jeito que eu tinha arrumado pra continuar almoçando (sem você) continuar estudando (sem você), continuar dormindo ou pelo menos tendo vontade de dormir (sem você). Você era meu prêmio. "Se você for uma boa menina, vai ter o seu grande amor no final de semana" e eu fui uma boa menina. Fui a melhor que eu pude. Será que é isso? "Mãe, eu largo as drogas, a bebida, eu largo os vícios, eu largo. Ele volta?". Não volta.

No teu diário tinha uma foto minha. Um pedaço do meu cabelo, coberto por você. Você me sujava toda, e era quando eu me sentia mais limpa. De sentimento. Meu deus, como eu te amei. Como faço pra cuspir isso agora? No teu diário você disse que sentia, e eu nunca percebi isso. Por que me fizeram tão sensível pra minha dor e tão insensível pro resto? Deve ser por isso que os quadros não fazem sentido pra mim, se não fui eu quem pintei.

Acho que eu vou queimar seu diário. Acho que eu vou tentar te esquecer de novo. Mas, você sabe e eu sei também, que o teu diário vai estar na minha lembrança todo dia. toda hora. Eu já me conformei que outro de você eu não terei. Ninguém entendia que eu preciso ganhar flores. Só você. Os hibiscos da rua estão murchinhos, nem dá vontade de pegar pra mim. E ainda que estivessem lindos, perderam a cor quando você passou por eles. Parou na sarjeta, sentou. e quase não conseguiu continuar...

A nossa diferença é essa. Você quase não conseguiu. Eu, querido, desisti de andar...

sábado, junho 28, 2008

Ai, pára. Você tá me machucando. Esse teu jeito de não decidir o que quer de mim, pra que isso? Devagar, você tá me machucando. Eu só queria entender o que passa nessa tua cabeça. É sarcasmo ou ingenuidade mesmo? Não faz assim, você tá me machucando. Eu não consigo desistir de você, nem quando você mesmo já desistiu de você; péssimo defeito esse o meu, continuar acreditando. Ta doendo, vai devagar. Você continua me olhando. Quando me abraça eu acho que vou explodir. Por favor, tenta não me machucar. Queria te dizer tanta coisa, mas essa tua introspecção vai me fazer calar pra sempre. Você ainda ta me machucando, me solta. Me solta, cara, me deixa ir embora. Não encosta mais em mim, você sempre me machuca. Não volta com esse sorriso, que eu não quero sorrir pra você mais. Você é muito forte, não me aperta assim. Você é muito forte, forte demais pra mim. Me solta. Me solta. Me solta. Não me solta nunca, nunca mais...

"Seja do jeito que for, eu te juro, meu amor, se quiser voltar... tá perdoado"

quarta-feira, junho 18, 2008

O problema é a intensidade? Uma vez eu te perguntei isso. Você sorriu, um sorriso de lado, disse que era a intensidade o que eu tinha de melhor. Você disse, eu lembro, que eu nunca devia querer perder isso. Mas quando você disse você tava indo embora. Eu pedi, intensamente, que você voltasse. E você não voltou. Então por você e por tudo que eu fiz e faria por você eu me prometi não perder a intensidade. Você disse que era lindo de ver o jeito que eu me abandonava para as coisas. Eu disse que eu fazia isso porque não sabia fazer diferente. Você me achou incrível. Eu te achava único. Eu sabia, eu sempre soube, que outro de você não teria. Eu ainda sei disso. Sei quando to sozinha, sei quando estou com outros. Sei quando estive com ele. Você foi embora e ele ficou. Você foi embora deixando que eu gritasse. Ele ficou me fazendo ficar quieta. Eu tentei lembrar da promessa que fiz pra você e pra mim e não me calei. Não deixei de dizer o que sentia, não parei de sentir. Eu disse que eu queria ser indiferente e você não deixou. E eu não fui, eu não sou. Agora aquele que tinha ficado também foi. Você, ainda não voltou, e eu, meu deus...Eu to procurando força ainda para não quebrar aquela promessa. A única coisa que eu fiz por mim mesma, a única coisa que me une a você

sábado, junho 14, 2008

Ele é funcionário, ela dançarina.Disso, o chico já sabia. Ela esguia, passava por qualquer fresta, mesmo naquela onde só cabia o pão lotado de requeijão do jeito que ele gostava. Ele funcionário, já se sabe, funcionário da música na boca. Música essa onde ele conheceu ela. Boca aquela, onde ele se encontrou. E ela ficou com a boca suja de requeijão, de tanto beijar o funcionário-de-nada, aquele que desistiu de ter patrão, pra ficar olhando a dançarina e sua cintura que cabia direitinho nas mãos nada burocráticas do funcionário sem instituição. Os passos de um tinham o formato dos pés do outro. Eles cabiam em uma cama só. Eles faziam um coro só, com duas vozes e várias risadas que se perdiam de noite, quando os dois não sabiam mais quem eram. Ele dançarino, ela funcionária. Funcionária de nada, fazendo ele dançar por aí, do jeito que ela ensinou e ele sempre quis aprender.
Era uma estátua de mármore. Branca, bonita, mas uma estátua. E por mais que se queira, por mais que se esforce... Uma estátua de mármore não pode fazer muito por você. Uma estátua, se sorri, foi esculpida. Se chora, continuará chorando por todos os outros dias que você passar por ela. Uma estátua. Que pena, meu amigo, você se apaixonou por uma estátua. Que pena, senhora da rua de trás, você tentou se explicar pra uma estátua. Desculpa, moça do nome de flor, estátuas não sabem falar de amor. Elas vão passar mais tantos anos da mesma maneira. Quando você tiver o corpo marcado pela saudade dos antigos amores, ela estará só mais gasta, de aguentar sereno sozinho. E quando ela tiver menos branca pela sujeira, você vai estar cada vez mais pálida. Porque no fim, é uma pena, mas você é igual a estátua, presa em você mesma, esperando alguém te tirar dali.

terça-feira, junho 10, 2008

E aí, tudo bem? Eu sei que você não tá bem
É claro que tudo bem. Por que não estaria tudo bem? Ele acha que eu não to bem.
Sei lá. A gente ficou meio desentendido, eu não queria te entristecer. Eu sei que te magoei
Ah, então é isso. Você tá perguntanto se eu to bem, no sentido de se eu to bem sem você. Egocêntrico.
É, né. Você gosta tanto de mim. Eu sei que gosta.
É, eu gosto tanto de você. Pena que você não entende, pena que você nunca entendeu, que eu gosto de você como gosto de qualquer pessoa que está comigo. Como gosto de qualquer pessoa que almoça comigo, me leva pra passear e me faz companhia. Eu gosto de você como podia gostar de tantos outros. Bom, mas fica bem aí. Não quero que você se preocupe.
Eu não tô preocupado. Eu nunca tive.
Legal, né. A gente se vê por aí. Quem sabe a gente se entende. Fica assim de boa. É, acabou o tesão.
Eu acho bom! Eu acho legal quando a gente fica. Só sobrou o tesão.
Eu também. Então tá. Tchau hein, se cuida. Se tivesse carinho, o tesão seria o de menos. Mas um nunca teve, o outro acabou. Uma pena, eu que te achava tão lindo.
Se cuida você também! Sem mim.
Sem você.

sábado, junho 07, 2008

[Te perdôo por fazeres mil perguntas que, em vidas que andam juntas, ninguém faz] [Oi, então, quando você vai começar a me amar? Sabe como é, a vida vai passando, a gente vai querendo gostar e se não acontece, ah...ai dói, né? Oi? Não? Não vai dar pra gostar?] [Te perdôo, por pedires perdão, por me amares demais, te perdôo] [Olha, to dizendo numa boa, querido. Não dá, não dá mais. Você confia demais em mim e eu não gosto de quem confia em mim, entende? Eu nasci pra não ser confiável e teu jeito de dizer que eu sou perfeita só anda me humilhando, porque eu no fundo, querido, eu no fundo valho menos que a fumaça do meu cigarro] [Te perdôo por ligares pra todos os lugares de onde eu vim] [Sabe o que te atrapalha? O que te mata? O que te mata é esse teu ciúme ridículo. Como se me fizesse ser menos cafajeste o teu desespero de me fazer seu] [Te perdôo por ergueres a mão, por bateres em mim] [Bate filho-da-puta, quando é que você vai aprender que eu gosto das coisas machucadas, sangrando embaixo do meu cobertor? Eu gosto de dor, querido. E você com esse jeito de bom moço, vai acabar me deprimindo] [Te perdôo quando anseio pelo instante de sair. E rodar exuberante e me perder de ti] [Vai, mulher, vai com essa meia cor da tua boca, cor da unha, cor do teu desespero. Vai pro mundo, que eu já não aguento teu peso nas minhas costas, nas minhas pernas, nas minhas coxas] [Te perdôo por quereres me ver aprendendo a mentir] [Diz, diz olhando na minha cara que não é só tesão que te prende a mim] [Te perdôo por contares minhas horas nas minhas demoras por aí] [ Diz tu, desgraçada, quantos outros você prefere?] [Te perdôo porque choras, quando eu choro de rir] [O importante é que você gostava quando me via tremer embaixo de você, ainda que pensando em outros] [Te perdôo por te trair] [...]


Brigada, Chico. Prometo parar de usar tuas letras pros meus vômitos particulares.

sábado, maio 31, 2008

Boa noite, senhoras e senhores. Eu simulo histórias de amor. Os senhores não se assustem nem me condenem, porque eu podia estar a roubar um aqui, a matar um acolá e não estou. Estou inventando, ora. Que mal tem? Eu invento histórias de amor e, por antemão aviso, não prejudico ninguém, vez ou outra, acabo maltratando a mim mesma, mas até aí, quem não for masoquista que me julgue, porque eu assumo: eu invento histórias de amor. Já inventei, senhores, a do primeiro namorado. Conhecem? Bom, a história do primeiro namorado se passa na entrada da adolescência. É certo que a maioria escolhe um rapazinho da mesma idade que dê flores e diga que ama sem saber o que pode ser isso. Acontece que eu, enquanto autora das minhas próprias histórias, renovei. Escolhi um desses homens de mais de vinte anos, barba cheia e palavra bonita. Inventei pra ele um amor. Meu Deus, foi patético. Mas primeiro namorado é sempre patético. Aqueles que pai não sabe, e tal. Bom, a história do primeiro namorado, ao contrário do que a palavra ‘primeiro’ pode supor, de nada importa. Vamos ao segundo namorado, o ‘namorado de levar em casa’. A história que eu inventei pra esse, senhores, há de valer o Nobel da Criatividade um dia. Pois bem, o ‘namorado de levar em casa’ devia de ser um rapaz bonitinho, desses de sorriso franco, honesto, sabem? O tipo bom moço. E, de fato, eu inventei um desses para mim. Esse sim, supõem vocês, me dará flores e dirá que me ama. O segundo, asseguro, o disse. E talvez (não sou eu que pretendo julgar o sentimento dos meus personagens), amasse, de fato. Sabe-se lá o que será o amor, prossigamos: o ‘namorado de levar em casa’, ao contrário do suponho que os senhores supuseram não me deu flores: nem flor, nenhuma. Passei uns dias minha vida esperando meu personagem fazer o que eu esperava. Mas acontece que eu redigi mal a história e acabei sem flores. Sem flor e sem emoção. O ‘namorado de levar em casa’ nunca emociona, porque não gosta do kubrick e tem medo de mulheres que não são boas moças, afinal, ele é um bom moço. Eu, que já disse que sou masoquista, não sou boa moça, compreendem? Não nasci pra ‘nãos’, não bebe, não dança dessa maneira, não usa essa roupa, não pega aí nesse lugar. Não, não era comigo essa história de não. O bom moço, o ‘namorado de levar em casa’ não queria uma moça que não fosse boa. Digamos, eu podia ser boa, mas não boa moça, apesar de também ser moça. Enfim, o que importa é que o bom moço não emocionava em nada, e sem emoção, eu não podia escrever então a história acabou. Em verdade, a história não veio de fato a acabar, ela foi cortada por uma outra história que eu resolvi escrever. Essa história, senhores, foi um dramalhão. Lindo, do início ao fim, de começar e terminar chorando. No auge da minha besta juventude comecei a escrever a história da paixão. Eu, que tinha tido o primeiro e segundo namorado, agora havia me apaixonado. Pasmem, depois de dois namorados é que eu fui me apaixonar. É de chorar, minha gente. De chorar de tanto rir. Vamos então para a paixão. Ah, a paixão vocês já sabem são todos aqueles clichês: olho no olho, aquela sintonia. Meu deus, a paixão. A paixão sabia dos meus desejos, das minhas vontades, a paixão ia me enlouquecendo, me fazia soltar o que eu tinha de pior e de melhor. Pela paixão eu gritava, eu suava, eu gemia. Eu matava, se ele quisesse. Eu me arrastava, eu era toda sangue, eu era toda uma coisa sem nome, que a paixão me transformava, eu era sem nome, sem endereço. Eu era um suporte pra hibiscos coloridos que ele espetava do lado da minha orelha. Eu era eu, em todos os meus defeitos. Ele suportava os meus defeitos e até gostava de uns. Ele satisfazia aquelas coisas que só se tem coragem de contar quando é a paixão que fala contigo. Meu deus, a paixão me consumiu e fui ficando fraca. Fraca. Fraca. Quando a paixão resolveu me deixar, porque paixão tem dessas, de deixar a gente. Quando a paixão resolveu me deixar eu vi que eu tava fraca e ninguém podia me segurar. Ninguém. E eu, que com essa mania de inventar tive que agüentar sozinha a dor de inventar um amor tão grande que me destruía. E eu fui caindo, sem força nenhuma, achando que agora, a inventora dentro de mim se calaria e eu ia parar com essa mania de inventar história de amor... tinha morrido aquela vontade de criar e fazer poesia, e acordar cantarolando e dormir abraçado e...

Pluf, criei mais uma história, meu dedos frenéticos queriam escrever mais uma história de amor. Mas se a do primeiro, a do segundo e a do terceiro namorado não tinham dado certo, que é que eu, pobre inventora, podia fazer? Criei a história de amor do não-namorado. A história do não-amor. Daquele que veio pra não gostar de mim, daquele que não quer me namorar. Criei ele assim, do jeito que eu gostava, com umas manias bobas, é verdade, mas lindas, com um cheiro que misturava com o meu, com um jeito de cuidar que fazia falta quando tava longe, com uma indecisão absurda que era pra bater de frente com as minhas certezas. Essa história não podia ter amor, não pode. Comecei a me perder, o que é que tava acontecendo? E pela primeira vez não era eu que escrevia o meu roteiro...

[qualquer coisa assim sobre você, que explique a minha paz...tristeza nunca mais]

Quando vi Júlia a primeira vez. Meus Deus. Ela usava uma meia-calça rasgada no joelho e o cabelo preso em um rabo-de-cavalo alto, bem alto, quase em cima da cabeça. Do rabo saiam uns fiados que lhe desciam pelo rosto. Branco, pálido, com apenas as bochechas rosadas e boca vermelha. Tão vermelha como eu nunca tinha visto antes. Naquela luz eu só via Júlia. Sentado naquela cadeira eu só via Júlia. Na minha respiração, no meu tato, no meu sono na manhã do dia seguinte eu via Júlia. Desde quando conheci Júlia eu comecei a ter raiva das outras mulheres, que pareciam uma falta de respeito andando descontraídas, enquanto Júlia estava cansada. Ainda que eu adorasse ver Júlia cansada, porque a sua respiração ficava difícil e seu peito arfava, fazendo uma dança linda com o seu decote. Toda noite eu ia ver Júlia. Comecei de longe, até parar quase encostado nela. Sabia o que ela ia me dizer. Dizia, com uma outra modificação, as mesmas coisas todos os dias. Fazia os mesmos gestos e recebia os mesmos aplausos. Os meus. Nas sextas-feiras, talvez por falta do outro-que-fazer, os meus aplausos eram engrossados por umas quatro outras mãos. Mas ninguém aplaudia a Júlia como eu aplaudia. Minhas palmas eram frenéticas, cheias de um tesão que se desconhece em mãos desapaixonadas. Júlia sorria pra mim quando eu me levantava pra aplaudir de pé sua existência. Houve um dia, que a primeira fileira começou a ser pouco pra mim, eu quis subir naquele palco e levar Júlia embora comigo, era tanto que me doía vê-la só durante a noite. Esperei os aplausos acabarem, e, como era apenas eu que aplaudia, quase não tive que esperar. Esperei Júlia sorrir, e como eu amava aquele sorriso, quase não senti o tempo passar. Assim que ela derrapou pra dentro daquele palco eu me meti por detrás das cortinas e andei aqueles corredores sujos desesperado por ela. Corri. Corria e gritava pelo nome dela. E não encontrava. Júlia, meu deus, Júlia. Quando já saia desconsolado, parei em frente a porta daquele lugar imundo, que um dia – disseram – havia sido um respeitável teatro, para sentar um pouco e pensar em como ficar com Júlia quando eu ouvi sua voz que me dizia, OI?. Quase não acreditei, me virei de uma vez e me assustei porque não era Júlia que estava na minha frente. Talvez uma irmã, talvez uma prima, talvez uma impostora ridícula que imitava minha musa. É você que vem me assistir sempre né? Não, minha senhora, eu venho ver Júlia. Ah, claro, bom saber que você gosta desse personagem, já que fui eu mesma quem escrevi. Eu nem escutava o que ela falava, achava ridícula aquela mulher de cabelo solto e vestido até o pé, com a boca descolorida. Eu me perguntava meu deus quem é ela? Cadê a minha Júlia? Meu deus será que essa é a minha Júlia? Meu deus quem é você? Prazer, eu chamo Maria.

Eu sai andando. Aliviado! É claro que ela não era Júlia, a minha Júlia. Amanhã, quem sabe, eu consigo falar com ela.

sábado, maio 17, 2008

Eu vim pedir liberdade, argumentar, falar de que eu preciso de um pouco de ar, que esse sufocamento acaba comigo. Vim pedir de volta os meus dias, os meus poemas, as minhas declarações. Se possível, por piedade, os meus 'sins' e os meus 'nãos'. Quero liberdade quando eu sinto, e quando eu lembro do que senti. Eu quero, por que não?, voltar a mentir.
E quanto mais eu peço por liberdade, quanto mais eu quero de novo o meu sorriso...
volta a mesma voz
o mesmo cheiro
o mesmo jeito
lembrando: foi você quem optou parar de sorrir.
E eu vejo a minha liberdade, encostada, me olhando pela janela
'olha ela, olha ela aí..."
e eu sequer me levanto, que eu livre...
eu livre não sei seguir.


[prendam-me]

terça-feira, maio 06, 2008

Estranho. Parece bem estranho.
Parece. Estranho, bem estranho.
Não sei qual o problema
Não sei se é o teu sorriso, que eu desconhecia;
(mas eu sempre sorri)
Talvez sejam teus olhos que eu não via
(mas eu me mantive olhando ali)
Estranhas suas mãos que eu não acostumo
(as minhas procuram as tuas)
Estranho que eu não gosto e assumo
(minhas pernas andam tuas ruas)
Tão estranho teu cheiro que não combina
(e com o meu se confunde)
Estranho teu coração que desritima
(e no passo do meu se funde)

Estranhíssimo.


"estranho seria se eu não me apaixonasse por você"

sexta-feira, maio 02, 2008

A gente se acostuma com negligência, com não-ditos, com cansaço. A gente acha que é normal descaso. Passa um tempo, e fica batido não lembrar dos dias, dos sorrisos. Quando se vê, se tem vazio sem motivo.
A gente devia querer se acostumar com carinho, com bom-dia, com vem aqui. A gente devia passar uns dias sem mentir.
A gente devia não ter vergonha de falar que gosta em meia-hora de carinho. A gente não tinha nunca que almoçar sozinho. A gente não devia achar indiferença uma coisa prática e nem destribuir má-vontade. A gente devia assumir saudade.
A gente tinha que entender que não tem problema se faz pouco tempo, se não faz tempo nenhum, se ninguém entende. A gente tinha que vomitar o que sente.
A gente (meus deus, como eu devia) tinha que parar de escrever e ligar contando a verdade, mesmo se for tristeza. Gritar pro mundo não devia ser fraqueza. A gente devia dizer que aquilo machuca, que aquilo-outro entristece. A gente devia ajudar quando desse. A gente devia querer ser amigo, abrigo, irmão. A gente não devia esperar tanto não. A gente deveria gostar de paixão, de se doar. A gente devia ser mais gente, só pra variar.

sexta-feira, abril 25, 2008

Rosa sem espinho é flor bonita;
rosa desfolhada é flor que se ignora

deixa os espinhos, rapaz, é proteção
leva as pétalas se quiser, mas vá embora.

sexta-feira, abril 18, 2008

No dia em que você foi embora eu achei que eu ia também. Ia, não sei pra onde, mas ia. Ia ficar louca, ia secar. A gente sempre acha que não tem mais lágrima pra chorar. Mas tem. Aí depois a gente acha que não vai parar de chorar nunca. Mas uma hora a gente pára. Quando você foi embora eu achei que nunca mais entenderiam os meus vícios. Então me viciei mais, já que era impossível alguém entender. Quando você foi embora eu achei que você ia voltar. Mas uma hora a gente entende que as coisas são definitivas. Eu achei que você ia vir com aquele de papo de eu-só-tava-confuso, mas você não veio e nem disse nada. Quando você foi embora, naquele dia de tarde, eu achei que tava indo embora a pessoa mais interessante que eu conheci. No outro dia de manhã, eu tive certeza. Quando você foi embora eu tentei me livrar de você. Guardei seus retratos, sua letra, seus desenhos. Tirei os lençóis, troquei de toalha e quando eu sentei exausta, jogada no colchão, eu entendi que era de mim que vinha seu cheiro. E ai eu pedi pra não ser mais eu. Eu liguei para os amigos, para a pizzaria, e para cerveja. Eu disse que tava bem e abracei as pessoas. Muito antes de você ir embora eu já sabia que você ia. A pizza chegou e eu comi quase tudo sozinha. E eu vomitei tudo, sozinha também. Eu bebi todos os outros dias que não te escrevi. Eu escrevi enquanto bebia, e nunca mandei.

Quando você foi embora eu fiquei branca, que nem uma folha de papel. E eu sabia que eu ia continuar assim, já que eu não ia ter mais quem desenhasse em mim. E ninguém repara em folha de papel branca..

Quando eu entendi que, de fato, você foi embora, eu me maldisse. Eu achei que a culpa foi minha, eu não me perdoei. Quando você virou de costas eu pensei que eu nunca devia ter virado as costas pra você. Quando você foi embora eu me prometi milhões de coisas e lembrei que você nunca me prometeu nada. Ai eu sorri, porque quando você foi embora eu percebi que você nunca teve aqui. Eu liguei pro mundo pra contar isso...mas o mundo não me atendeu.

quarta-feira, abril 16, 2008

"frustrado ele, apavorada ela,
mulher inteira, homem por metade"
(Saramago)
A gente cansa de gente pela metade. Eu meio que te amo, eu meio que quero ficar com você, eu meio que acho, meio que devo. Pela metade ninguém vale a pena. Metade amigo, metade companheiro, metade ser humano. Não, não vale a pena. Pessoas pela metade insistem na busca pela outra metade. E só há como dar metade de si sendo, um dia, inteiro. Vontade de ser inteiro, bando de incompletos. E hoje, acredite, só se pode ser de outro sendo antes seu. Entenda, só ama aquele que é inteiro sozinho. Não ama nem aquele que ama por dois, nem aquele que se deixa ser amado por dois. Uma hora isso passa, e aquele que amava por dois cansa de falar para o vazio, e aquele que era amado por dois cansa de não dedicar nada a ninguém. E assim, pessoas pela metade sentem pela metade e, quando por trapaças do destino, resolvem olhar pro lado de lá, percebem que não tem nada. E o nada, saiba, pode ser só metade do vazio que sobrou de você.

terça-feira, abril 15, 2008

Um sonho, de uma noite: você chegaria em uma livraria, enorme, bonita, e me encontraria sentada em meio a desconhecidos. Seu coração não dispararia, como nunca disparou, mas você ensaiaria um sorriso e iria ao meu encontro. 'Oi, você se lembra de mim?'. Eu, no entanto, daria um sorriso sincero, fecharia um pouco os olhos, como boa míope que não usa óculos e diria: 'Não'. Você entenderia e continuaria andando.

Um sonho, de uma vida: Eu acordaria amanhã sem tristeza nenhuma, olharia no espelho e a sua imagem ia sumindo. Olharia as nossas fotos e você, aos poucos, não estaria lá. Meu corpo ia perdendo seu cheiro, minhas mãos perderiam a forma das suas e se acostumariam com as outras que as seguram. Meu corpo não teria marca alguma, e eu não sentiria dor quando ouvisse as músicas que eu sempre gostei de ouvir. Embaixo das minhas unhas eu só teria uma poeira aleatória vinda do móvel sujo e não pedaço da tua pele. Eu já não escrevia na esperança desesperada que você lesse e muito menos falaria desamparado sonhando que você me ouvisse. Eu não sentiria saudade, nem passaria os meus dias futuros revivendo os passados. Eu não lembraria seu rosto, nem o modo como sorria de lado, nem como você cantava errado música nacional. E quando um dia me perguntassem de você eu diria: 'Não sei de quem você tá falando'. E seria verdade. Eu não saberia, ainda que ouvir teu nome enchesse meu peito de uma felicidade esquecida.

Sonhos.
São sempre sonhos.
Mudam-se apenas os sonhadores e as camas. Do mais, são sempre sonhos.

Dream, a little dream.

quinta-feira, abril 10, 2008

à Val, minha mulher...



Eram cinco da manhã, você não queria viajar. Chegar lá cansada, já na hora da aula, ai que preguiça. Não podia esquecer de por o brinco. Aquele de pena, sua amiga te deu, lembra? Amiga... era como se fosse irmã, como se fosse você mesma. Aquele brinco, que nem era caro, era como se fosse um presente seu pra você mesma. Você colocou o brinco, era mais fácil viajar usando ele.
Tantas horas de viagem, e eu sei que você consegue dormir, na hora nem sente, mas da um cansaço, né?
Você dormiu, virou pro lado da janela que era pra não sentir o cheiro de cigarro do moço ao lado. Afinal, cigarro de dia fede e dá nojo e você, senhora hipocrisia, só fuma de noite. O brinco, do lado direito, o mesmo que você se virou.
Dormiu.

Acorda, menina, você já ta na rodoviária. Cara amassada, meu deus como é quente essa cidade. Ajeita o cabelo que nunca se ajeita. Pronto. Eita, onde ta o brinco?
Não ta na cadeira, não ta no chão, nem no banco ao lado.

-Minha senhora, o motorista pediu que a senhora se retirasse.

Desespera. Procura, vai, você consegue achar. Olha no banco da frente, no corredor. Aquele filho-da-puta-fumante-fedido que tava do seu lado. Certeza que ele levou o brinco.
Como vai se olhar no espelho de novo? Você perdeu o presente. O presente que eu você deu a si mesma...
Desespera, mulher, desespera.

-Minha senhora o ônibus tem que partir, faça a gentileza de descer?

DESESPERA!

Moço, vê se entende, ela perdeu o brinco, não é fácil, ta?

-Minha senhora, era algo de valor?

Muito, muito valor. E ela perde e você nem entende. Vai, menina: desespera.

-Se a senhora me disser o que é, posso ajudá-la.

Ajuda-la, sim. Com você ai, só lhe resta desesperar..

Um brinco de pena, várias peninhas azuis, verdes, da cor dos olhos dela. Acha pra ela moço, ou ela surta. Apesar de que ela devia mesmo era desesperar.

-Um brinco de pena? E era de valor? Bom, volte aqui amanhã e procure na sessão dos achados e perdidos.

Ninguém devolveria aquele brinco, ta na cara dele que ele é diferente. Logo, desespera.

Sem brinco, a cara se não ta mais amassada agora ta vermelha. Cara de quem chorou.
Agora ele te liga, pergunta se você ta melhor do resfriado do final de semana.

3 chamadas perdidas.

Ai, como ele te ama.

Mãe, pai, 144.

Sua mãe ligou pra falar que seu pai vai ligar avisando que a operadora vai ligar dizendo que vai cancelar seu número.

Genial. Ele não te ama. Vai, menina, desespera.

Moço, o preço do metrô subiu? Meu deus, agora é doisevinteecinco e ela só tem doisevinte. Moço, deixa ela passar, coitada. Nota de cinqüenta aceita? Aceita, vai, moço.

Cobrador filho-da-puta. Aposto que fuma de dia. Não se pode confiar em quem fuma de dia. Se você ao menos tivesse com o seu brinco...

Desespera. Pode desesperar que é a única coisa que resta. Des-espera, mesmo. Que esperar que o mundo entenda, mulher, é tempo que esvai...

domingo, março 23, 2008

Uma vez ela ouviu falar de extraterrestre. Ela não sabia o que era. Não sabia, portanto, o que tinha que sentir quando falassem disso. Resolveu que medo não seria. Começou a se adaptar a idéia, e a imaginar como seria uma coisa que não fosse da terra. Seria maior que o tio que já era tão grande? Seria menor que uma galinha? De tanto imaginar deixou que a imaginação dissesse. Seria pequeno: um palmo, e ficaria no seu ombro que nem fosse um papagaio. Bem bonitinho. E ia ser seu amigo, iam dormirem juntos e conversarem...Ele ia entender o porquê de tantas coisas que ela sempre teve vontade de explicar mas nunca soube pra quem. Foi então que ela rezou, como a mãe tinha ensinado, pra que esse extraterrestre viesse logo pra cá. Mas ele nunca aparecia. De tanto rezar, dormiu, e só acordou quando já era moça e nem lembrava do que queria quando era pequena. Só foi pensar no tal extraterrestre quando a prima sumiu. A menina, agora moça, se perguntava por que que a prima que era tão chata e feia tinha sido escolhida pra ir embora com os extraterrestres e ela não. Ficou decepcionada. Mais adiante se apaixonou e resolveu que ia casar, fosse o que fosse. Tinha amor e tinha vontade, mas antes de olhar pro padre e dizer; sim! ela pensou que podia ser esse o momento do tal amigo extraterrestre levá-la pra dar uma volta no mundo e voltar; pra não casar assim sem ter conhecido nada. Mas ele não foi. Ela chorou e todo mundo achou que era a emoção de casar. Nesse dia ela pensou na prima e lembrou da gravidez que a família escondeu na França, e lá no fundo pensou 'eu sabia que eles não iam levá-la e me deixar aqui'. O casamento foi indo e um dia ela teve filhos. Ela nunca deixou que os filhos tivessem medo de extraterrestres, e pensava: já que eu não fui, leve-os, só pra conhecer o mundo e voltar...Acontece que isso não aconteceu. A vida foi seguindo, os filhos indo embora...e antes do menor deles sair de casa ela pensou, que extraterrestre mesmo é a vida, que leva a gente pro mundo, sem trazer de volta.



Esse texto é todo dedicado a Dona Lina Abboud, pros íntimos: mamãe.

segunda-feira, março 17, 2008

O dia era frio. Por que uma pessoa põe sofrimento na outra justo em um dia frio? Em dia frio não é saudável sofrer. Eu fui andando naquela chuva. Não tinha dinheiro. Ou eu pegava o ônibus pra ir, ou pra voltar, ou pra comer. Fui caminhando. Cada pingo pesado, que eu nem sentia. Doía mais pensar em você. Fui indo sem nem sentir. Quando cheguei, tava toda molhada. Passei tanto frio, mas nem senti e nem culpei aquela chuva de pingos grossos, culpei você, que sequer me abraçava. Não comi, não tive fome. Só frio. Então resolvi me dar ao luxo de não andar mais sob a chuva. Peguei um ônibus. Que tava quente, cheio de gente. Era como se todas aquelas pessoas que fugiam da chuva como eu, me dessem um abraço quente. Igual ao que eu te pedi e você recusou. Sentei e chorei. Não tava triste.

'Minha filha, tá tudo bem?'

'tudo sim, seu cobrador, é só uma notícia boa que me fez chorar'

E eu ainda não sei se chorava porque tava tudo quente, ou se porque tava tudo bem, como dizia a mensagem que você deixou no meu celular molhado.

domingo, março 09, 2008

Prefira o desprezo.
Essa coisa de que o pior dos tormentos é a indiferença é balela, meu senhor.
Prefira a indiferença.

Porque é essa coisa de ódio incomoda, dá trabalho. Ai, ficar odiando dá uma canseira que só vendo. Foi aí que eu desisti de odiar. Porque odiar implicava em me fazer pensar no ser odiado e isso dava uma preguiça; porque eu não sabia mais porque odiava, já que nada me incomodava, já que nada eu lembrava. Era como se ele nunca tivesse existido. A indiferença bateu em mim que nem batesse uma varinha mágica, sabe? Parei, numa bonita tarde de verão quente, de odiar.

E amar? Ai, nem me fale. Amar suga as energias. Ontem mesmo nem consegui trabalhar de tanto que eu amava. Vê só: eu tinha quatro livros pra ler, e que foi que eu fiz? fiquei sorrindo, olhando pro teto e pensando no desgraçado. Cansei tanto que acabei dormindo. Não, o pior que sequer deu pra relaxar com esse sono, o filho-da-mãe me persegue até dormindo. Acordei exausta de tanto amar. Isso, te digo, porque ele tá longe. Imagine o senhor quando ele tá perto. Não durmo, nem quando ele dorme. Que é de amor ficar acordada vendo o sono dele. Não como, não bebo, quié porque ele mata minha sede e minha fome. Ai, o amor. L´amour, monsieur. Destrói. Por que que eu fui amar, meu senhor? Sabe-se-lá. Acho que foi a inteligência dele que fez isso comigo. Ele é ótimo. Descobriu antes de mim, antes de você, quiça antes da humanidade inteira que o melhor caminho é a indiferença. Ele fica intacto e tira de mim o que precisa pra viver; a minha energia.

Por isso, aqui, meio sabida da vida te digo, senhor, que me escute. Pois eu reitero: prefira o desprezo.

domingo, fevereiro 24, 2008

esse vício ainda me destruiria
vai me matando, hora a hora
dia a dia.
eu to dizendo, não é de agora
esse vicio me adia.

esse vício tirou meu sono
me cansa, me endoidece
esse vício é meu dono
esse vício não me esquece

abstinência, sou dependente
eu vou tremendo, vício ausente.
mata-me vício. termina agora
ou mata-me disso
ou leva-o embora

eu já disse, eu já disse
homem, ilícito: tu é meu vício!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Filho-da-puta, acha que vai me deixar aqui, desse jeito e tudo bem? Vou pro bar, vou bonita, vou chifrar aquele cretino. Salto alto, batom vermelho, unha pintada. Sorri pro espelho. Eu to linda. TÁÁÁXI, me leva pra Augusta. Aí, pode parar. Eu gosto desse barzinho. Ei, garçom, uma tequila, por favor. Ele morre se me vir com essa saia. Fica bem em mim, todo mundo olha. Um bar com sete mesas cheias. Cheias de homem. Todo mundo me querendo e aquele estúpido dizendo o que disse. Deprimente. Garçom, tequila dupla e mais limão. Opa, brigada. Nossa que calor. Toma aqui, fica com o troco que eu to com pressa.

Eu to andando. Andando. Aqui ninguém me conhece. Olha só, que surpresa. Os carros tão parando. Eu vou olhar. Meu deus, eles pensam que eu sou prostituta. Ai, se minha família visse isso. Ai se...Nossa, como tem homem bonito nesses carros. Até parece que precisam pagar pra conseguir mulher. Mulher é um bixo tão fácil. O que? Eu? Eu cobro caro, meu amor. Da onde vem tanta felicidade, meu deus. Por que eu to tão feliz?

Oi, disponível, to. Aceito. Não, só tem uma condição, eu preciso voltar cedo. Ai, meu deus, é hoje que eu recebo por fazer o que eu sempre fiz de graça. Sim, são quatrocentos. Pode me chamar..Me chama do que você quiser, hoje você pode me dar o nome que quiser..meu deus, que carro lindo. Que homem horrível. Tudo bem, é só fechar o olho e pensar em outra coisa. Oi, ai. Não, desse jeito eu não gosto. Eu, eu falo quatro línguas, quer que eu goze em qual? Ah, beleza, não vai ser o primeiro orgasmo fingido da minha vida. Ok, vai..Nossa, ele não vai agüentar muito tempo, melhor pra mim. Ai, Oh, mon dieu! Beleza. Preciso ir. Telefone? Me passa o seu que eu te ligo. Ligo o caralho, velho. O prazer foi todo meu. Um beijo. Tchau.

Alô? Oi amor. Eu liguei pra dizer que eu te entendo...pra te dizer que eu te desculpo, de novo.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

mais uma que é pra ser música, também enviada pro guto colocar melodia..


Eu vou dizer a verdade

Vou acabar com teu sossego

To trazendo felicidade

Pro teu desespero

Eu to jogando flores na esquina

To cantando pro desconhecido

To dando bom dia com rima

To dançando esquisito

Mas é tudo por maldade

Essa coisa de sorrir

Eu to falando de saudade

Que é pra você desistir.

Pra sua tristeza

Eu to fazendo a gente feliz

To trazendo poesia

E você ta pedindo bis

Eu vou te deixar maluco

Com a minha mania de amor

Eu to te deixando tonto

Com esse cheiro de flor

Mas é tudo por maldade

Essa coisa de sorrir

Eu to falando de saudade

Que é pra você desistir.

Eu não vou te deixar ir embora

E minhas costas não darei

Eu vou dizer que te amo

Só pra te ouvir dizer: ‘eu sei’

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Eu sou cicatriz,

Antigo amor,

De quando você foi feliz;

Eu sou lembrança,

Passado amor,

do teu perfume

que era o meu

de quando o meu abraço

esquentava o teu.

Eu sou tua saudade,

Esquecido amor,

Do jeito que eu sabia

Como fazer o que você queria

Eu sou teu karma,

Grande amor,

Meu sorriso te acompanha

De dia, de tarde, na cama.

E o meu gosto

Teu beijo ainda pede

Um dia eu disse,

Lindo amor,

Amor meu não se esquece.

Um dia eu disse,

Findo amor,

Amor meu não se repete



[essa eu mandei pro Guto por melodia]

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Mãe, to te ligando pra dizer que eu to com um problema. Então, eu achei que ia passar, mas agora que ta piorando eu achei que era melhor te contar. Não, mãe, é claro que eu não to grávida. E por acaso gravidez passa? Ah, mãe, que maldade. Não, também não ando usando drogas pesadas, só as de sempre, você sabe. Então, mãe, o problema é que eu to pensando demais nele, to fazendo o que ele gosta, to mudando o mundo pra não ter ele que mudar. É. To pensando em futuro, em casamento, em filho, sabe? É, mãe. O negócio ta tenso. E lembra aquele papo de eu-não-vou-mais-me-apaixonar? Fudeu.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

"Eu sou sua alma gêmea, sou sua fêmea,
seu par, sua irmã
eu sou seu incesto
sou perfeita porque, igualzinha a você
eu não presto, eu não presto"

(Chico Buarque)

Engraçados vocês dois. Vocês não têm nada a ver, né? Não sei aonde vocês tão querendo chegar com essa história.

Ela, por azar ou não, nascera brasileira. Com sangue, animação e apaixonada por aquela música. Ele, inevitavelmente, era brasileiro, sem conhecer muito o encanto e a graça daquele país.

Sabia que ele gosta de Shakespeare? Fala dele que só vendo. Sim, o Shakespeare, aquele que você acha um chato de ler.

Ele gostava das imagens, e achava que falar e ouvir, ás vezes era desnecessário.

Ela não calava a boca, nem quando ele dormia. Falava, falava, falava e continuava com a sensação que ainda tinha mais para dizer.

Ei, você. Você sabia que ela é ciumenta? Louca. Maluca mesmo. Tem ciúme das suas amigas, acha todas impertinentes. Acha você seguro demais pro gosto dela. Já disse que você é inatingível com ciúme... ela vai pirar.

Ela ta de cabelo armado, unha e boca pintada. Ele preferia que ela fosse mais discreta.

Eu realmente não consigo entender. Você é água, ele é óleo. Não mistura, entende? Polar e apolar. Choque térmico, social, cultural e até astrológico. Baby, ele é aquário e você é touro, ta entendendo? Nunca vai dar certo. Pra que insistir?

Ele nem conhece direito música nacional e ela só sabe cantarolar mpb. Ele ai se preocupando com o almoço e ela pensando em beber. Ele fica entendendo de números e ela se importa com vírgulas e acentos.

Você vai até quando esperar que ele mude?

Você vai continuar tentando muda-la ?

Ela tem aquele sotaque que não decide se é caipira ou se é mineiro. Ele é da capital. Ele escuta rock´n roll e ela se remelexe com qualquer sambinha que tocar. Tão engraçada essa combinação. Ninguém entende. Eles andam agora com essa mania de dormirem abraçados. Vendo assim, parece até que da certo.

Ela ta fugindo, ta pensando em futuro, ta dizendo que ama. Ele ta sorrindo, abrindo os braços e não dizendo nada. Ela criou um mundo pra eles, logo muito logo ele conta pra ela que esse mundo não existe.

Nossa, eu jurava que o vi tentando sambar. Olha ela ali, quase que aprende a jogar bilhar. É impressão minha, ou ele ta começando a escrever? Veja ela, não agüenta mais o interior.

Diferentes nada, incompletos. Quem sabe assim juntos, dentro um do outro, eles não brincam de ser um só.

domingo, fevereiro 10, 2008

É a tua mente pervertida
Que não vê que esse sorrriso
É só diversão
Eu vou divertida
Boca colorida
Correndo pela contramão
Eu vou sorrindo
Eu vou soltando
(devagarinho)
Da tua mão.

sábado, fevereiro 09, 2008

Engraçado como a gente vê as pessoas depois que as pessoas passam. Um dia você se apaixonou. E achava que eles entendiam o que você escrevia, mas eles não liam. Como a gente erra tanto? Hoje você entende que não ouviram o que você falou do Saramago, que sequer sabem quem é Almodóvar e que se preferiam ver filme dublado era por mero comodismo. Faltava ambição. Sempre vai faltar. Você se entristece, e lembra de todos os esforços feitos pra que deixassem a cidade pequena, a fofoca desmedida, os olhos da família. Eles te chamavam de alcoólatra. Não te deixavam ser sincera, nem quando você queria. E você queria tão pouco. Não vale a pena nem sentir saudade. Você foi tentar guardar as boas lembranças, quando percebeu que as boas lembranças eram mentiras suas. Aí você contabiliza as lágrimas que você deixou que caíssem, e as pessoas que machucou por quem não sabia nem sobre o que você estudava. E se perguntasse você saberia que não ouviriam mesmo. Perdoem-me todos os deuses por eu ter banalizado tanta música bonita, tanto poema bem escrito, tantas vezes a palavra amor. Pra que tanto ciúme? Se tivessem ido embora antes, talvez antes você teria visto que... Se você soubesse. Não fica nem tristeza, nem saudade, nem carinho. Fica só a sensação de pena por um tempo que podia ter sido e não foi. Não, Pessoa, minha alma é grande e mesmo assim não valeu a pena. Meu reino pra quem inventou a mudança. O universo pra quem sabe aproveita-la.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Essa é a minha despedida. É o meu adeus, au revoir, bye, baby.

Eu tentei avisar, mundo. Você não ouviu. Eu disse que eu precisava de cuidados, eu precisava de mudanças. E eu to mudando.

Mundo, quanto orgulho você vai sentir de mim quando me vir assim fria, assim distante.

Eu sou melhor de longe. De longe a gente é mais bonita, a gente parece mais inteligente, a gente tem mais tempo de pensar antes de fazer qualquer besteira. De longe eu podia estar sempre de batom vermelho, cabelo mais arrumado, unha feita. De perto você vê o que há de pior em mim; minha alma.

Agora to indo embora. De longe a gente se fala. De longe eu vou deixar você me ver mais uma vez. Ai, Mundo, você nem vai me reconhecer!

Deixa um beijo pros amigos, um abraço pras coisas boas. Eu fui o seu refúgio, sua dimensão paralela, agora eu vou ser, quem sabe (e finalmente), sua saudade.

domingo, fevereiro 03, 2008

Eu visto as pessoas. Ninguém nunca percebeu, mas eu não sou completa. Eu, em verdade, sou nua. Ando nua pelas ruas e ninguém nota. Eu só me visto quando entro em alguém. E ninguém nota. Eu entro e me torno você, ele, ela. Eu vou vivendo o que todo mundo vive. Eu vou sentindo o que todo mundo sente. E quando vocês acabam eu fico nua, só com as recordações.
Quando eu me tornei vocês? Quando foi que eu deixei de viver a mim pra viver vocês? Me diz, alguém, por favor, como foi que eu desaprendi a me vestir?

Se vocês tivessem alguma coisa pra me dar. Se vocês tivessem me vestido com abraço, com beijo, com qualquer coisa envolvente. Mas eu fui caminhando nua, tremendo, sentindo frio, humilhação. Não é fácil ser nua quando mundo está vestido. Por fora.

Aí eu entrei em cada um de vocês; e me vi caminhar. Com teus olhos, com tuas mãos. Vendo como cada um me via. Dói.

Eu senti o que cada um sentia quando me encontrava. Dói.

E eu desisti de vestir vocês. Porque eu dava meus dias para viver os seus. Fui embora nua, sem roupa, sem sombra, sem sentido. Achando de mim o que eu achava, e num ato quase louco, me abraçando pra ver se em algum momento me sentia confortada.

eu cai.

enrolada na escuridão.