Quando ela era criança ficava se perguntanto quem ficava brincando de pintar o semáforo. Devia ser um homem pequenininho que sabia quando o carro tinha que passar ia lá e pintava: de verde, de vermelho, de amarelo...
Quem será que entregava as latinhas naquela caixa? um homem pequenininho que pegava a moedinha lá em cima, descia um corredor e entregava a latinha...
E paixão, quem será que coloca paixão no coração da gente? Deve ser um homem pequenininho que entra lá e coloca paixão no coração da gente...
Ela cresceu, até hoje não sabe quem foi que pintou o semáforo que fez aquele carro bater e matou tanta gente bonita. Que homenzinho mal. Ela ainda não sabe porque o homenzinho devolveu a moeda sem dar uma coca, naquele dia que ela tava com tanta sede.
Ela não sabe porque o homenzinho colocou paixão no coração dela. Paixão, ela acha, é sempre um pozinho em duas caixinhas. Uma caixinha fica no coração dela...outro pozinho, da outra caixinha, vai ficar no coração dele. O homenzinho, tão cruel, colocou todo pó no coraçao dela. Ela empoeirada de paixão. E ele limpo.
Depois de grande, entendeu que o semáforo não tinha culpa nenhuma quando o carro batia, e também que não tinha nenhum homenzinho pintando nem acendendo luz. Entendeu que se não tinha coca naquela caixa não é porque o homenzinho bebeu tudo, era só porque tinha acabado.
E a paixão? a paixão não é um pozinho que fica no coração da gente. Isso ela ainda não entendeu. Mas já sabe que a culpa não é do homenzinho. Paixão vem, vai. Coisa até de um dia. E se for pra botar a culpa em alguém, que se coloque em outro homenzinho. Um que era tudo, menos pequeno.
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