Eu sei reconhecer um whisky bom e puro de um falso ou aguado por um gelo derretido. Isso eu aprendi muito rápido e sempre treinei. Eu não sei distinguir os motivos que hoje ainda me deixam tão desconcertada. Eu não aprendi a dizer se meu coração dispara de saudade ou de dor. Do tudo que podia ter sido e não foi. De tudo que eu podia ter dito e não disse. De tudo que eu podia ter feito e sequer tentei. Eu não treinei meu coração, fui treinada. Adestrada. Saio por aí obedecendo o que ele quer. Eu choro, digo: pára, mulher, que besteira ainda chorar por isso. O whisky que eu tomo me diz pra eu ficar quieta e obedecer. Eu digo pros meus pés não se perderem no meio de tanto lençol, e eles respondem irônicos que procuram os teus. Minhas mãos, ridículas, escrevem cartas e cartas, e amassam porque eu mando, e reescrevem porque eu não as controlo. Queria saber quando foi que meu corpo deixou de ser meu. Queria saber quando foi que eu perdi o controle. Foi quando te conheci ou quando deixei de saber quem você era?
Agora meus olhos discutem com as lentes dos óculos, que cansaram de ficarem molhadas, sujas da maquiagem que você dizia que não combina com meu rosto. Mas o que eu vou fazer?
Eu vou continuar me maquiando, vou continuar chorando e sujando o rosto. Vou continuar dizendo que o whisky tá aguado, pedir pra fazer sem gelo e ouvir: esse whisky só será menos aguado quando você parar de chorar em cima dele.
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