segunda-feira, setembro 15, 2008
Foi em uma tarde ensolarada de setembro, logo após a hora do almoço, que ela parou de acreditar no amor. Sua mania utópica fez com que, ao longo de toda sua vida, ela tivesse precisado de direções e sustos para apre(e)nder a realidade. Seu irmão mostrou que os presentes do natal eram comprados no cartão de credito. Em dez vezes sem juros, já que um dia ele descobriu que seu pai, o super-herói, também ficava desempregado. Levando um susto após o outro, entendeu que as nuvens mexiam no céu e destruíam no tempo de uma brisa o desenho que ela levara horas para decifrar: UM COELHO! Que logo ela também descobriria que não botava ovos e muito menos distribuía chocolates. Então era mentira. Aquele seriado era dublado, a história da manjedoura foi inventada, aquela vovó fofa tinha um pênis. Aquele fundo, diriam, era falso, aquelas cartas jamais seriam lidas. Seus pais faziam sexo, seu irmão tomava cerveja. Ufa, agora ela sabia de tudo: nada de fadas, sapatos de cristal quebrariam se existissem, drogas não transformam pessoas em vilões. Todo mundo peca, ela já entendeu. Então, assim preparada para tudo, ergueu as costas e saiu sorrindo. Sua casca de realidade era impenetrável e, a partir de agora, nenhuma ilusão podia atingi-la. Mas ela continuou acreditando nos sorrisos, nas mãos que encontravam outras mãos, na palavra quase dentro do ouvindo dizendo a única mentira que ela sempre se permitiu acreditar. Coitada, tanta proteção para cair na mentira mais contada, na lorota mais repetida. E ela ta tão longe, tão sozinha. Longe do irmão mais velho, mais inteligente, pra mostrar que eles podem falar e simplesmente não fazer. Longe do pai, super-herói, que promete que a dor passa e isso era verdade. Tão longe da mãe, que iria dizer que ela também já caiu na mesma mentira. E assim sozinha sua rede de proteção tão boa fica fraca, fina, permeável. Ela cai, cai nas mentiras, nos sorrisos que não eram de verdade. Era uma tarde ensolarada de segunda-feira quando ela disse para si que parou de acreditar no amor. Era uma noite quente da mesma segunda-feira quando ela percebeu que fez o que mais temia: mentiu, pra ela mesma. Era uma vez.
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