quarta-feira, setembro 24, 2008

eu criei um mundo.


e ele acabou de me engolir.

domingo, setembro 21, 2008

Quando elas se conheceram acharam que iam de mãos dadas levar essa vida. A vida, elas sempre souberam, era difícil. Mas o difícil quando se tem um apoio, é edificante. E assim, de mãos dadas, elas construíram castelos, arranha-céus e um templo. Elas podiam mais, porque eram duas.
O tempo que é ingrato, passa. E as construções sólidas, que pareciam fortes e determinantes, se perdem nessa rapidez de um tempo que não permite mais que exista essa força. Quando tudo tem que ser maleável, aquilo que é rígido, destrói.
E quando destrói o que grande, tudo desmorona.
Desmoronam as certezas, desmoronam os sentimentos, desmorona a confiança, a verdade, a sinceridade e o amor que dava vida. Desmorona o amor que dava a vida. Desmorona a vida, que era vida pelo amor. Por que é que eu te machuquei tanto? Não sabe, não sei. Não saberemos nunca. Acontece que agora a gente não pode mais seguir de mão dada. Minha mão machuca a sua. A minha mão é grande demais pra você.
E como é que eu vou? Ela não soube dizer.
Agora elas andam lado a lado, cada uma de um canto da avenida, cuidando de um caminho, que poderia ser o mesmo.

sábado, setembro 20, 2008

Ele nasceu no mesmo dia que ela, mas isso, a princípio não diria nada. Mesmo signo, mesma graça, mesmo jeito idiota de fingir que não leva nada a sério. Ela falando de um jeito que ele não entendia, ele falando pra ela que sequer ela própria sabia o que queria dizer. Normal, acharam graça. Ela achava ele genial, mas não lembrava o motivo. Em verdade, não se esforçou para lembrar, achava que isso era o de menos. Ele ficava brincando com as cores, e ela com as palavras. E de palavra aqui, e outra lá, ela pediu ele em casamento. Ele disse que concordava, mas fazia de tudo pra dar errado. Ela disse que não ligaria, mas continuaria fazendo de tudo para dar certo. Quando o assunto cansou, foram falar de futebol. Ela era corinthiana roxa, ele nem ligava pra resultado. Veio com uma história de que preferia o time na reserva. Ela deu um suspiro e afirmou que jogando, podia ser melhor. Ela sempre prefere que aconteça, ele talvez prefira que passe. Ela nasceu no mesmo dia que ele, e talvez agora, isso dissesse tudo

segunda-feira, setembro 15, 2008

Foi em uma tarde ensolarada de setembro, logo após a hora do almoço, que ela parou de acreditar no amor. Sua mania utópica fez com que, ao longo de toda sua vida, ela tivesse precisado de direções e sustos para apre(e)nder a realidade. Seu irmão mostrou que os presentes do natal eram comprados no cartão de credito. Em dez vezes sem juros, já que um dia ele descobriu que seu pai, o super-herói, também ficava desempregado. Levando um susto após o outro, entendeu que as nuvens mexiam no céu e destruíam no tempo de uma brisa o desenho que ela levara horas para decifrar: UM COELHO! Que logo ela também descobriria que não botava ovos e muito menos distribuía chocolates. Então era mentira. Aquele seriado era dublado, a história da manjedoura foi inventada, aquela vovó fofa tinha um pênis. Aquele fundo, diriam, era falso, aquelas cartas jamais seriam lidas. Seus pais faziam sexo, seu irmão tomava cerveja. Ufa, agora ela sabia de tudo: nada de fadas, sapatos de cristal quebrariam se existissem, drogas não transformam pessoas em vilões. Todo mundo peca, ela já entendeu. Então, assim preparada para tudo, ergueu as costas e saiu sorrindo. Sua casca de realidade era impenetrável e, a partir de agora, nenhuma ilusão podia atingi-la. Mas ela continuou acreditando nos sorrisos, nas mãos que encontravam outras mãos, na palavra quase dentro do ouvindo dizendo a única mentira que ela sempre se permitiu acreditar. Coitada, tanta proteção para cair na mentira mais contada, na lorota mais repetida. E ela ta tão longe, tão sozinha. Longe do irmão mais velho, mais inteligente, pra mostrar que eles podem falar e simplesmente não fazer. Longe do pai, super-herói, que promete que a dor passa e isso era verdade. Tão longe da mãe, que iria dizer que ela também já caiu na mesma mentira. E assim sozinha sua rede de proteção tão boa fica fraca, fina, permeável. Ela cai, cai nas mentiras, nos sorrisos que não eram de verdade. Era uma tarde ensolarada de segunda-feira quando ela disse para si que parou de acreditar no amor. Era uma noite quente da mesma segunda-feira quando ela percebeu que fez o que mais temia: mentiu, pra ela mesma. Era uma vez.

quarta-feira, setembro 10, 2008

o texto abaixo foi reescrito, numa versão melhorzinha em
www.ambidestria.wordpress.com

coluna Arranhando Pétalas.

domingo, setembro 07, 2008

Do jeito que ele me olhava, eu me perdia. E era um desvia, olha, chama, olha de novo, que eu esquecia do resto que estava a minha volta. Esperava o dia amanhecer, tomar banho, ir pra lá só pra ficar de prontidão esperando ele passar e me dizer: Bom dia! Em dias de sorte eu sorria e dizia também 'bom dia', mas por forças do destino e dos olhos daquele menino havia dias em que saia apenas um sussurrante 'oi', guaguejado e abafado pela minha ansiedade.

Ele tinha um violão, e eu nem ritmo tinha.

em um dos dias em que eu não consegui dizer bom dia ele me olhou fundo e disse 'é verdade que você escreve músicas?'

eu não escrevia músicas, era só um amontoado de palavras que juntas eram melhores que separadas. Mas eu só consegui dizer: sim!

Escreve uma pra mim! ele me disse, e eu sem coragem de dizer que não conseguiria sugeri 'a gente não tem papel aqui'

Ele abriu um sorriso. o sorriso mais sorriso que eu conhecia. Abriu os braços também e me falou 'escreve nos meus braços'

Nunca tinha visto aquilo de escrever na pele o que tinha que estar no papel. Escrevi um poema que tinha feito por causa dele, meio tremendo, de encostar naquela pele.

ele pegou o violão, e sem tirar os olhos da minha letra em seus braços...cantou o meu poema.

minhas palavras só tinham vida naquela voz. naqueles braços. no seu corpo.