Fecho três vezes os olhos como em um ritual quando quero desviar o pensamento de alguma coisa. As letras horríveis nas folhas marcadas de vermelho me confundem, e o risco que às vezes sai do controle na lateral daquela folha me lembra o seu braço, quase sangrando. Que sorte a dessas pessoas que conseguem manter-se alheias aos prazeres efêmeros. Eu não. Meu sorriso ainda se sustenta por horas depois daqueles dois segundos que sintetizam quase a vida inteira: comer com os olhos sempre foi meu prato predileto. Sinto uma fome quase insuportável, mas fico em dúvida constante de que parte do meu corpo ela vem. A salivação é a mesma. E do mesmo jeito eu tremo, eu me contorço e faço da minha boca caminho direto. Eu sacudo a cabeça, aperto as minhas próprias pernas, respiro fundo. Fecho três vezes os olhos. Não leva mais do que alguns segundos para eu retomar a concentração, empunhar com força a caneta vermelha e continuar rabiscando, pontuando e exigindo.
Um comentário:
de blog em blog cheguei nessa delícia de fluxo. achei incrível.
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