E vai tentando fazer rima...e não sai. E vai tentando dizer o que sente, e não diz. E escuta e repete e cantarola a mesma música. E enjoa. Vai dançando, remexendo, sacudindo, e não libera essa vontade de dar um grito. E GRITA! E não tira essa náusea. E VOMITA palavras e não consegue não ter asco do mundo. E chora, pra ver se essa água salgadinha limpa a alma. E não limpa, só embaça. E amassa, e se enlaça no primeiro corpo que passar, que é pra ver se nesse enlace, tem o passe pra tomar. E engoli, o máximo de saliva que puder, mas não sacia essa sede toda. Que angústia, gira e se vira e atira uma flor no mar. E não chega a Iemanjá, porque ela não atende. Nem sente o murro no céu, pedindo um lugarzinho ao sol. Que problema, não se lembra de como fazer pra esquecer. Esqueceu de como lembrar do desejo que não passa, nem com água nem com cachaça. E se despe, se abraça, fica descalça. Sente o chão. Não, ainda dói o nó na garganta. O grito preso. A boca imunda, espalha nomes feios. Anseios. Como livrar? Nem televisão, nem telefone, nada passa, nada some. E que nome que volta na sua cabeça. Tão princesa, se enfeita e se perfuma, sem saber pra quem se arruma. E dança, sem saber como terminar, e cansa, sem ter onde sentar. Aí entendo que o que mente é a boca bonita. E se atiça pra dizer umas verdades. Maldades, logo assim tão tarde, telefona, e num sopro quase que surdo, como um sussuro, diz, pro mudo ao lado. Calado, eu amo você.
segunda-feira, outubro 30, 2006
sexta-feira, outubro 27, 2006
Estávamos sozinhos
Meus poros pediam que eu pegasse e, sem medo de ser feliz, me entupisse daquela satisfação culposa de fazer o que não devia. Eu jovem, precisava me cuidar. Mas como? Era tão tentador. Naquela noite eu tinha que ter o direito de saciar qualquer desejo. Resolvi só chupar um pouco, só pra sentir o gosto. Não mordi, não fui tão ávida assim, tirei da boca quase que implorando pra deixar. Sentindo escorrer na minha saliva a vontade de permanecer com ele ali pra sempre. Satisfação. Se eu pudesse provar mais um pouco, um pouco mais afundo. Mas, deuses, é horrível querer chocolate quando se tem gastrite.
quinta-feira, outubro 26, 2006
Resolvi te querer,
Pretendo me enroscar,
Nas tuas pernas perdidas
No teu modo de falar.
Quando pensas em fugir,
Puxo-te os cabelos
E tu de tanto que me ofendes,
Acaba se acabando em mim.
Encosta teu peito aos meus.
Sempre quiseste assim.
Respira na minha velocidade.
Arrepende-se e choras gritando.
Mal dizendo a vaidade.
Por fim, saciada,
Jogo-te pela ladeira.
E escutando teu grito, chamando,
Danço só, a noite inteira.
Sem medo, sem saudade.
Desnudada por completo.
Cansada de te fazer gozar.
Plena na minha vontade.
Sabendo por certo
Que estás a me chamar.
Grita, então, rapaz.
Grita muito o meu nome.
Porque o nome que chamas
É o mesmo que some.
sábado, outubro 21, 2006
Eu gosto do teu sorriso. Gosto do gosto do teu sorriso. Gosto, mais ainda, do teu sorriso no meu sorriso. Perto, quase fazendo um sorriso só. Gosto de fazer-te sorrir, e quando desmancho teu sorriso
Eu espero nosso poema concreto. Eu desperto teu desejo secreto. E que passem dias, e meses e o ano. E que me importa que tenham outros? E outras? E que tenham outras línguas que não as nossas? E que fale francês, inglês, árabe? Importa mais é que o sorriso permanecerá, indiferente dos quilômetros, independente do resto do mundo. Talvez aí, onde te escondes, o pôr-do-sol seja diferente deste que vejo, diferente como pra mim teu sorriso é diferente de todos os outros. É diferente porque é teu, sendo meu. Assim como sou tua, ainda que eu não seja de ninguém. Trazes poesia pra menina que precisa de poesia, pra menina que respira poesia, pra menina que chora poesia. Trazes, ainda, esperança. Indissolúvel esperança. Com gosto de saudade. Saudade do muito que ainda temos pra viver. Saudade de todos os sorrisos teus que eu guardo meus olhos pra ver.
quinta-feira, outubro 19, 2006
Quem és tu, moleca?
'Meu nome é Maria’
Que fazes por cá?
‘Vim fazer poesia’
Escute, menina, volta pra boneca.
‘E como fica meu escrito?’
Fica por aí perdido.
‘Fica com ele então, o meu sorriso e a minha alegria’
Mas logo poesia, Maria?
Nessa terra brasileira?
Poesia aqui ninguém lê
Fazem dela brincadeira.
Vai, Maria, esquece teus versos.
Poesia te adia
Impede de crescer.
[Esquecer, como podia?
Se Maria era escrava
Domada da palavra.
Esquecer, não esqueceu;
Mas Maria cedeu.
Precisava viver.
Escrevia, em prosa.
E se punha a chorar.]
‘Minha cervical é poética
tenho respiração métrica,
Meu nome faz rima,
Poesia, minha sina.
Sou vadia, vendo minha vida
E meu corpo.
Pela arte
dou-me toda, não em parte.
Dou, ainda, minha calma
Negocio minha alma,
e o que mais parecer útil’
Lembra-te, Maria.
Teus versos são rosas
Bonitas, cheirosas.
Agradam nosso olhar.
Mas rosas, Maria
Não alimentam
Rosas não sustentam
E tu, Maria.
Terás que parar.
Ainda que dolorida
Mesmo que não queiras.
Pára, Maria!
Cessa teu cantar,
Tapa os ouvidos
E te põe a caminhar.