domingo, fevereiro 26, 2012

a você,


vou lhe escrever essa carta agora que eu já não me importo mais. Tantas vezes eu queria ter te dito que você é lindo e que é uma excelente companhia até pra fazer nada. Eu quis muito te dizer que me doía o seu jeito de não dizer nada, de aparentemente não sentir nada e da sua incapacidade de elogiar, mas eu fiquei quieta. Eu fiquei quieta todas as vezes porque eu tinha muito medo de parecer essas mulheres malucas que você critica tanto. Eu não sou maluca, mas eu também não sou esse poço de silêncio que aceita com indiferença seu desprezo. Eu senti todos eles, eu até chorei alguns deles. Mas eu aprendi a sofrer calada e se hoje eu te conto isso, é porque não me importa mais. Eu queria tanto ter te contado o porquê te dei aquele chocolate, mas preferi que você achasse que era só mais uma lembrancinha. Melhor assim. Melhor assim porque e não posso entender seu jeito bipolar, de um dia ser a pessoa mais doce do mundo e no outro parecer nem lembrar direito meu nome. Incrível que, até hoje, a única coisa que eu sei que você gosta em mim é meu cabelo e meu strofonoff, e, na verdade, eu sempre quis te dizer que acho uma gracinha a sua cara pós-piadinha-mal-feita. Tudo bem, eu torci pro seu time perder aquele dia que você me trocou pelo jogo, mas no dia seguinte, eu não queria atrapalhar seu trabalho, eu não queria roubar seu tempo. Na realidade, eu só queria te dar  um beijo e desejar boa viagem, que a gente não se perdesse tanto da gente em alguns dias tão loucos. Mas tudo bem, é isso aí. Ficam meus votos de boa viagem, porque agora a gente vai passar por aquele processo inevitável de nos tornamos semi-amigos, depois desconhecidos, até eu te esquecer completamente. Então, boa viagem, porque eu não vou saber de mais nada...porque eu não tive nenhuma chance de me apaixonar de vez por você. Porque você nunca deixou. Porque agora, a partir de hoje, eu finjo que não me importo.

com carinho,

Eu, e todas as outras.

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Merda.

Já te contaram que merda só fede quando a gente mexe nela? Ignorada, no canto, ela resseca, endurece e a gente chuta longe se precisar, mal sente o cheiro na ponta do sapato novo. Nunca abaixe a guarda, menina. Nem para o sorriso, nem para a palavra de carinho, menos ainda pra shows particulares, completamente incompreensíveis. Quanta coisa a gente aprende e desaprende no terceiro abraço. Quanta coisa a gente finge que esquece. Esquece que as pessoas não precisam de fato se importar para fingir que se importam, e que a gente não precisa se machucar para sentir uma dor insuportável, dessas que nem banho cura. Não abaixar  a guarda e ignorar toda merda que lhe envolve, garotinha burra: aprendendo isso, tudo se resolve, e você volta a ter consciência. Do quê? De quem? Você não faz a absoluta ideia, mas qualquer coisa vale mais que uma meia dúzia de riscos poucos sinceros em volta do olho, denunciando que ele sempre soube mais.Ela cansou do jeito que você sorri, do modo como você espera, do jeito passivo de levar a vida. Tudo bem, ela não se importaria mais, não fossem os dedos curiosos que insistem em cutucar a merda que é a matéria que te constrói. Dá para sentir o cheiro de longe...

terça-feira, fevereiro 14, 2012

baunilha

Acho baunilha um negócio incrível, 3 gotas e faz toda diferença no bolo, no brigadeiro, na vodka. Poucas coisas são tão eficazes quanto baunilha. Eficazes e sinestésicas. Baunilha fica bem misturada, nunca sozinha. Essa é a característica que eu mais gosto na baunilha, depois da eficácia: o poder de combinar. Mas eu dizia que baunilha é sinestésica: ela encanta, entorpece e às vezes até incomoda de tão bom que é o cheiro, mas quando a gente encosta a boca, o gosto é outro. Eu achava isso de café quando era pequena: um cheiro tão bom, um gosto tão ruim. Aprendi a gostar de café, enfim. E café fica bom com baunilha. Na verdade, ontem eu descobri que a maioria das coisas do mundo ficam boas com baunilha. Menos só baunilha. Até pele, até carinho, até vontade. Achei graça que o cheiro não queria sair da minha mão, parecia brincadeira. Ai, minha nossa senhora do bolo nega maluca, eu não me concentrei o dia inteiro. Fiquei, aqui, pensando e cheirando baunilha... 

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segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Amor ainda

Pois o nosso final não tem fim, não, só tem amor

É preciso desapegar, é preciso deixar a vida levar embora o que não me pertence. Eu junto sacolas de bijuterias, roupas velhas e os meus tão estimados sapatos, mas não posso me desapegar de você. Você é como as bonecas que sobrevivem na casa da minha mãe, intactas e limpas, guardadas, mas não por mero capricho ou egoísmo meu, juro que não por isso. Eu deixaria que brincassem com as minhas bonecas, se elas permanecessem ali, sendo minhas. Eu acho que você vai rir com essa comparação, dizer que não é um objeto, menos ainda uma boneca, mas a verdade é outra: aquelas bonecas na casa da minha mãe são uma lembrança. Não do meu passado, nem dos meus aniversários, menos ainda da minha infância. Elas são, apenas e tudo isso: um aviso material daquilo que eu sou, para eu nunca esquecer o porquê de estar nesse mundo. Elas me lembram, no silêncio do meu armário, de que matéria eu sou feita. Elas não me deixam ter saudades de mim. Você é exatamente assim.  Eu não poderia me desapegar de você porque eu me esqueceria. Eu não posso me desapegar de você porque, é bem provável, eu já não me lembraria (e me perderia) daquilo que há de melhor dentro de mim.