quinta-feira, dezembro 29, 2011

éramos, nós, estreitos nós, enquanto tu és laço frouxo: tira as mãos de mim...

Todo laço é um nó, a bem da verdade. Pena que ninguém percebe. Laço ou nó ela me pergunta quando peço para amarrar o meu biquíni. Laço, eu preferia sempre, é a estética do facilmente resolvível que me comove. Tem coisa melhor que ter um problema cuja solução pisca ao horizonte?Porque soltar o biquíni sempre soa como solução. No fundo, eu gosto muito da dor quando eu sei que ela vai passar em breve. Mas a certeza é sempre altamente falsa, afinal, como eu sou boba, se o laço em sua essência é nó, pode facilmente se desprender e voltar as tão aclamadas origens de nó, basta que eu escolha o lado errado pra puxar. E adivinha? eu sempre puxo. E depois, só com a boca o problema se resolve. Cravados os dentes, eu consigo me soltar. Cravados os dentes e as unhas, se o nó for de marinheiro, eu ainda consigo me soltar. Pena que eu não quero. Em algumas amarras eu prefiro me prender, e faço de conta que o lacinho de cetim que me prende é uma algema sem chave. Assim eu espero a dor, que passará em breve (não antes de percorrer meu corpo inteiro) e desenhará um laço na minha boca, que eu chamo de sorriso.

põe as mãos em mim...

quarta-feira, dezembro 28, 2011

e livrai-nos do Djavan, amém.

Não que eu tenha algo contra o senhor Djavan, acho os dreads dele uma graça, na verdade. O que me cansa, a ponto de me dar gastura, é o aspecto Djavan que os lugares, as pessoas e até as comidas adquirem. Explico: todo barzinho que toca Djavan - e vocês sabem que são maioria - o negócio parece que vai impregnar. Olhe para o lado, o casal que pediu uma porção de batatas fritas (chopp pra ele, caipisakê de kiwi pra ela) não se olha, não se deseja, na verdade, eles nem queriam estar ali, mas assim, com o Djavan tocando ao fundo, suportam melhor a companhia um do outro. Eu levo a sério, mas você disfarça ela canta enquanto balança os ombros e olha pro namorado da moça ao lado e diz: "precisa beijar desse jeito em público?", mas queria, ai como ela queria, que a mão do moço alheio (e desejar isso é pecado) tivesse na coxa dela. Se você se esticar um pouco o corpo para aliviar o peso da borda recheada de cheddar que acabou de comer vai notar que o tio mala da grande família reunida na mesma à esquerda já abriu o botão da calça e canta, como se fosse um poema concreto, aquele velho refrão sem sentido
Pai e Mãe
Ouro de mina.
Coração, desejo, sina. 
Ele não percebe que não faz o mínimo sentido o que ele acabou de cantar. Ele percebe menos ainda que a cueca esfolada fica ridícula exibida assim, por entre uma camisa velha e um botão escancarado. 
Se nessa altura do campeonato você tivesse perdido a fome, ela voltaria com o cheiro de alho queimado que a porção de contra-filé da mesa pediu: confraternização da empresa, o típico momento Djavan. O chefe, bom homem, já espiou doze vezes o decote da secretária enquanto mandava por sms pra namoradinha adolescente do mackenzie que amar é um deserto e seus temores. No fundo, esse velho e tão pouco sábio homem não percebeu que ela insiste em zero a zero enquanto ele ainda espera o um a um
Cada um, cada um, sei lá o que te dá que não quer meu calor. Essa é minha parte predileta, que o colega mala vai fazer bullying com a sócia baranga e cantar sorrindo para o peguete dela: São Jorge por favor me empresta o dragão. Ela ri, e pra mostrar que é uma baranguinha nerd e descolada, clama aos quatro ventos "gente, essa parte não faz sentido, braille é uma língua não tem japonês em braille". Boa, baranguinha descolada, a gente sabe que é muito mais legal saber língua que ter peito, pena que só a gente sabe. Djavan é mais morno que chuveiro no 3, mais sem graça que a top model magrela na passarela da pior música do zeca baleiro.
Levante-se, pessoa cansada de Djavan. Levante-se e pague a conta, e eu vou te perdoar se por um acaso seus pés marcarem o compasso da música. Acontece, são os sinais, e a pizza que te confundem da cabeça aos pés, mas por dentro eu te devoro.  Devora quem, Seu Djavan? Gente morna assim não devora, no máximo degusta. E que gente chata é essa que petisca ao invés de comer com vontade, né? Tudo bem, vou parar de reclamar dos seus versos sem sentido, principalmente daquele que diz teu olhar não me diz exato quem tu és porque diz sim, e mais que o meu olhar, ah, seu Djavan, meu gosto musical diz muita coisa...

sexta-feira, dezembro 09, 2011

re-e-dito

Aquela ali sentada sou eu. Dobro as pernas daquele jeito porque me parece confortável, mas as mãos inquietas são a denúncia clara de que eu não estou confortável. Vocês podem claramente perceber que eu estou ansiosa, espero alguma coisa e não suporto essa espera, até porque, como vocês podem ver, o chão no qual estou sentada está bem sujo e me incomoda bastante sujar meu vestido novo, aquele que eu coloquei para dizer que, na verdade, eu não espero mais nada. Eu vou mudar a história, então. Vou embora depois do banho, porque eu faço questão que o cheiro do perfume faça escala entre nós, e arranje morada no nariz dele. É só pra torturar, mesmo, um pouco de vingança na narrativa cor-de-rosa. Ali, sentada, eu me pergunto se não estou sendo sempre injusta, mas a perfeição dele é que dizima com a minha compaixão. Como vocês podem ver, eu ainda seguro nas mãos um livro novo que conta uma nova história, sobre novos lugares. A nova história, entretanto, tem antigos personagens e eu não duvidaria se dissessem que eu apareço ali, só como tradutora de um enredo já contado. Que pena que eu tenho de mim. Minha edição especial trouxe em letras garrafais outro sobrenome, que vai fazê-lo de personagem. Eu me contento, eu juro, em traduzir, se ele quiser eu digo simultaneametnte as palavras da verdadeira autora e repito quantas vezes lhe aprouver. Se ela vai comandar a história, eu prefiro brincar de fábula, e virar uma coruja escondida em algum enredo de sabedoria. Amor não, literatura. Amor não: literatura! Eu só não posso chegar até o final, minha edição é limitada, e meu tempo é curto demais...Vou voltar para um poema concreto, agora.