sexta-feira, dezembro 28, 2007

[o texto que segue é uma co-autoria minha com o dono do meu sorriso. Pensa num poeta; eu chamo de namorado]

Você sabe que eu tenho uma relação eterna de amor e ódio com esse meu jeito exageradamente intenso, né? É complicado falar de tempo pra mim, e arrependimento.Você é sempre tão inteligente e sensato. E eu com essa mania passional...

Sim, mas se fosse diferente não seria tão interessante. Me diz, qual a graça do morno? Tem que ser quente ou gelado. A graça ta nos extremos. No contraste da coexistência deles. E isso só é mais um motivo pra sepultar essa história de arrependimento. Se a gente não vivesse esses momentos verbosos que graça ia ter o silêncio estratégico?

Eu não entendo nada de silêncio estratégico. Os teus, inclusive, me matam.

Pára de se preocupar com o que você vai sentir depois. Arque com as conseqüências depois e dane-se o resto. No fim das contas no presente não importa como as coisas chegaram ali e sim o como viver com aquilo.

Você me diz essas coisas, mas fala a verdade. Agora já faz tempo mesmo, não tem porque esconder; você me achou muito atirada?

Não. Não mesmo. Ei, sério. Juro que não.

Nem quando eu deitei no seu colo? Nem quando eu te beijei? Nem quando te obriguei a fazer comigo o que eu queria?

Não. Não. Talvez.

EU SABIA!

Mas você foi sempre tão natural. Achei idiota te achar atirada.

E eu de fato fui natural. Nem sei porquê. Tava correndo tudo tão bem. Corre tudo tão bem entre a gente.

Já faz tempo. Quando a gente conversava. Antes, mesmo, eu já tinha vontade de me enfiar através linha telefônica pra te ver. Tem vezes que palavras não bastam...por isso não te achei atirada. Você só externou aquilo que minha falsa educação não permitiria sugerir sem que você falasse antes...ainda que eu não pensasse em outra coisa. Aliás, desde a vez que você falou que gostava de deitar em colos e que fizessem cafuné fiquei com uma vontade louca de ser um colo desses.

E hoje você é o melhor que eu tenho. Eu queria te agarrar desde a hora que você pegou no meu cabelo. Mas eu nunca tive tanto medo. Nunca. Eu ia explodir, ia me desmaterializar. Eu tinha câimbras internas, não sabia o que fazer.

Mas isso é bom ou ruim?

Isso é maravilhoso. Eu ali, deitada, meio apática. ‘Mãe, o homem da minha vida vai descobrir que eu sou idiota. E atirada’

E foi rolando. Eu rolando, você rolando. A gente foi rolando até de manhã. Até hoje.

Eu lembro de tudo. De tudo que você fez comigo.

Minha memória não é tão boa. Mas eu lembro de muita coisa. O chico, o cafuné. O teu beijo. Aquela sua camisa, tão legal. Eu achei tão legal na hora.

E o jeito que você demorava me beijando? Como você fazia carinho na minha perna...

Como você arrepiou quando eu fui desamarrar sua camisa.

Deu medo. Fiquei maluca. Achei que ia ser tudo de uma vez. Eu ia explodir.

Você deveria ter se libertado. Sem repreensões.

Foi bom me segurar um pouco...e eu me preparando, pra dizer. Eu não sabia como ficar de costas pra você. E só de costas eu conseguia te enfrentar.

Eu achei um máximo.

Sério?

Sério.

Por quê?

Gostei de saber que você era passional pela vida e gostava das coisas e, principalmente, que não tinha medo de falar isso. Na hora eu achei aquilo tão lindo que eu tava fazendo qualquer coisa que você me pedisse.

E o mais legal era ver você fazendo aquilo que eu queria com aquele ar lindo de quem fazia o bem entendesse.

Mas ai é que ta.. eu fazia o que EU queria. E você também. Essa é a graça.

Sintonia. Afinidade.

É. Ainda acho que a gente vai se deglutir mutuamente. O jeito que você me acorda. Ninguém me acorda assim.

É inevitável. Você fica lindo dormindo. E eu gosto de te agradar.

Nisso a gente é parecido. Mas eu faço por mim, porque eu gosto do teu cheiro, teu gosto. Como ele fica em mim...

E aí você me beija, e fica em mim. O teu, o meu. É tão bom. É tão bonito.

Você me enterra, você quase explode.

Desculpa.

Não, eu gosto.

E eu morria de vergonha de tanta exposição.

Medo do que?

De você me ver, minhas caras, minhas dúvidas, eu tenho medo de você não gostar do que vê. Prefiro que você não olhe.

E tem como não olhar pra você?

Por isso eu te dou as costas

Eu compro um espelho.

Covardia isso.

É lindo...

Você é. Vem cá, deita aqui.

Olha, to escutando.

O que, meu coração?

É.

E o que ele ta dizendo?

Que você é louca por mim.

É, ele tem razão.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Explica aos poucos que eu sou burro. Como foi que tudo aconteceu? Não sei, meu bem, não quero falar sobre isso. Você me traia? Não. Nem em pensamento? Agora eu ter pensado no Chico naquela hora era traição? Eu to falando de chifre, mulher. Chifre duro e doído, você colocou em mim? Se tivesse colocado você teria sentido. Não provoca que eu não to legal. Você não é legal. Cara, nunca conheci alguém tão ingrata como você. Ingrata? Eu nem espalhei pro mundo aquele teu segredinho. Eu juro que te mato. Duvido. Mato. Você tem medo até do meu pai, seu idiota. Vamos lá, senhora sou independente-e-não-preciso-de-homem-pra-ser-feliz, me diz quantos foram os meus chifres. Você não vai me fazer dizer isso, no way. Nem se eu te odiasse mais do que já odeio. Então me conta em quantos caras você pensou quando a gente tava junto, colado. Não sei, mesmo, perdi as contas. VACA! Vai me dizer que você só pensava em mim... Vou, e digo mais, pensava em como te agradar, fazia tudo do jeito que você gostava. Eu gostava, é sério. E porque mesmo que tudo terminou? Porque você não tem ambição nenhuma, amor. Digo, fulano-de-tal. Eu tenho ambição sim. Ambição de que? De ser bom naquilo que eu gosto e que você ama. Viu só, eu te dei ambição. Eu te dei gosto. Eu te dei prefências! E eu tava cansada de ficar dando tudo pra você e nunca aprender nada; se você ainda fosse burro... não, era só acomodado. E isso era um suicídio pra mim. Acomodada era você que nunca me amou e ficou comigo só porque eu te idolatrava. E eu te idolatrava, de verdade. Eu te achava linda, interessante, pra mim o mundo inteiro queria te tirar de mim. Irônico, né? Foi você mesmo que me tirou de você. Mas é você que me completa. Qualquer uma te completa. Molde pronto, é fácil.
Mas eu quero que você seja feliz.
Eu também quero, linda. Então pronto, a gente vai ser amigo. E como vai a faculdade? Vai bem, ando conseguindo tudo que preciso. Eu sempre soube que você ia se dar bem. Você também merece o melhor. Beleza, a gente se vê? A gente se vê..por aí. Beijo. Beijo. Se cuida. Você também!



segunda-feira, dezembro 17, 2007

Doutor, eu to com um problema. Não, doutor, não tá doendo nada. O que eu tenho? Eu tenho preguiça das pessoas. Além disso? Bom, acho que eu tenho excesso de saudade. Sabe, seu doutor, já tá começando a me fazer mal. Ando mal humorada, espinha na cara, acho que até prisão de ventre eu devo tá tendo. Não, doutor, não vou tomar laxante. Não, doutor, nada de hormônios. O que? Claro que eu tomo água. Não, doutor, eu não exagero no álcool. Sério. Não, não juro, mas te garanto que isso não tem nada a ver, o meu problema é saudade. Do que? Virge, jesuis-maria-jósé, dum cadão de coisa. Não, seu doutor eu não sou religiosa, foi só uma expressão. Tá, vou falar. Eu tenho saudade de acordar tarde, com meu irmão me xingando por dormir doze horas enquanto ele tem que estudar. Eu to com saudade da comida da minha mãe, do cheiro, do sabor e das cores. Saudade de acordar, abrir a porta e dar de cara com aquela praça linda que tem em frente a minha casa; saudade da minha cidade, das minhas calçadas, dos meus poréns. Saudade do meu pai dizendo que a saia ta curta e da minha mãe dizendo que ele é bobo. Saudade do meu pai acordando a gente com os gritos desafinados dele cantando alguma música bonita pra minha mãe. Saudade do moço. Eu encontrei ele dentro de uma caixa; ele tinha medo de pães sírios e entendia o que eu escrevia.Não, doutor, ele não morreu, ele só fica longe. Naquele lugar onde as pessoas andam mais rápido porque não se apaixonaram. Aquele lugar que é lindo e é feio, e que se não fosse assim não seria aquele lugar. Seu doutor, será que é doença querer a voltar a ser uma menina mais idiota e crua? Não to falando que sou sabida, poxa. Só to falando de que alguma coisa eu sei, e talvez isso me faça meio mal. Sim, eu sei um bocado de coisa. Juro que sei. O que saber me faz mal? Não me faz exatamente mal. Ok, tá, eu não sei de nada. Mas queria saber de menos ainda. O que eu não queria saber? Ora, doutor, você sabe.Não queria saber daquilo que todo mundo um dia sabe. O que? Não se faz de desentendido, não não.
Do que eu to falando? É de amor, seu doutor. E que saber? Voumimbora desse lugar e não vou me tratar coisa nenhuma. Que se é pra doer, que doa. Eu gosto.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Nada, absolutamente nada. Silêncio. Eram cinco da manhã. Você ainda tava dormindo. Tão lindo, parecia exausto. Eu não aguentei, mesmo sabendo que talvez você acordasse eu lhe beijei. Não foi de leve e você nem se mexeu. Fiquei aliviada já que não tinha lhe incomodado. Beijei de novo. E de novo. Seu rosto, sua boca, seu pescoço. Beijei seu peito, sua barriga e você, novamente, nem se mexeu. Ainda dormia seu sono cansado. Comecei a falar com você. Falei tudo o que eu sentia. Como o seu silêncio eterno me incomodava. Sua frieza estava me deixando maluca. Eu ia endoidecer se a nossa vida a dois fosse o monólogo da minha insegurança. E a platéia? A platéia ia morrer de tédio. Você ia morrer de tédio. E o que menos queria era lhe entediar. Eu precisava que você falasse. Você nunca disse nada. Todos os outros sempre disseram, mas você nada. Eu sentia que a culpa era minha, talvez eu lhe sufocasse com essa minha obsessão ridícula pelo amor. Tentei parar, eu juro. Mas quando você encostava em mim, tudo voltava a ser lindo e eu precisava falar. Afinal as coisas só existem quando são contadas. Por segundos, pensei em lhe esquecer. Mas só de pensar em pensar fiquei sem ar, sem vontade, sem mim. Eu liguei: era sua chance de me dizer tudo que você nunca disse. Você disse que ia me ver, e só. Você veio. A gente se beijou, como sempre, com aquele beijo que sabemos que é melhor porque é nosso. Eua já ia começar a falar do meu dia, da minha semana, falar que te amava. Falar...e, eu não falei. Não sei porque mas não falei. Nã foi vingança, eu sabia que o meu silêncio não lhe incomodava. Parecia interminável aqueles segundos sem palavra nenhuma, e eu me desesperei, achei que você tivesse dormido. Quando eu ia me virar pra dormir quando você deitou em cima de mim e disse (sim, disse!) : "gosto de ouvir seu coração". Você deve ter me achado ridícula naquela hora, porque meu coração disparou, rápido. Você nem disse nada, ainda bem. Aos poucos fui me acalmando e entendi o seu silêncio. Todos haviam falado, mas só você que entendia o silêncio ouviu meu coração. Seria piegas se não fosse literal. Eu perdoei todas as vezes que eu esperei uma declaração sua e não ouvi. Você sorria, mas não dizia nada. Eu nunca lh amei tanto quanto quando entendi que você, na verdade, sempre disse muito mais que eu, sem falar nada. Absolutamente nada.

sábado, dezembro 08, 2007

Tinha belos olhos azuis,

e a boca carnuda.

Mazela era apática,

pensaram que era muda.

Mazela era bonita,

desde que nasceu.

Nunca fora minha.

E eu cresci sendo seu;

Por mais que me dissessem,

eu não me importava.

Gostava dela do mesmo jeito.

Mazela nem me notava.

Diziam que não era donzela

tinham dela provado.

Arisca, fez-se cela.

Mazela me prendeu sem cadeado.

Mazela não queria me querer

E doía querê-la assim

Mazela era só dela

E nada restava pra mim.

Venha, Mazela não vinha.

repudiava minha riqueza

Venha, mazela singela

Fazer-te-ei princesa

(mazela já era rainha)



Um poema revisitado e ingênuo, pra quem tá cansado dessas discussões sérias de relacionamento!
obs: leiam o poema em voz alta, pra enfatizar a cacofonia!

sexta-feira, novembro 16, 2007

"Licence my roving hands, and let them go
Before, behind, between, above, below."
(John Donne)

Não. Não encosta. Eu já disse que eu não quero que você ponha essa mão em mim. Mas eu quero que você olhe. Demoradamente. Olhe de perto. Respire dentro. Perca o ar. Assopre. Só não encoste. Não! Nem pense em me desobedecer. Sente cheiro, cada vez mais forte. Olha como tudo pode funcionar sem que você precise se mexer. E eu também não vou segurar as suas mãos. Nem pense em fechar os olhos, porque eu quero realmente que você olhe. Porque eu agora não posso mais. Já fechei os olhos e me joguei. Por isso agora eu quero que você me olhe e me conte tudo que eu já não sei.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Mude o lado. Viu? O lado B é bem melhor. Esse disco tava cansado, e agora toca outra melodia e essa não te fará dormir. Pelo contrário, vai tirar seu sono, pessoalmente ou não. Inverta. Escolha outra música. Esse lado do disco te deixa mais a vontade. Dance. Agora veja como é bom poder ser totalmente sincera. Eu sei que de uma música pra outra bate uma saudade enorme. Paciência, porque próxima sempre vale (muito) a pena. Reveja. Essa música te faz ter vontade de beber? Beba. Agora a vontade é de fumar? Fume. Entre na música pra saber como é maravilhoso quando essa música entra em você. Essa cadência, essa prosódia, esse ritmo é tão bom quando leva com ele o seu quadril, os seios, as mãos. O corpo já não é mais seu. Solte. Porque é agora que a música te abraça e faz de você um fantoche. Pode ser que venha o medo, depois a insegurança. Mas, relaxe. Tudo vai sendo bonito, tão bonito que a dança que a música te conduz te faz esquecer de todo o resto. Esqueça, mesmo. Assim é melhor. Dispa qualquer peça de roupa. Música, em verdade, prefere o natural. Deixe a música te convencer que você não tem nada melhor pra fazer do que dançar até que a pressão caia, a boca seque, o corpo esfrie. E quando isso tudo acontecer, aperte o replay e comece tudo outro vez, porque, garanto: o lado B é bem melhor.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Madrugada. De fato, se ela realmente fumasse sairia pra comprar um maço de cigarros. Se acaso ela realmente precisasse, procuraria qualquer coisa alcoólica naquela rua vazia que trazia silêncio quando ela precisava de distração. Se, por fim, ela fosse realmente corajosa ela ligaria e diria isso, aquilo e aquilo outro. Mas ela se contenta em ficar com saudade. E saudade, de verdade, abate. Ela então diz que vai estudar. Lê, relê e sequer sabe do que se trata. Se você virasse aquele livro do contrário ela não notaria.

Ela agora tirou a música que ouvia. Tirou os sapatos, o sutien. Soltou o cabelo. Ela sabe que você prefere assim. E mesmo agora que você não faz esforço nenhum pra tira-la da frente dessa tela ela lembra de você e dá um sorriso. Ingrato. Tanto você quanto o sorriso. Mas não se preocupe, logo os olhos cansam. Os óculos não fazem mais tanto efeito. Ela vai esquecer os sapatos e o sutien na sala e ela vai descalça em direção ao quarto onde ela finge que você está.

quarta-feira, julho 25, 2007

Aí entrava. Com a força de quem queria ferir tudo, todos. Como se aquele cheiro fosse capaz de transformar toda sua civilidade. E um queria ser do outro numa espécie de posse obsessiva. Tão doentio quanto poético. E aquela sublime atmosfera carnal trazia de dentro dela uma maldade desconhecida. Contorcia-se pra evitar o inevitável. E quanto mais se fundiam em um mais o controle de suas mãos diminuíam. As pernas em cãibra e os braços descontrolados estapeando o que podiam. Mordia para evitar o grito. Gritava para clamar o gozo. E nunca estaria exausta. Engolia, enchia a boca. Queria se afogar, queria vomitar. Queria contar pros vizinhos, pros amigos, pro mundo: que só assim ela se sentia bem.

sábado, julho 14, 2007

Pega tua boneca de pano. Gira. Gira. Gira. Pega tua boneca de pano e morde a boca dela. Ela não sente dor. Pega tua boneca de pano. Apalpa, alisa, belisca. Ela é tua mesmo. Pega tua boneca de pano. E fode, morde, sacode. Ela não sente. É de pano. Pega tua boneca de pano. Escarra, pisa e grita “é de pano, minha gente. Não vale nada. Não grita nem reclama”. Rasga tua boneca de pano, porque a pressa não te deixa fazer as coisas direito. Arranha tua boneca de pano, porque teu pudor te restringe a carne [e que carne é essa que digo?] e quando cansar, não custa, deita tua boneca de pano na cama porque ela ta cansada, suja e maltratada. “Mas não é de pano sua cabeça?”. Acaricia e diz que ama sua boneca de pano. “mas não é de espuma seu coração?”.Joga tua boneca de pano, que agora ela só é pano de chão.

domingo, junho 17, 2007

Você não pode ir embora. Não agora. Você não sabe do que digo. Você nunca vai saber. Mas não vá não. Não vá. Não hoje, não esta semana, não nessa vida. Não me vira as costas porque você nunca soube o que é ficar de costas pra alguém. Nua, de corpo, vestida só da vergonha e do medo. E eu tive medo todas as vezes que você abriu as minhas pernas, deixando roxa a minha virilha. Mas agora não me assusto mais. Agora eu só queria que esse roxo permanecesse roxo todo o resto da minha vida branca. Que fosse uma tatuagem feita pelo teu prazer na minha angústia, de nunca saber, ao certo, o que fazer para te acalmar. E quando exausto, você caia em cima de mim como se eu fosse a sua cama. E os meus seios seriam seus travesseiros, e eu me sentia bem, porque eu te sentia meu. Tão pequeno, tão, inconsequentemente, meu. Mas teu coração pararia de disparar e tua respiração voltaria a ser a mesma. Você vestiria a roupa e seria a tua vez de ficar de costas pra mim. Vestido de roupa e nu de alma. Porque só assim eu te reconhecia. Mas não vai embora, não agora. Minha dor é teu prazer; tua ausência meu fim. Você me quis sua e agora eu não tenho mais outra opção. Não vai. Machuca ver tua sombra diminuindo. Machuca mais que tudo que você me fez. Não vai..fica, escuta o meu sussurro...fica..fica.

segunda-feira, maio 28, 2007

E que de súbito sentiu um formigamento subir-lhe pelas costas deixando-a num frenesi incompreensivelmente bom. Deixou estar. Mesmo que achasse estranha tal sensação gratuita. Sem estímulo físico. Sem, sequer, um pensamento apropriado. Era um arrepio que não constitua sentimento nenhum. Só sensação. A sensação do arrepio, causada, pelo arrepio. Porque arrepiava-se de pensar em arrepiar. E aprendeu a, voluntariamente, arrepiar-se. Mentiu, porque era próprio dela mentir. Bem como toda pessoa que sabe arrepiar voluntariamente. Até porque não tem como uma pessoa que arrepia sem motivo não ser mentirosa. E sem tesão e nem verdade arrepiou. Todas as vezes que lhe pareceu conveniente arrepiar-se. E gemeu. Quando foi preciso. Quando foi útil. Quando não foi. E tanto arrepiou-se que, no dia de seu enterro, fecharam seus olhos, e desmancharam seu sorriso mórbido com uma dúvida cruel a intrigar os funerários, mortos se arrepiam? Paradoxal.

quinta-feira, abril 19, 2007

Garçom, traz um capuccino. Eu não quero sentir frio. Traz com ele um café amargo, que é pra não me deixar dormir. Uma cerveja gelada, pra acalmar. Um vinho tinto, pra excitar.
Traz uma vodka, eu quero esquecer. Duas pingas, embriagar sem perceber. Um copo de suco de laranja, pra sarar o resfriado. Uma dose de tequila, para esquecer meu amado. Vê se busca uma coca-cola, e me deixa sossegada. Traz uma dose de você, e eu não peço mais nada.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

O seu cabelo preto só tinha vida perto dos cachos dele. Sua boca enorme, só dizia as palavras certas quando encostada, quase colada, nos ouvidos dele. Muito provavelmente, os pés compridos só andavam em linha reta porque aqueles outros tinham trilhado, anteriormente, um caminho exato. Gostava do perfume dele, forte e marcante. Suficientemente forte pra fazer com que o dela sumisse e marcante a ponto de grudar no seu corpo, em toda a sua extensão. Inclusive em lugares que ele jamais tocara. Ainda que ela achasse que seu corpo todo já tinha sido dele. Muito mais do que supusera, muito mais do que um dia previra. Enlaçou os braços em torno do seu pescoço e disse, desesperadamente, para que ele não a esquecesse. Levantou-se e foi. Não podia mais ficar...Não sabia bem porque, mas já estava de costas pra ele e dizendo um adeus de quem não queria ir. Quando sua silhueta já se confundia com o corredor escuro, ouviu um soluço. Não dele, nem dela. Era um choro que rompia vindo de um não-se-sabe-onde, mas que, naquele minuto, achou-se vir do relacionamento agora materializado. Eram os sonhos, as noites-não-dormidas, os beijos, abraços, gritando para que ela não acabasse com aquilo. Virou de costas e sorriu. Rendeu-se ao beijo dele e disse que tinha mais alguns minutos. Não ia embora agora, e voltaria. E voltaria todas as vezes que pudesse e não-pudesse, e diria todos os dias, ainda que em pensamento, que era louca por ele. Louca por eles. Louca pela loucura deles. Completamente apaixonada.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Vamos dar um tempo a poesia/prosa e vamos desabafar.
Ainda mais que isso tá mais parado que louça em república mista.

Eu to com medo. Muito medo. A verdade é que eu passei um ano inteiro sonhando com a UNICAMP, era, é, sempre foi a minha primeira opção. Ainda que todo mundo prefira a USP, e que digam que São Carlos é bem melhor que Campinas. Eu achei que tinha tomado pau na primeira fase, foi quando eu descobri que não, e retomei todos os sonhos que eu acumulei diariamente esse ano. E eu to a um dia de descobrir se meu sonho vai vir sorrindo ou se eu vou sair chorando de uma decepção. Por mais que digam que cursinho faz bem. Foda-se, eu prefiro me ferrar na faculdade a amadurecer no cursinho. Mas sim, tem suas vantagens..É mais um ano do lado do Bruno, e meu cabelão que continua intacto.
Eu queria escrever pra saber que alguém, em algum lugar do mundo, vai compartilhar o desespero que me tomou.

mas vamos lá. Eu sobreviverei.
eu acho..
=)

sexta-feira, janeiro 12, 2007

...quando você faz a minha carne triste quase feliz...(Zeca Baleiro)


O problema mesmo é o perfume. Eu nem lembro dos olhos bonitos, nem do jeito doce, mas o perfume fica. Bem provável eu não lembraria de você se não o tivesse. Mas o seu abraço deixa o perfume, e o perfume não me deixa mais. E insiste em ficar em mim ainda que venham banhos e chuvas. É nesse momento, que, cansada de me apaixonar por um perfume, eu me lembro dos olhos, que são lindos. E lembro do sorriso, que me obriga a sorrir. E assim lembrando, eu me perco, sem perceber que esqueci do perfume. E o perfume só tinha sido uma grande desculpa pra enganar a mim mesma, e deixar o tempo escorrendo, lembrando de você.

Não vou mais mentir pro acaso.
Nem perder meu tempo explicando
Não trarei no meu rosto pranto,
Nem no meu relógio atraso.
E se eu ficar distante
Não quero saber o tanto que machuca
Vou esconder meu rosto
Toda vez que te parecer maluca.
É que foi, sem que eu pudesse deter.
E assim indo, fiquei perdida
e agora me resumo em pedir
não vai, por favor, fica.

terça-feira, janeiro 02, 2007

‘Vou bater na sua porta de noite completamente nua. Quem sabe então assim, você repara em mim.’

Ela caminhou, então, seguindo o cheiro da bebida que sabia que vinha de sua boca. Sozinho, tomara seis ou sete taças de vinho. Sozinho, teria pensado nela em cada gole que não vinha acompanhado de um beijo. Não era, entretanto, segura o suficiente pra acreditar que foi por ela que ele perdera todas as grandes oportunidades. Pra acordar e encontra-la de costas, esperando um motivo para virar de frente e dizer, com os olhos inchados e ainda assim bonitos, que o dia estava lindo e que seria perda de tempo continuar mais naquela cama, ainda que se espreguiçasse toda e demorasse horas para se mover dali.

Continuou caminhando, viu a sombra dele na janela. Como supusera, com uma taça de vinho. Acontece que segurava duas taças. Estranhou. Por um segundo chegou a crer que aguardava sua presença. Tomou fôlego e quando se viu diante da escada, pronta pra subir e dizer a ele que, infelizmente, não conseguira esquece-lo, viu surgir uma outra sombra. Mais delicada, mais torneada, tirando a taça das mãos dele e ele do seu coração. Ao fim, virou de costas e jurou a si mesma nunca mais procurar a ninguém. Mas estava frio, chovia uma garoa fina e ela, pouco ou quase nada vestida, tremia. Seguiu outros passos, guiada não mais pelo cheiro de vinho, mas por um leve aroma de vodka, que saia de outra boca, saído de outra taça, em outro lugar.

‘Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés e não faço outra coisa do que me doar’