Batatais, 17 de novembro de 2006.
Ilmo. Desespero.
Tenho convivido muito com o Senhor. Há dias penso em lhe escrever, mas não tive coragem suficiente. E no nosso encontro diário, andei substituindo palavras por lágrimas. Pedir, para mim, é sempre difícil. Sou orgulhosa demais pra dizer aos outros que preciso de ajuda. Entretanto, Senhor Desespero, já não sei conviver sem dizer-lhe o que sinto.
Eu não o amo. Nunca amei. Eu não o quero. Nunca quis. Então diz por que, diariamente, vem você me ver e me tomar pra si? Então explica, porque já não entendo a razão pela qual me faz sua, sem que eu permita. Eu não suporto mais a sua presença. Eu não suporto seu hálito azedo. Não vou mais cair nos seus braços.
O Senhor roubou meu sono, minhas unhas pintadas, minha aparência saudável. Tirou de mim os amigos e os amores. Fez-me totalmente sua. Egoisticamente sua. Sei que agora vive com a minha alegria, e eu sobrevivo com a ausência dela. Devolva-me um pouco do tudo que eu tinha, e eu ficarei grata. Imensamente grata. Não fuja com meus olhos, deixando as olheiras expostas. Não suma com o meu sorriso, deixando a boca murcha sussurrando alguma música, que sobrevive da memória que o Senhor ainda não apagou. Fica, Senhor meu, se for pra ficar em silêncio. Do contrário, vire as costas e parta. Que por essa despedida tenho esperado todos os meus dias.
Não vou o acusar de mais nada, caso o Senhor contente-se em ir embora. Apresento-lhe a porta de saída, desejo-lhe, inclusive, uma boa jornada. Apenas peço, busque outro canto pra repousar. Porque as minhas costas não suportam mais o seu peso.
Atenciosamente,
Marcella.
Um comentário:
*
Postar um comentário