sexta-feira, abril 25, 2008
sexta-feira, abril 18, 2008
No dia em que você foi embora eu achei que eu ia também. Ia, não sei pra onde, mas ia. Ia ficar louca, ia secar. A gente sempre acha que não tem mais lágrima pra chorar. Mas tem. Aí depois a gente acha que não vai parar de chorar nunca. Mas uma hora a gente pára. Quando você foi embora eu achei que nunca mais entenderiam os meus vícios. Então me viciei mais, já que era impossível alguém entender. Quando você foi embora eu achei que você ia voltar. Mas uma hora a gente entende que as coisas são definitivas. Eu achei que você ia vir com aquele de papo de eu-só-tava-confuso, mas você não veio e nem disse nada. Quando você foi embora, naquele dia de tarde, eu achei que tava indo embora a pessoa mais interessante que eu conheci. No outro dia de manhã, eu tive certeza. Quando você foi embora eu tentei me livrar de você. Guardei seus retratos, sua letra, seus desenhos. Tirei os lençóis, troquei de toalha e quando eu sentei exausta, jogada no colchão, eu entendi que era de mim que vinha seu cheiro. E ai eu pedi pra não ser mais eu. Eu liguei para os amigos, para a pizzaria, e para cerveja. Eu disse que tava bem e abracei as pessoas. Muito antes de você ir embora eu já sabia que você ia. A pizza chegou e eu comi quase tudo sozinha. E eu vomitei tudo, sozinha também. Eu bebi todos os outros dias que não te escrevi. Eu escrevi enquanto bebia, e nunca mandei.
Quando você foi embora eu fiquei branca, que nem uma folha de papel. E eu sabia que eu ia continuar assim, já que eu não ia ter mais quem desenhasse
Quando eu entendi que, de fato, você foi embora, eu me maldisse. Eu achei que a culpa foi minha, eu não me perdoei. Quando você virou de costas eu pensei que eu nunca devia ter virado as costas pra você. Quando você foi embora eu me prometi milhões de coisas e lembrei que você nunca me prometeu nada. Ai eu sorri, porque quando você foi embora eu percebi que você nunca teve aqui. Eu liguei pro mundo pra contar isso...mas o mundo não me atendeu.
quarta-feira, abril 16, 2008
terça-feira, abril 15, 2008
Um sonho, de uma vida: Eu acordaria amanhã sem tristeza nenhuma, olharia no espelho e a sua imagem ia sumindo. Olharia as nossas fotos e você, aos poucos, não estaria lá. Meu corpo ia perdendo seu cheiro, minhas mãos perderiam a forma das suas e se acostumariam com as outras que as seguram. Meu corpo não teria marca alguma, e eu não sentiria dor quando ouvisse as músicas que eu sempre gostei de ouvir. Embaixo das minhas unhas eu só teria uma poeira aleatória vinda do móvel sujo e não pedaço da tua pele. Eu já não escrevia na esperança desesperada que você lesse e muito menos falaria desamparado sonhando que você me ouvisse. Eu não sentiria saudade, nem passaria os meus dias futuros revivendo os passados. Eu não lembraria seu rosto, nem o modo como sorria de lado, nem como você cantava errado música nacional. E quando um dia me perguntassem de você eu diria: 'Não sei de quem você tá falando'. E seria verdade. Eu não saberia, ainda que ouvir teu nome enchesse meu peito de uma felicidade esquecida.
Sonhos.
São sempre sonhos.
Mudam-se apenas os sonhadores e as camas. Do mais, são sempre sonhos.
Dream, a little dream.
quinta-feira, abril 10, 2008
Eram cinco da manhã, você não queria viajar. Chegar lá cansada, já na hora da aula, ai que preguiça. Não podia esquecer de por o brinco. Aquele de pena, sua amiga te deu, lembra? Amiga... era como se fosse irmã, como se fosse você mesma. Aquele brinco, que nem era caro, era como se fosse um presente seu pra você mesma. Você colocou o brinco, era mais fácil viajar usando ele.
Tantas horas de viagem, e eu sei que você consegue dormir, na hora nem sente, mas da um cansaço, né?
Você dormiu, virou pro lado da janela que era pra não sentir o cheiro de cigarro do moço ao lado. Afinal, cigarro de dia fede e dá nojo e você, senhora hipocrisia, só fuma de noite. O brinco, do lado direito, o mesmo que você se virou.
Dormiu.
Acorda, menina, você já ta na rodoviária. Cara amassada, meu deus como é quente essa cidade. Ajeita o cabelo que nunca se ajeita. Pronto. Eita, onde ta o brinco?
Não ta na cadeira, não ta no chão, nem no banco ao lado.
-Minha senhora, o motorista pediu que a senhora se retirasse.
Desespera. Procura, vai, você consegue achar. Olha no banco da frente, no corredor. Aquele filho-da-puta-fumante-fedido que tava do seu lado. Certeza que ele levou o brinco.
Como vai se olhar no espelho de novo? Você perdeu o presente. O presente que eu você deu a si mesma...
Desespera, mulher, desespera.
-Minha senhora o ônibus tem que partir, faça a gentileza de descer?
DESESPERA!
Moço, vê se entende, ela perdeu o brinco, não é fácil, ta?
-Minha senhora, era algo de valor?
Muito, muito valor. E ela perde e você nem entende. Vai, menina: desespera.
-Se a senhora me disser o que é, posso ajudá-la.
Ajuda-la, sim. Com você ai, só lhe resta desesperar..
Um brinco de pena, várias peninhas azuis, verdes, da cor dos olhos dela. Acha pra ela moço, ou ela surta. Apesar de que ela devia mesmo era desesperar.
-Um brinco de pena? E era de valor? Bom, volte aqui amanhã e procure na sessão dos achados e perdidos.
Ninguém devolveria aquele brinco, ta na cara dele que ele é diferente. Logo, desespera.
Sem brinco, a cara se não ta mais amassada agora ta vermelha. Cara de quem chorou.
Agora ele te liga, pergunta se você ta melhor do resfriado do final de semana.
3 chamadas perdidas.
Ai, como ele te ama.
Mãe, pai, 144.
Sua mãe ligou pra falar que seu pai vai ligar avisando que a operadora vai ligar dizendo que vai cancelar seu número.
Genial. Ele não te ama. Vai, menina, desespera.
Moço, o preço do metrô subiu? Meu deus, agora é doisevinteecinco e ela só tem doisevinte. Moço, deixa ela passar, coitada. Nota de cinqüenta aceita? Aceita, vai, moço.
Cobrador filho-da-puta. Aposto que fuma de dia. Não se pode confiar em quem fuma de dia. Se você ao menos tivesse com o seu brinco...
Desespera. Pode desesperar que é a única coisa que resta. Des-espera, mesmo. Que esperar que o mundo entenda, mulher, é tempo que esvai...