E que de súbito sentiu um formigamento subir-lhe pelas costas deixando-a num frenesi incompreensivelmente bom. Deixou estar. Mesmo que achasse estranha tal sensação gratuita. Sem estímulo físico. Sem, sequer, um pensamento apropriado. Era um arrepio que não constitua sentimento nenhum. Só sensação. A sensação do arrepio, causada, pelo arrepio. Porque arrepiava-se de pensar em arrepiar. E aprendeu a, voluntariamente, arrepiar-se. Mentiu, porque era próprio dela mentir. Bem como toda pessoa que sabe arrepiar voluntariamente. Até porque não tem como uma pessoa que arrepia sem motivo não ser mentirosa. E sem tesão e nem verdade arrepiou. Todas as vezes que lhe pareceu conveniente arrepiar-se. E gemeu. Quando foi preciso. Quando foi útil. Quando não foi. E tanto arrepiou-se que, no dia de seu enterro, fecharam seus olhos, e desmancharam seu sorriso mórbido com uma dúvida cruel a intrigar os funerários, mortos se arrepiam? Paradoxal.
segunda-feira, maio 28, 2007
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