...quando você faz a minha carne triste quase feliz...(Zeca Baleiro)
O problema mesmo é o perfume. Eu nem lembro dos olhos bonitos, nem do jeito doce, mas o perfume fica. Bem provável eu não lembraria de você se não o tivesse. Mas o seu abraço deixa o perfume, e o perfume não me deixa mais. E insiste em ficar em mim ainda que venham banhos e chuvas. É nesse momento, que, cansada de me apaixonar por um perfume, eu me lembro dos olhos, que são lindos. E lembro do sorriso, que me obriga a sorrir. E assim lembrando, eu me perco, sem perceber que esqueci do perfume. E o perfume só tinha sido uma grande desculpa pra enganar a mim mesma, e deixar o tempo escorrendo, lembrando de você.
Não vou mais mentir pro acaso.
Nem perder meu tempo explicando
Não trarei no meu rosto pranto,
Nem no meu relógio atraso.
E se eu ficar distante
Não quero saber o tanto que machuca
Vou esconder meu rosto
Toda vez que te parecer maluca.
É que foi, sem que eu pudesse deter.
E assim indo, fiquei perdida
e agora me resumo em pedir
não vai, por favor, fica.
sexta-feira, janeiro 12, 2007
terça-feira, janeiro 02, 2007
‘Vou bater na sua porta de noite completamente nua. Quem sabe então assim, você repara em mim.’
Ela caminhou, então, seguindo o cheiro da bebida que sabia que vinha de sua boca. Sozinho, tomara seis ou sete taças de vinho. Sozinho, teria pensado nela em cada gole que não vinha acompanhado de um beijo. Não era, entretanto, segura o suficiente pra acreditar que foi por ela que ele perdera todas as grandes oportunidades. Pra acordar e encontra-la de costas, esperando um motivo para virar de frente e dizer, com os olhos inchados e ainda assim bonitos, que o dia estava lindo e que seria perda de tempo continuar mais naquela cama, ainda que se espreguiçasse toda e demorasse horas para se mover dali.
Continuou caminhando, viu a sombra dele na janela. Como supusera, com uma taça de vinho. Acontece que segurava duas taças. Estranhou. Por um segundo chegou a crer que aguardava sua presença. Tomou fôlego e quando se viu diante da escada, pronta pra subir e dizer a ele que, infelizmente, não conseguira esquece-lo, viu surgir uma outra sombra. Mais delicada, mais torneada, tirando a taça das mãos dele e ele do seu coração. Ao fim, virou de costas e jurou a si mesma nunca mais procurar a ninguém. Mas estava frio, chovia uma garoa fina e ela, pouco ou quase nada vestida, tremia. Seguiu outros passos, guiada não mais pelo cheiro de vinho, mas por um leve aroma de vodka, que saia de outra boca, saído de outra taça, em outro lugar.
‘Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés e não faço outra coisa do que me doar’