domingo, dezembro 17, 2006

Repare nela. Viu? Não é feia. Até tem seu charme. Caso lhe interessasse, você repararia como é legal quando, desajeitada, não sabe cruzar as pernas e as deixa bem à mostra. Se, no entanto, ela não tivesse lhe agradado, deixaria sua risada escandalosa ser incômoda aos seus ouvidos. Engraçado o modo como ela contrai os olhos a fim de enxergar, não é? Coitada, é míope. Mas você nem reparou que a descendência dela fica nos olhos. Tudo bem, alguém que a ama reparou, e isso foi suficiente. Ela não liga se alguém despreza suas unhas vermelhas. Já percebeu como tem os pés grandes? Enormes, diria ela. Tem as mãos assim, meio de bruxas daquelas compridas e brancas e sempre com as unhas enormes pintadas, com dedos enfeitados por gigantescos anéis. De bruxa, todavia, nada tem. É, vez ou outra, até altruísta. Beija e abraça muito a quem guarda carinho. Acho que é pra ver se eles nunca desgrudarão do colo dela. Adora colos essa menina. Deita e se espalha em cima de quem quiser mexer no seu cabelo. Um cabelo que tem sempre o mesmo cheiro. Preste atenção que a boca sempre está vermelha. Ela gosta de batom. Ela gosta quando o seu perfume cobre o perfume dela. Porque é quando ela se esquece dela e lembra de você. Você morre de medo de gostar dela. Ou porque ela é muito diferente de você, ou porque ela é exatamente tudo que você mais repudia em si. Não tenha medo de se aproximar, ela não morde, só às vezes. Ela não machuca, só às vezes. Ela mente, isso sim. Mas mente por trás dos óculos e é por trás destes que ela também chora, que é pra não dizer ao mundo que ela morre de medo de tudo.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Sobre mesas e camas.


Virou pra amiga e disse, com um sorriso etílico nos lábios:

-Querida, homens são exatamente como bebidas alcoólicas.

A outra, que sóbria não era de grande perspicácia, comprimiu os olhos num gesto de quem não compreendia, e retrucou.

-Amiga, você ta bêbada.

Seguiu um acesso de risos.

-Bêbada eu to, mas vê só: você vicia em cerveja, quer largar a cerveja e se vicia em vodka, troca a vodka pelo whisky, o whisky pelo martini, que é substituído pela pinga e assim...vai indo indo.

-Tá, mas aonde é que o homem entra agora?

Risadas maliciosas fizeram valer o teor do comentário.

-Entra que com eles é exatamente assim. Eu me apaixono pelo A, e o esqueço com o B, troco-o pelo C, que me faz sofrer, mas que é curado pelo D, e quando a gente vê o alfabeto terminou e você já ta até repetindo as letras. Um vício cura o outro, mas no fundo, é tudo a mesma coisa. Homem, ou, no caso CH3CH2OH. O que muda, mesmo, é o cheiro e o acompanhamento, a essência e a ressaca são sempre as mesmas.

-Amiga você é um gênio.

-Não, querida, eu sou é mulher.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Olhou bem em seus olhos e disse, com a voz cortada pelo soluço:
' Por que nunca fizeste nada?'
Ele não soube responder. Medo de dizer covardia e confessar, a si próprio, que não era um terço do que achava que era.
Ela também não queria respostas, sabia que a pergunta, na verdade, era pra si mesma, e ao olhar nos olhos dele, procurava o reflexo da própria alma.
Diz alma dela, por que foi que ela não fez nada?

'Calma alma minha, calminha, não era hora de partir'
Zeca Baleiro

domingo, dezembro 03, 2006


Eu te beijo. E se nesse beijo eu deixar todas as minhas expectativas? Deixo.

Se, acaso, nesse beijo eu perder todo o meu desejo? Valerá ainda o beijo? Esqueço.

O beijo pelo beijo, beijo, pela mão. Beijei, então. Diz-me, agora, por que não beijaria?

Beijo por hora. Beijaria por dias. Beijo por ser tu e por ti me perderia.

Beijo pelo mais-que-perfeito. Beijara... Beijo pelo imperfeito, beijava... beijo o imperfeito. Beijo o sem jeito. Beijo por não saber beijar. Por não saber beijar, não beijo. Beijo a barba. A barba me afaga. O afago que propicia beijo. O beijo que afoga. O beijo que ilude. Iludi por ser teu. Mas o beijo não é teu. Roubei da tua boca, tomei pra mim. Pronto. Teu beijo é meu. Meu beijo continua sendo meu, e o pedido, o mesmo...

Beija eu?