quinta-feira, janeiro 10, 2013

A tua presença.

Te vejo aqui, na minha frente. Eu posso te tocar e é como se você escapasse infinitamente. Quem é você, agora, para mim? Eu não te reconheço mais e não é por culpa tua. Fecho os olhos e toco o teu rosto e sua expressão de nojo enfia uma faca na minha cervical. Eu não posso continuar andando assim. Eu perdi, enfim, os movimentos. Não sinto minhas pernas, não sinto os meus braços. Só os meus olhos se movem e eu não sinto absolutamente nada. A dor passou. Eu não sinto nada além da tua presença. Como se você me lembrasse todos os minutos do meu dia que eu sou isso: olhos que se movem e que não podem fazer nada. Nem se levantar, menos ainda seguir em frente. E, por favor, não me olha assim. Esses teus olhos tem um formato que me convenceram por muitos dias que era paixão. Talvez um dia tenha sido. Hoje, no entanto, vendo assim de tão perto esses teus olhos é como se você dissesse o quanto sente pena de mim. Da minha triste e equivocada existência e da falsa força com que carrego tudo que às vezes desaba sobre os meus ombros. Meus ombros, agora, não carregarão mais nada além de alguns olhares de condolência.

Você, que é infinitamente bom, gentil e altruísta, vai me socorrer. Você vai tentar me colocar de novo de pé. Mas eu não tenho as pernas mais, lembra? Eu não tenho os braços. Perdida a cervical, eu não sou mais nada. Eu nem posso mais correr em busca de qualquer coisa que me console da pessoa que eu me tornei. Talvez esse seja o meu castigo eterno: sentir a dor do mundo dentro de mim e seguir anestesiada, imóvel. Eu correria até você agora e diria o quanto eu ainda te amo, o quanto eu ainda te quero. Mas eu não posso correr, eu não posso sequer te abraçar. Eu vou seguir parada aqui, esperando você voltar. Sigo, a partir de agora, sem falar nada enquanto os meus olhos procurarão em volta a única coisa que ainda me mantém viva: a tua presença.

sexta-feira, outubro 19, 2012

dor da gente.

"A dor da gente não sai no jornal". Nem tem nome, a dor da gente. Ontem ela cantava, vibrava e comprava um livro novo pra ler debaixo da sombra. Tinha todas as razões do mundo para comemorar, até que veio uma - somente uma - pra desmemorar e pronto: doeu. Uma razãozinha só que nem tinha razão de ser criou a dor e a dor da gente não tem nome. Coisas sem nome ficam difíceis de serem explicadas A gente tenta, tenta de novo e nada de conseguir explicar, dar qualquer sinônimo ou titubear pra lembrar "como se diz em português"? Não há, temos provas, nenhuma língua no mundo capaz de nomear a dor. Nem alemão. Nem árabe. Nem aramaico.
A dor que segue sem nome encuca a cabeça da gente. Ontem, carregando o livro recém-comprado e a caminho de não-tinha-certeza-donde, pegou um ônibus e se sentou ao lado de uma moça bonita, que elogiou gentilmente a sua roupa. Ela forçou um sorriso: na escala das alegrias e das dores, alegrias contabilizavam muitos pontos a mais, mas, ainda assim, perdia em intenções de voto para aquele fim-de-tarde e início de noite de primavera.
O ônibus que sacolejava muito misturava as ideias dentro da cabeça dela, que já não raciocinava com precisão: então, apoiou a mão na catraca e não viu o momento que o rapaz - muito bonito ele, também - passou e prensou seus dedos.
Ela chorou, chorou, chorou. Não doera tanto assim e o rapaz, sem saber de nada, pediu um milhão de desculpas. Ela sorria chorando e disse ao rapaz que "por favor, não foi nada, já passa". Claro que prensar o dedo dói, mas naquele momento - ainda que não tivesse nome - sua dor tinha uma causa mais justa, concreta e sincera. Então chorou o choro guardado ao longo do dia inteiro, legitimada pelo dedo que agora estava entre o vermelho e o roxo.
Ao descer do ônibus sorriu e disse tchau para o rapaz, que ainda estava desconsolado. Só não disse "muito obrigada" porque tinha medo de parecer masoquista demais. Será que não era?

sábado, julho 28, 2012

Recado para Diorina (mas serve para Mackerina e Chanelina)

Diorina, me diz, para que essa maquiagem toda? Faz dias que eu não percebo que cor tem embaixo dos seus olhos. Olheira não é vergonha não, menina, é sinal de noite bem acompanhada (ou de insônia pensando em sua sina). Mas se tu passou a noite acordada, e a companhia não foi minha, esconda mesmo essas olheiras, antes que a noite acabe em carnificina.

Volte, aqui, Diorina. Duvido que essa cara toda só contenha 1 grama. É muito reboco para pouca pele. Como é que a gente vai saber, amada minha, se aquele beijo no cangote valeu ou não um arrepio nas bochechas? Aliás, com essa maçãs do rosto assim tão vermelhas eu fico confuso: não se te mordo ou me mordo de ciúme: fica se ruborizando toda até para pedir o pão da esquina. Ai, Diorina...

Diorina, eu sei que tu é minha bonequinha, mas não carece de cílios tão grandes, não. Assim teu olho fica mais longe do meu e você num pode nem chorar depois daquele filme lindo. Fica parecendo o corvo e, ai, vida minha, esse bicho me bota nervoso.

Olhe, Diorina, quem dá corretivo é Deus! Largue o pó ou eu largo de você. E te chamo de palhaça com justa causa. Base na sua vida sou eu, mulher! Apoia aqui que eu te levo onde tu quiser. Diorina, que susto você me deu semana passada, achei que aquela minha pinta predileta tinha sido dizimada.

Vem cá, Diorina, não diz que eu sou insensível, não. Molha esse cabelo que eu gosto dele bagunçado, e pra tu não reclamar aqui do seu amado, eu lhe digo: passa um batom bem vermelho e vem manchá-lo todo aqui comigo.





segunda-feira, julho 23, 2012

Que é melhor não fazer planos pra você.

Amigo 100.

Adoro essa música, e me identifico com todos os versos dela. Até na versão do Sorriso Maroto a letra faz todo sentido. Sou uma pessoa de planos, e de expectativas (para o seu delírio, amigo tão querido). Se não faço planos, fico meio assim: sem sentido, sem querer. Eu preciso fazer planos, porque é deles que eu alimento as áreas da minha vida. Foram dos meus planos mais confusos que nasceram as minhas melhores realidades: independentes dos outros. E elas não foram por acaso. O acaso é meu melhor amigo, e não exagero em dizer que ele seguiu direitinho os planos que andei fazendo. Eu planejo até a roupa do dia seguinte. Mas e se chover? Não me importa escolher outra roupa, porque eu já dormi tranquila por ter escolhido uma. Eu vou planejar o caminho da viagem. E se o google maps errou a rua, ok. Pelo menos eu sai de casa sabendo o que eu fui fazer. Planos e expectativas, caríssimo amigo que ganha tudo no master, andam de mãos dadas, e não posso viver sem um ou sem o outro. Sabe é uma pena quando os meus planos envolvem as pessoas, às vezes pessoas como você, que não creem em planos e que mal planejam o dia seguinte. Eu sei, e você me confirma, que não é menos amor que as pessoas não se incluam nos meus planos e não me incluam nos delas. Plano é tipo nariz, cada um com o seu. E enquanto uns se preocupam demais, outros nem lembram que existe. Mas, sabe, é que eu acho tão gostoso quando um nariz encosta no outro e faz assim um beijinho de esquimó. Plano com plano dá um gosto de viver. Não queria ser repetitiva, não, nem falar do já falado, mas andei planejando e queria te dizer, amigo tão querido, que você tem razão: a natureza humana é nosso eterno carrasco. Ela brinca de matadouro com minha alegria. Alimenta, engorda e depois abate. Saudade, amigo! Tô planejando aquela cerveja...


domingo, junho 10, 2012

mini declaração mórbida de amor.

às vezes eu tenho vontade de te matar, 
mas nem vivo sem você, 
nem tenho vocação pra suicida.

domingo, maio 27, 2012

poema do dia de hoje.


A gente não liga mais para o dia
Quatro vezes, mas é pura covardia
um alarde, eu diria
mas não tenho feito
nada.
Absolutamente,
nada
a respeito.

Poderíamos morrer de saudade,
Mas preferimos os livros
Morrer é tão banal,
E a gente é tão
Tanto
Tão.

Escroto, sem tanto pesar fico
Mais leve, mais exposta,
O importante é calar o sentimento
Não importa que as pernas
Estas sim
Permaneçam à vista.

E levemente abertas, caso haja interesse,
De um lado, afinal,
O único interesse que talvez permaneça
Seja sensual.

sábado, maio 26, 2012

Boa noite.

Olho pra você e vejo exatamente tudo que eu preciso, na dimensão exata do que me propus, um dia, procurar. Tremo absorta, você é um acerto tão grande de probabilidades que parece um erro, tipo a questão mais fácil do vestibular, que sempre tem cara de pegadinha. Eu sei de pelo menos 5 pessoas que gostariam de estar no meu lugar agora e, ainda assim, sou completamente incapaz de fazer algo direito. Olho pra você e é como se você quisesse que eu ficasse quieta, que não dissesse coisas tão injustas. Nosso senso de justiça é diferente, temos limites opostos para o que chamamos de justo. As minhas causas são só consequências pra você e ficamos diante do mesmo dilema todos os dias: como é que você pode me amar assim? Eu não sei, e se eu soubesse bem provável seria mais fácil para nós dois, mas essa dúvida me consome tanto - e tantas vezes- que fico completamente perdida. Você ainda me admira? Fico me perguntando se essa cabelo médio e essa profissão pouco enriquecedora não te fazem me olhar como mais uma. Convenhamos, eu era mais charmosa, antes. Meu atrativos eram mais e outros, mesmo que minha conta bancária fosse bem menor. Dei uma risada alta escrevendo isso, tenho amigas que achariam um absurdo essa relação de oposição. Volto a olhar pra você, deitado no escuro, na minha cama. Eu te vejo melhor no escuro, combina mais com o seu silêncio. A cama tá ficando velha, eu acho que eu também. Enquanto você parece que parou no tempo e continua ali, tão bonito e vivo, que seria até pecado eu te obrigar a me acompanhar. Quantos dias seus eu ainda vou estragar?, fico me perguntando enquanto passo os dedos machucados nos meus cabelos já começando a esbranquiçar. Eu 'tou cansada, eu sou um erro antiquado com cara de vintage. Eu engano, assim de óculos de sol e batom vermelho, até parece que eu vou surpreender. Mas não, nem as minhas dedicatórias te surpreendem mais. Vou embora sem enxergar direito o que você quis me dizer à distância: faz muito barulho em volta de você e os sorrisos no ar, igual no filme da Alice, me enlouquecem. Eu não consigo te ouvir, e você não pode reconhecer minha voz. Amanhã vou te perguntar se a festa foi boa, você vai dizer que sim, e, nesse mesmo instante, os sorrisos de gato da Alice vão surgir a sua volta, lambendo a boca e me lembrando, como se eu fosse realmente louca, do que eu perdi enquanto mantinha meus olhos voltados para baixo, bisbilhotando meu próprio decote, tentando me encontrar.